A escola do coração
Arlene Paes Dias
arlenepd@uol.com.br
Cada membro do grupo familiar precisa, pois, empenhar-se em manter a união, o amor e o respeito no lar
“O lar não é somente a morada dos corpos, mas, acima de tudo, a residência das almas.”[1]
Há alguns anos era fácil falar de família. Um homem e uma mulher se uniam, recebiam os filhos que, no dizer da época, “Deus mandava”; responsabilizavam-se pela educação e manutenção dessas crianças, até que atingissem a idade de manter-se por si mesmas e, assim, poderiam ter suas próprias famílias, seguindo suas vidas, mais ou menos felizes.
As famílias eram formadas pelos pais, filhos, avós, tios, primos e irmãos. Hoje, já não podemos dizer que a família começa com a união de um homem e de uma mulher. Melhor dizer que são dois seres que se unem, atraídos por um grande afeto, e que faz com que queiram estar juntos para evoluir. E como pretendem formar uma família, adotam crianças que não puderam ser criadas pelos pais biológicos.
Como é grande o número de casais que se separam e iniciam uma nova união, surge o enteado: filho de um dos cônjuges, que passa a morar com esse novo elemento familiar e que também começa a participar da criação dessa criança. Esse novo relacionamento pode provocar, ainda, o aparecimento de um novo membro dessa família: o meio-irmão. Todas essas pessoas, relacionando-se entre si, transformam-se em um grupo muito maior que o original.
É importante lembrar que todos os grupos familiares, como hoje se constituem, merecem nosso amor, respeito e aceitação. A Doutrina Espírita nos ensina essa atitude, porque o principal objetivo da nossa existência na Terra é aprender a amar o nosso próximo se quisermos evoluir espiritualmente. Em nosso aprendizado, a importância do lar e da família é fundamental, pois o lar é a nossa primeira escola de amor. Podemos nascer em uma família em que haja afinidade entre todos os seus membros, ou encarnar em um grupo que poderá ter alguns desafetos, com os quais precisamos nos reajustar. Necessitamos estar juntos deles a fim de aprender a aceitar os que não pensam como nós e que, em algum momento em existências anteriores, foram nossos cúmplices em atos inadequados.
Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 4, itens 8 e 9, afirma que as famílias consanguíneas que apresentam dificuldades de reajuste entre seus membros são muitas na Terra, e que os membros de nossa família espiritual, aqueles que têm afinidades conosco, sempre viverão próximos a nós, dando-nos suporte nos momentos mais delicados. Vale ressaltar que os parentes difíceis podem não ser fruto de relacionamento em existências passadas. Muitas vezes, os problemas ocorrem ou se agravam quando os envolvidos (nós e os outros) tentam fazer prevalecer suas vontades ou seus pontos de vista. E nesses momentos de embates quem consegue sustentar o bom senso e o equilíbrio oferece ao grupo sua contribuição pacificadora. Esbravejar ou impor sua percepção às divergências naturais acabará provocando desunião maior. É um desafio difícil, mas que temos condição de enfrentar, principalmente se cuidarmos de nossos pensamentos, palavras e ações. Conhecer-se sempre se mostrou eficiente nessas situações.
Todos podemos enfrentar, neste momento, uma situação desgastante com problemas de difícil solução, sejam questões pessoais ou familiares. Vacilamos e perdemos um pouco a nossa fé. Os pensamentos ficam negativos, as nossas ações inseguras e quando isso ocorre tudo nos incomoda. As imperfeições daqueles que conosco convivem ficam mais aparentes e não enxergamos as nossas. Sentimo-nos perseguidos pela má sorte, o que torna impossível, naquele momento, a prática da tolerância, do perdão e da benevolência. Mas, ao contrário, quando estamos em equilíbrio, conseguimos encarar as dificuldades com grande otimismo. Assim, neste contexto, é fácil aceitar e perdoar todos aqueles que conosco convivem, especialmente os nossos familiares.
No livro A Vida em Família, Rodolfo Calligaris afirma a importância de reconhecer e discernir esses ciclos temperamentais em nós e no outro. No outro, para podermos desculpar seus comportamentos intempestivos; e em nós, para agirmos equilibradamente. Dessa forma, nenhum relacionamento poderá ser abalado, e nosso ambiente familiar não ficará desestruturado. Cada membro desse grupo precisa, pois, empenhar-se em manter a união, o amor e o respeito no lar.
O Espírito Thereza de Brito, no livro Vereda Familiar, através da psicografia do médium Raul Teixeira, faz algumas recomendações para que a paz vigore em todos os lares: aprenda a dialogar para solucionar problemas, conversando equilibradamente; faça o possível para não exigir do outro aquilo que você não oferece; agradeça coisas mínimas que o beneficie em casa, e seja gentil com todos que o cercam, familiares ou não; lembre-se sempre de que, por mais liberdade que tenha no seu lar, ninguém precisa suportar seus impulsos negativos e sua falta de carinho.
O lar é a nossa primeira escola. A família é a associação terrena que foi concebida por Deus como oportunidade de aprendermos a amar o próximo em ambiente seguro, para praticarmos o respeito, o perdão, a compreensão, o carinho e a compaixão, práticas essas que nos ensinarão a amar verdadeiramente.
- XAVIER, F. C. Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 39.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
- XAVIER, F. C. Seara dos Médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 19.ed. Brasília: FEB, 2009. Lição 53.
novembro | 2019
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