Busca a paz e segue-a
Dorothy Jungers Abib
abibdorothy@uol.com.br
A nossa busca tem de voltar-se para dentro de nós mesmos, analisando nossas atitudes e como elas refletem em nós
Esta ordenação, expressa no título, encontramo-la em Salmos (34:14), repetida em I Pedro (3:11), principalmente. Meditando sobre ela, cheguei a algumas conclusões que gostaria de compartilhar.
A primeira coisa é entender bem o significado das palavras. Vamos a elas. Busca, do verbo buscar, significa: fazer por encontrar, procurar, investigar, ir ter a (alguma parte), tratar de adquirir, recorrer a, tentar. Como é visível, nesta consulta simples a um dicionário mediano, todos os sentidos da palavra nos remetem a uma ação, a uma atividade. Nada sugere a ideia de que devemos nos sentar e esperar.
Em relação à paz, um sentimento que nos faz pensar em calma, tranquilidade, a recomendação não é a de esperar por ela, mas a ordenação é clara e sugere uma atividade em busca de.
E como fazemos para ir em busca da paz? Que atividade nos propomos a fazer? Saímos procurando-a pela rua? Claro que não. Afinal, a paz é um sentimento da alma. Então a nossa busca tem de voltar-se para dentro de nós mesmos. E como fazemos isto? Analisando as nossas atitudes e como elas refletem em nós.
Por exemplo, se por qualquer motivo fútil ou justo perco a paciência e grito com um funcionário, um familiar querido, uma criança irrequieta, depois me arrependo e me sinto mal pelo rompante genioso que tive. Aí não está a paz que devo buscar.
Se não resisto a uma tentação e escorrego para um ato corrupto, desonesto, ou até maldoso, fico depois com a consciência pesada ou culpando-me. Aí também não está a paz que busco.
Se, também arrastado por uma tentação, cometo uma infidelidade e traio minha esposa ou marido, ou companheiro, ou amigo, logo me vem à boca o sentimento amargo do remorso. Aí, e em todas as situações que eu vacilar e escolher a estrada larga dos vícios e tentações, eu não encontro a paz.
A minha conduta deve sempre pautar-se pela correção, porque afinal Jesus nos deixou lições suficientes para que entendêssemos agora o que é o certo a fazer. Não posso mais alegar ignorância ou, o que é pior, fraqueza em resistir às tentações. Já vivemos bastante, estamos no limiar de um mundo de regeneração e não temos mais o direito de adiar para amanhã a decisão de ser melhores. Com esta decisão tomada, veremos que a busca para a paz é mais suave, porque vamos errando menos, tendo mais paciência, mais compreensão, mais compaixão, menos egoísmo e orgulho, e principalmente mais humildade e amor. Desta maneira, com esforço, boa vontade, atividade no bem, encontraremos enfim a paz.
Mas, só encontrá-la não basta, porque a imperfeição ainda é uma característica que carregamos. Embora nos esforcemos e encontremos o caminho da paz, às vezes vemos injustiças tantas no mundo, como guerras, fome, violência, que nos parece que a paz quer afastar-se de nós.
É por isto que a ordenação que nos deram foi que buscássemos e paz e a seguíssemos.
E agora? O que significa isso?
Voltemos ao dicionário mediano. Seguir tem muitos significados: ir atrás de, caminhar após, ir ao encalço, espiar, ir tão depressa como, observar a evolução de, tomar o partido de, aderir, continuar, tomar como modelo, prosseguir, tomar determinada direção, suceder-se, resultar.
Podemos escolher o resultado que mais se adapte à nossa reflexão. Escolhi o sentido de continuar. Por quê? Vejamos, se já lutei bastante e consigo ter paz no meu Espírito, e me encontro diante de situações que me revoltam, que querem tirar a minha paz, tão arduamente conquistada, reflitamos: estas situações de guerras, fome, miséria, violência urbana dependem de mim, da minha ação? Sou responsável por elas?
Não. Então elas não podem abalar os meus sentimentos; o meu desespero por elas não leva a nenhuma solução. Devo, pois, continuar com a paz em mim.
Contudo, este fato não significa, jamais, cruzar os braços e simplesmente assistir passivamente ao que acontece à minha volta.
A inércia e o alheamento jamais são atitudes positivas. A vida é movimento, ação, logo, como participante do mundo em que vivo, é meu dever buscar sempre minorar os males que existem na sociedade, participando de qualquer ação ou movimento que atue em prol dos pobres e famintos, e criticando por todos os meios possíveis as guerras, a violência, as injustiças. Esta é uma forma efetiva de seguir a paz.
Esperamos que estas reflexões possam ser úteis a alguém.
janeiro | 2023
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