Young man with shining inside his chest. Concepts of soul and personality.
A descrição do morrer
Antônio Cezar Lima da Fonseca
aclfonseca55@gmail.com
A extinção do princípio vital só atinge a parte física do ser
Sabemos que a morte não é uma opção, nem uma possibilidade, e, em nosso tempo, o primeiro que cuidou da psicologia e da educação para morte foi Allan Kardec.[1]
Em O Livro dos Espíritos, Kardec compara a morte — o desencarne— à cessação do movimento de uma máquina desorganizada, tendo os Espíritos concordado, dizendo que se a máquina está mal montada, o corpo adoece e a vida se extingue.[2]
Em O Céu e o Inferno, o Codificador apresenta as maneiras pelas quais vimos o fenômeno da morte como justo.
Para o Espiritismo, afastadas as narrativas poéticas de uma “parada em longa viagem”, a morte é a extinção do princípio vital e quando o fluido se esvai ou é adulterado nas partes principais da constituição física dos seres, ocorre o que chamamos de morte, que só atinge a parte física do ser,[3] afirmando-se que a extinção da vida orgânica provoca a separação da alma e do corpo, pela ruptura do laço fluídico que os une.[4]
Em linguagem científica, poética e espiritual, descrevendo sua experiência pessoal, quem melhor relatou a morte foi a Dra. Elisabeth Kübler-Ross.[5]
Disse o Dr. Rüdiger Dahlke: nenhuma médica neste século despertou tanta consciência no que se refere ao tema.[6]
Segundo Elisabeth, a experiência da morte é a mesma para todos, seja um aborígene australiano, um hindu, um muçulmano, um cristão, um ateu e não depende da idade, nem da situação financeira, social ou cultural da pessoa: morrer, assim como nascer, é um processo normal pelo qual todos os seres humanos terão de passar um dia.[7]
Quando conversou com crianças moribundas, nos EUA, criou uma didática descrição sobre a morte e o morrer, explicando que é composta de três estágios, em processo similar ao que ocorre quando uma borboleta deixa o casulo.[7]
Conta-se que a psiquiatra suíça adotou a borboleta como alegoria porque crianças, em Varsóvia, Polônia, no campo de concentração Majdanek, riscavam borboletas nas paredes de tábua dos barracões, como se já soubessem que, após a morte, se transformariam em algo sublime.
Assim, Elisabeth Kübler-Ross compara o casulo ao corpo humano: uma morada temporária; morrer é como mudar-se de uma casa para outra mais bonita.[7] É o primeiro estágio; alimentado pela energia física, o casulo necessita de um cérebro funcionando e de uma consciência em atividade.
Tão logo o casulo (corpo físico) esteja danificado, em condição irreparável (por doença crônica, terminal, câncer, suicídio, assassinato, ataque cardíaco etc.), não se consiga respirar e não seja possível medir ondas cerebrais ou tomar o pulso, não se dispõe mais de uma consciência em atividade, então, o casulo liberta a borboleta, que é a alma (ou Espírito, como dizem os espíritas).
A liberação da borboleta do casulo (corpo) não significa, necessariamente, que se esteja morto, pois pode retornar à vida corporal. Significa apenas que o casulo já deixou de funcionar.
Tendo a borboleta deixado o casulo, haverá sensações importantes, das quais é bom que tenha conhecimento, a fim de não ter mais medo da morte. É o segundo estágio, alimentado pela energia psíquica, que ocorre quando a borboleta deixa o casulo.
Nesse segundo estágio, assim que a alma deixa o corpo, sustenta a médica: pode-se captar tudo o que acontece no lugar em que ocorre a morte, seja ele um quarto de hospital, o cenário de um acidente ou onde quer que se deixe o corpo.
O recém-falecido compreende e ouve tudo o que estão dizendo por perto, compreende tudo o que estão pensando e fazendo. Isso tem sido narrado por aqueles que passam pela EQM (experiência de quase-morte), bem estudada pelo Dr. Raymond Moody Jr.[8]
A respeito do tema, a Dra. Elisabeth Kübler-Ross traz advertência interessante:
“Se a sua mãe ou o seu pai está à beira da morte ou em coma profundo, ao se aproximar do seu leito, convém que você saiba que ela (ou ele) pode ouvir tudo o que você diz.
“Nesse momento não é tarde para pedir perdão, para simplesmente dizer que a(o) ama, ou qualquer coisa que deseje. Nunca é tarde demais para se dizer essas palavras nem mesmo aos mortos, porque eles ainda podem ouvi-lo.”[9]
É sempre lembrado pela autora que ninguém morre sozinho, ou seja:
“(...) aquele que está morrendo é capaz de visitar qualquer um que deseje. Existem pessoas que já se foram, que o amam, que o estimam muito, que estão à sua espera.”[9]
No terceiro e último estágio, morre-se “de verdade”, quando a ligação do casulo com a borboleta se rompe. Os espíritas chamam o fenômeno de rompimento do fio prateado, ou do cordão de prata, o que a psiquiatra compara ao rompimento de um cordão umbilical.
Rompendo-se, pois, o cordão prateado, não será mais possível voltar ao corpo terreno, pois ver-se-á uma luz e ninguém que tenha visto a luz deseja voltar.[9]
Posteriormente, em outro livro,[10] Kübler-Ross detalhou seu pensamento por estudos em pacientes terminais, concluindo que as pessoas alcançavam a morte passando por cinco estágios ou fases.
- PIRES, J. Herculano. Educação para a morte. Ed. Paideia.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 68.
- SANTOS, Djalma; SPRANGER, Ana Maria. Estudando O Livro dos Espíritos. Ed. CELD.
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Cap. I, n. 4.
- Psiquiatra e escritora suíça, com livros traduzidos para 27 idiomas, trabalhou e lecionou nos EUA, falecida em agosto de 2004.
- KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Viva agora e além da morte. Ed. Pensamento. No Prefácio.
- Idem. A morte: um amanhecer. Ed. Pensamento.
- MOODY JR, Raymond. A vida depois da vida. Ed. Butterfly.
- KÜBLER-ROSS, Elisabeth. A morte: um amanhecer. Ed. Pensamento.
- Idem. A roda da vida. Trad. Maria Luiza N. Silveira. Ed. Sextante.
O autor é advogado, autor do livro "Encontrando Allan Kardec"; reside em Capão da Canoa, RS.
novembro | 2024
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