
Bebês “reborn”
Eriberto Kotelak
nepompmpr@gmail.com
Reflexos da carência humana e o chamado à consciência espiritual
Em um mundo cada vez mais desconectado da essência espiritual, torna-se visível, em gestos e escolhas aparentemente inofensivas, o clamor silencioso de almas sedentas de amor. Entre esses sinais contemporâneos, destaca-se a crescente busca por bebês reborn — bonecos hiper-realistas de recém-nascidos, que vêm sendo tratados por alguns adultos como verdadeiros filhos: são alimentados, vestidos, ninados e, em alguns casos, até inseridos em dinâmicas familiares como se fossem seres vivos.
É nítida a presença crescente de pessoas circulando com animais e bonecos, em vez de crianças de verdade. E a estas pessoas que adotam animais e bonecos, como se fossem filhos, fica a indagação: quando chegar o momento de alcançar um medicamento, auxiliar na higiene, preparar alimentação e trocar fraldas, quem prestará esses cuidados a eles? Porque muitos idosos vão necessitar disso. A realidade é bem diferente e é com ela que devemos nos preocupar.
Tal fenômeno, embora à primeira vista pareça um mero hobby, ou uma forma de lidar com traumas, nos convida a uma reflexão mais profunda. Do ponto de vista espiritualista, revela o estado de fragilidade emocional e o nível de carência afetiva que marca muitos corações humanos na atualidade. É como se, diante da dificuldade de encontrar vínculos afetivos reais, algumas almas buscassem substituir a ausência de amor por simulações reconfortantes.
Não se trata de julgar ou expor aqueles que buscam consolo em tais práticas. Toda dor merece ser ouvida, todo sofrimento precisa ser acolhido. No entanto, é necessário lançar um olhar lúcido sobre a situação, pois quando o vazio interior é preenchido com imagens e símbolos, em vez de experiências reais, corre-se o risco de aprofundar a ilusão e afastar-se da cura verdadeira.
A maturidade espiritual convida o ser humano a desenvolver afetos genuínos voltados à vida real. Existem milhões de crianças órfãs, abandonadas, vítimas da fome, da violência e da negligência. Crianças que respiram, choram, sonham e esperam por um abraço verdadeiro.
Que paradoxo estamos vivendo; investem-se tempo, energia e recursos em objetos inanimados, enquanto vidas humanas reais clamam por cuidado.

É como se, diante da dificuldade de encontrar vínculos afetivos reais, algumas almas buscassem substituir a ausência de amor por simulações reconfortantes
Esse desvio de afeto, ainda que inconsciente, aponta para uma necessidade urgente: a de despertar a consciência para o verdadeiro sentido da compaixão. O amor é uma força viva e se canalizado corretamente, transforma a sociedade.
Se cada adulto que hoje investe em bebês reborn se abrisse à possibilidade de apadrinhar, visitar ou ajudar uma criança real, o impacto no mundo seria imensurável.
Mais do que um fenômeno individual, o culto exagerado a tais bonecos revela também uma questão coletiva, que precisa ser debatida com seriedade pelas autoridades e profissionais da saúde mental. É legítimo que se crie arte, que se expresse emoção, que se use a criatividade como forma de lidar com traumas, mas há limites que, quando ultrapassados, exigem cuidado e orientação. Algumas medidas públicas, como registros simbólicos de nascimento, carrinhos em vias públicas, ou exigências de atendimento especial em espaços comuns, indicam que o equilíbrio está sendo perdido por alguns. E onde há desequilíbrio, é papel da sociedade orientar, acolher, proteger, especialmente os mais vulneráveis.
O Espiritismo e outras doutrinas espiritualistas nos ensinam que estamos aqui para aprender a amar de maneira plena, desinteressada, consciente. Que cada dor deve ser transmutada em serviço ao próximo. E que o verdadeiro consolo vem do alto, não de bonecos, mas da fé que reconstrói o ser, da caridade que ilumina o caminho, do amor que se entrega ao outro com generosidade.
É tempo de despertar. De acolher o sofrimento alheio sem alimentar ilusões. De oferecer àqueles que vivem na sombra da solidão a luz do esclarecimento. E, sobretudo, de redirecionar o afeto represado para quem ele mais é necessário: às crianças reais, que são sementes da humanidade, e instrumentos do nosso próprio progresso espiritual.
O autor é Subtenente Veterano da Polícia Militar do Estado do Paraná, escritor e palestrante espírita. Frequenta o Centro de Estudos e Pesquisas Espíritas de Curitiba (CEPEC).
setembro | 2025
MATÉRIA DE CAPA
O Clarim – setembro/2025
Bebês reborn e o o verdadeiro sentido da compaixão
Lista completa de matérias
Está no ar
Gratidão
O Evangelho no Lar
Plutocracia
Roteiros da evolução
Se quiser progredir
Laços de família e evolução do Espírito
Bebês “reborn”“O Clarim” e o compromisso com a regeneração da Humanidade
E por falar em demônios…
Arai!
Jogo da culpa
Nossa cruz
Considerações sobre a mediunidade