A melhor propaganda

Rogério Coelho |

rcoelho47@yahoo.com.br

Para divulgar o Espiritismo é preciso estar bem penetrado em sua filosofia e em sua moral.

 

“O Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação” – Emmanuel^[1].

Sabemos, com Kardec, que a Doutrina Espírita não estimula o proselitismo de forma inconsiderada. Como, pois, conciliar esta nuança do Espiritismo com o asserto de Emmanuel em epígrafe?

Muito simples: propagar a formosa Doutrina dos Espíritos sem empregar nessa divulgação as características de arrebanhamento compulsório.

Para melhor ilustrar a atitude do espírita frente à imperiosa necessidade de dar conhecimento dos valores da Doutrina, sem barateá-la, atendendo à conclamação de Jesus ao afirmar que não devemos colocar a candeia sob o alqueire e sim no módio, atentemos para uma página mediúnica inserta por Kardec na Revue Spirite de novembro de 1868:

“Há muitos Espíritos no mundo, mas seu grau de instrução sobre a Doutrina Espírita está longe de ser suficiente para que se classifiquem entre os Espíritos esclarecidos. Sem dúvida têm luzes, mas lhes falta a prática; ou se praticam, necessitam ser assistidos, a fim de trazer, nos esforços que tentam, mais persuasão e menos entusiasmo.

“Quando falo da prática do Espiritismo, quero dizer a parte que concerne à propaganda. Ora! Para essa parte, mais difícil do que se pensa, para exercê-la com eficácia, é preciso estar bem penetrado da filosofia do Espiritismo e também de sua parte moral. A parte moral é fácil de conhecer; para isto exige pouco esforço; em compensação, é a mais difícil de praticar, porque só o exemplo pode fazer bem compreendê-lo. Fareis compreender melhor a virtude dando exemplo da virtude. Nada há a responder àquele que faz o que aconselha que os outros façam. Assim, para a parte moral do Espiritismo, nenhuma dificuldade na teoria, muita na prática.

“A parte filosófica apresenta mais dificuldades a ser compreendida e, por conseguinte, requer mais esforços. Os adeptos que buscam ser militantes, devem pôr-se à obra para bem a conhecer, pois é a arma com a qual combaterão com mais sucesso. É útil que não se extasiem com os fenômenos materiais, e que deem a sua explicação sem muito desenvolvimento para a análise dos fatos de ordem inteligente, sem contudo dizer muito, pois não se deve fatigar o espírito das pessoas noviças no Espiritismo.

“Explicações concisas, exemplos bem escolhidos, adaptando-se bem à questão que se discute, eis tudo o que é preciso. Mas, repito: para ser conciso, não se deve saber menos; para dar exemplos ou explicações bem adequadas ao assunto, é necessário conhecer a fundo a filosofia do Espiritismo. Esta filosofia está resumida em O Livro dos Espíritos e o lado prático em O Livro dos Médiuns. Se conhecerdes bem a substância destas duas obras, que são obras dos Espíritos, certamente tereis a felicidade de trazer muitos dos vossos irmãos a essa crença consoladora, e muitos dos que creem serão postos no verdadeiro terreno: o do amor e da caridade.

“Assim, pois, meus amigos, aqueles dentre vós que desejarem fazer seus irmãos partilhar de suas crenças, que os querem chamar ao banquete de consolação que o Espiritismo oferece a todos os seus filhos, devem moralmente pregar o Espiritismo praticando a sua moral, e intelectualmente espalhando em seu redor as luzes que colheram ou que colherão nas comunicações dos Espíritos.

“Tudo isto é fácil: basta querer! Então, meus caros amigos, em nome da vossa felicidade, de vossa tranquilidade, em nome da união e da caridade, aconselho-vos a querer.”

Na propaganda do Espiritismo jamais poderemos olvidar a exortação de Allan Kardec contida no livro Obras Póstumas:

“O Espiritismo não cuida de afastar pessoa alguma das suas convicções religiosas. Não se dirige aos que possuem uma fé e a quem essa fé basta. Dirige-se aos que, insatisfeitos com o que se lhes dá, pedem alguma coisa melhor.”

 

1. XAVIER, F. Cândido. Estude e viva. 4. ed. Cap. 40, p. 229. Rio de Janeiro: FEB, 1978.

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