Setembro | 2019

A coragem do codificador

Sidney Fernandes

1948@uol.com.br

Kardec sopesava bem a importância da mensagem que expunha e se antecipava às futuras descobertas

 

No século XIX, um renomado escritor, professor e tradutor pronunciou palavras que inquietaram os defensores das ideias que havia codificado e incomodaram o meio intelectual da sua época. Esse homem era o Professor Rivail, já investido da personalidade do codificador Allan Kardec.

Para alguns, parecia um imprudente. Para outros, um arguto escritor que antecipava uma saída honrosa. Para a maioria, no entanto, um corajoso, que sopesava bem a importância da mensagem que expunha e se antecipava às futuras descobertas.

O Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará.[1]

Com o advento do Espiritismo, a filosofia, a ciência e a especulação religiosa pronunciaram-se seguida e repetidamente, durante um século e meio, buscando provar que as ideias espíritas eram originariamente natimortas e estavam destinadas a fragorosa queda e esquecimento.

Nem Kardec, ou o mais otimista dos adeptos da terceira revelação, poderia imaginar que a Doutrina se havia antecipado aos tempos, e que se iniciaria a irrupção de conquistas intelectuais que passariam a corroborar os seus princípios fundamentais.

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A experiência de Eben Alexander — neurocirurgião americano que vivenciou experiência de quase-morte —, as revelações de James Redfield — com suas visões, contidas em seu livro A Profecia Celestina —, e as comunicações de Kryon, por intermédio do médium Lee Carrol são apenas alguns dos milhares de exemplos de que as verdades estão se espalhando entre os homens, de acordo com seus níveis de entendimento e meios de comunicação.

A comunicabilidade com os Espíritos e a reencarnação, por exemplo, hoje são temas frequentes na literatura, no cinema e nas novelas de TV, pelo interesse e pela aceitação das pessoas, em número muito maior do que o percentual de espíritas registrados nos censos pelos institutos de estatísticas.

Quem se aventuraria a prever que o passe espírita, que era confundido com benzedura ou fruto de algum sincretismo religioso ou superstição, adentrasse universidades, hospitais e clínicas de saúde e passasse a ser aplicado abertamente, com autorização dos corpos clínicos, que passariam a considerá-lo tratamento complementar ao tradicional?

Tal aplicação, que recebe o nome de toque terapêutico, entre outras denominações, hoje é adotada em mais de oitenta países, numa implícita aceitação tanto do magnetismo de Mesmer como dos recursos proporcionados pelo passe espírita, pelo johrei messiânico e pelo reiki japonês.

O nosso velho conhecido perispírito — descrito nas obras espíritas — é aceito por muitos terapeutas do mundo inteiro, que reconheceram a existência de um campo imperceptível aos órgãos dos sentidos, ao redor do corpo físico, que precisa ser trabalhado com técnica adequada em pacientes com desequilíbrio físico ou emocional.

E o que dizer dos depoimentos colhidos de médicos, enfermeiros, pesquisadores e estudiosos a respeito de pessoas que morrem e depois voltam para contar sua história¸ com relatos impressionantes e de veracidade incontestável, mediante os fenômenos de EQM — experiência de quase-morte — veiculados em profusão pela mídia?

Ademais, podemos também contar com o estudo das vidas passadas para curar as doenças de agora. Pensava eu que somente depois de a humanidade inteira aceitar os princípios espíritas se cogitaria a reencarnação como chave para solução de problemas antes insolúveis através de tratamentos ortodoxos. Enganei-me!

Tive de render-me à profecia de Léon Denis, quando se expressou em sua notável obra No Invisível: As religiões do futuro terão por fundamento a comunhão dos vivos e dos mortos, o ensino mútuo de duas humanidades.

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Lembremo-nos das judiciosas expressões do Professor Hermínio Miranda[2]:

Quando abrimos hoje revistas, jornais e livros sintonizados com as mais avançadas pesquisas e damos com o nome de importantes cientistas examinando a sério a doutrina palingenésica ou a existência de vida inteligente fora da Terra, somos tomados por um legítimo sentimento de segurança e de crescente respeito pelos postulados da doutrina que os Espíritos vieram trazer-nos.

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O Espiritismo, nestes quase dois séculos, além de revelar-se inexpugnável em suas posições, está tendo, a cada dia que passa, a confirmação científica de seus princípios fundamentais.

 

  1. KARDEC, Allan. A Gênese.
  2. Texto: A Obra de Kardec e Kardec diante da Obra, de Hermínio Miranda.

outubro | 2019

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – outubro/2019

Os estudos de Kardec anteciparam conquistas intelectuais da ciência que corroborariam os princípios fundamentais do Espiritismo

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