Inclusive education environment with diverse students, including those with disabilities, in a high school setting,
Para ser do bem
Marcus De Mario
marcusdemario@gmail.com
A revelação espírita deve ser mola propulsora para transformações morais, culturais e vivenciais
Conta-se que, certo dia, aconteceu um encontro entre os mais importantes executivos empresariais do mundo, com o objetivo de estabelecer um perfil do executivo ideal, que as escolas de formação e as empresas passariam a perseguir. Depois de várias horas em grupos de discussão e demorado tempo em plenária, chegaram à conclusão de que o executivo ideal, o verdadeiro líder do terceiro milênio, deveria ser, ao mesmo tempo, estadista, educador, integrador, catalisador de resultados, técnico-cientista, cultivador de valores, agente de transformação, líder de líderes, diplomata-negociador, pacificador, energizador, estrategista-futurista. Satisfeitos, iam dar o encontro por encerrado, quando alguém lembrou: “De que vale tudo isso se ele não for um homem de bem?”. Diante do silêncio, a reflexão foi inevitável, e o encontro prosseguiu no dia seguinte, até que alguém ofereceu para debate o item 3, do capítulo 17, de O Evangelho segundo o Espiritismo. E então, após minucioso estudo, os grandes executivos do planeta concordaram que nada mais poderiam acrescentar.
Reconhecemos haver uma disposição atávica do ser humano, e os espíritas não estão isentos, de acomodar os ensinos revelados às disposições vigentes no mundo, deixando-se levar por situações estabelecidas pelo mundo das conveniências. O comum é tomado como normal, quando o correto é tomar a revelação espírita, após criteriosa análise, recomendada mesmo pelos próprios reveladores, os Espíritos benfeitores da humanidade, fazendo dela mola propulsora para transformações morais, culturais e vivenciais. Mas cada um toma partido, apenas de si mesmo ou de um pequeno grupo, e a deturpação do ensino é só um passo. O ensino espírita, contudo, não pode ser acomodado às conveniências humanas.
Para entender melhor o que estamos dizendo, ilustremos com uma história, fato ocorrido com uma nossa amiga.
Advogada, compareceu a um serviço de fotocópias para duplicar páginas de um processo. Solicitou que a atendente tirasse cópia das vinte primeiras páginas, no que foi prontamente atendida. Somente com o serviço já concluído, lembrou que, na verdade, só precisaria das quinze primeiras páginas, e comentou isso com a moça que acabara de atendê-la. Esta, ao fazer o cálculo do preço a pagar, cobrou apenas quinze cópias, mas foi corrigida pela nossa amiga advogada, pois a moça havia efetivamente realizado vinte cópias. Nisso, uma senhora que aguardava para ser atendida, tentando compreender o sucedido, indagou: “A moça cobrou a menos e a senhora vai pagar o certo?”. “Claro”, respondeu nossa amiga, que completou: “Precisamos ser honestos”. Foi então que ouviu esta significativa frase: “Se todo mundo for honesto, aí é que o mundo está perdido!”.
A honestidade é característica do homem de bem, do que ainda estamos necessitados, e o que é bom não pode levar o mundo à perdição. O que acontece é que não queremos sair da zona de conforto estabelecida pelos interesses pessoais, e então tentamos acomodar o ensino, atrasando o processo moral de transformação de nós mesmos e, por consequência, da sociedade humana e do planeta. Kardec sabia disso, motivo pelo qual, inspirado, escreveu uma página irretocável, profeticamente olhando o futuro, mas ciente de que o amanhã é feito no hoje. Por isso uma página bela, tocante, profunda, ornada de praticidade.
A pergunta que precisa ser urgentemente respondida é esta: que homens e mulheres estamos preparando para o futuro da humanidade? São homens e mulheres humanizados, moralizados, afetivos e espiritualistas? Ou são homens e mulheres déspotas, mecânicos, egoístas e materialistas?
O Espiritismo tem a resposta. Precisamos preparar homens e mulheres de bem, pois o essencial não é a profissão, seja ela de grau técnico ou superior; o essencial não é o status social que se possa alcançar; o essencial não é a conta bancária; o essencial não é o prazer mundano; o essencial não é o rótulo religioso. Todas essas coisas passam como o vento.
As únicas coisas que ficam são as virtudes, pois pertencem ao Espírito.
Numa época em que tanto se fala em educação de qualidade, o que menos encontramos nas famílias e escolas é a educação moral do ser. Por isso mantém-se atual o pensamento de Léon Denis em seu profundo e instigante livro, O Problema do Ser, do Destino e da Dor:
“Uma dolorosa observação surpreende o pensador no ocaso da noite. Resulta também, mais pungente, das impressões sentidas em seu giro pelo espaço. Reconhece ele então que, se o ensino ministrado pelas instituições humanas, em geral — religiões, escolas, universidades — nos faz conhecer muitas coisas supérfluas, em compensação quase nada ensina do que mais precisamos conhecer para encaminhamento da existência terrestre e preparação para a alma.”
O combate à corrupção e aos desvios de conduta de toda ordem só é eficaz se atingir a causa. A segurança pública, por mais que se esforce, estará sempre combatendo os efeitos. A causa, todos sabemos, é a má qualidade da educação, ou melhor, é a inversão de valores que falseiam a educação e o viver social. Por tudo isso o homem de bem é inadiável, não podendo ser uma exceção à regra, ou teremos, ainda, de aguentar décadas, talvez mesmo séculos, na convivência com o mal, quando de nós depende a passagem, mais cedo ou mais tarde, do nosso planeta para mundo de regeneração, momento em que o bem predominará.
Não podemos ficar indiferentes aguardando que o tempo providencie uma solução. Se é certo que Deus está no comando, e suas leis tudo regem, impulsionando sempre os homens para a perfeição, é certo igualmente que Ele aguarda que façamos nossa parte, acionando a força de vontade e levando o livre-arbítrio para caminhos que não nos prejudiquem, nem ao próximo, e também não retardem essa marcha evolutiva. Como querer um mundo ecologicamente equilibrado; uma sociedade sem corrupção; uma convivência sem agressividade; uma justiça sem privilégios; e tantas outras coisas benéficas, sem a formação do homem de bem?
Pense nisso, e não esqueça de realizar, com força de vontade, sua autoeducação, pois o verdadeiro espírita deve ser ético, honesto e... pessoa do bem.
O autor é educador, escritor com 36 livros publicados, palestrante, e reside no Rio de Janeiro. Colabora no Seara de Luz, grupo de estudo espírita; é diretor do Ibem Educa, organização educacional não governamental; mantém o canal Orientação Espírita no YouTube.
novembro | 2024
MATÉRIA DE CAPA
Para ser do bem
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