Deus não quer ser temido, mas amado…
Rogério Coelho
rcoelho47@yahoo.com.br
Deus deixou de ser obedecido por medo, mas amado pela confiança
“(...) Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento.” — Jesus. (Mt., 22:37/38.)
“Ele é temente a Deus” é uma expressão equivocada que não raras vezes ouvimos. Constitui-se tal pensamento puro atavismo alimentado — ainda — pelas informações de Moisés, o grande legislador do povo hebreu. A criatura que assim pensa é mais judia que cristã, vez que se vincula aos conceitos em voga dos recuados tempos mosaicos...
Allan Kardec pergunta[1]: “Fora possível amar o Deus de Moisés? Não; só se podia temê-Lo...”
“25. Toda a Doutrina do Cristo se funda no caráter que Ele atribui à Divindade. Com um Deus imparcial, soberanamente justo, bom e misericordioso, Ele fez do amor de Deus e da caridade para com o próximo a condição indeclinável da salvação, dizendo: ‘amai a Deus sobre todas as coisas e o vosso próximo como a vós mesmos; nisto estão toda a lei e os profetas; não existe outra lei.’ Sobre esta crença, assentou Ele o princípio da igualdade dos homens perante Deus e o da fraternidade universal.”[1]
“23. A parte mais importante da revelação do Cristo, no sentido de fonte primária, de pedra angular de toda a sua doutrina é o ponto de vista inteiramente novo sob que considera Ele a Divindade. Esta já não é o Deus terrível, ciumento, vingativo, de Moisés; o Deus cruel e implacável, que rega a terra com o sangue humano, que ordena o massacre e o extermínio dos povos, sem excetuar as mulheres, as crianças e os velhos, e que castiga aqueles que poupam as vítimas; o Deus que Jesus nos revela não é mais o Deus injusto, que pune um povo inteiro pela falta do seu chefe, que se vinga do culpado na pessoa do inocente, que fere os filhos pelas faltas dos pais; mas um Deus clemente, soberanamente justo e bom, cheio de mansidão e misericórdia, que perdoa ao pecador arrependido e dá a cada um segundo as suas obras. Já não é o Deus de um único povo privilegiado, o Deus dos exércitos, presidindo aos combates para sustentar a sua própria causa contra o Deus dos outros povos; mas o Pai comum do gênero humano, que estende a sua proteção por sobre todos os seus filhos e os chama todos a si; já não é o Deus que recompensa e pune só pelos bens da Terra, que faz consistir a glória e a felicidade na escravidão dos povos rivais e na multiplicidade da progenitura, mas sim um Deus que diz aos homens: ‘A vossa verdadeira pátria não é neste mundo, mas no reino celestial, lá onde os humildes de coração serão elevados e os orgulhosos serão humilhados.’ Já não é o Deus que faz da vingança uma virtude e ordena se retribua olho por olho, dente por dente; mas o Deus de misericórdia, que diz: ‘Perdoai as ofensas, se quereis ser perdoados; fazei o bem em troca do mal; não façais aos outros o que não quereis vos façam.’ Já não é o Deus mesquinho e meticuloso, que impõe, sob as mais rigorosas penas, o modo como quer ser adorado, que se ofende pela inobservância de uma fórmula; mas o Deus grande, que vê o pensamento e que se não honra com a forma. Enfim, já não é o Deus que quer ser temido, mas o Deus que quer ser amado.”[1]
Provavelmente, por todas as razões acima expostas, e outras mais, escreveu o querido confrade Deolindo Amorim, com seu profundo entendimento doutrinário, face à preocupação dos cientistas do século XIX ante os fenômenos objetivos, submetidos a critérios científicos, que chamavam a atenção para uma realidade diferente da que estavam habituados os homens mais afeitos às ciências exatas[2]: “(...) a interpretação espírita provocou certas indagações acerca da origem dessa Força (Deus) ‘desconhecida’, isto é, uma Força não definida nos esquemas da Física nem das leis da Química e muito menos sujeita às fórmulas matemáticas usuais. Abriu-se, então, uma faixa de especulação filosófica inteiramente fora da terminologia acadêmica da época. Concomitantemente, na mesma linha de encadeamento, a contribuição espírita à elucidação dos problemas do Espírito imortal levou muita gente a pensar na existência de Deus, não mais pelos cânones da tradição religiosa, mas pelo crivo da razão. Em consequência, Deus deixou de ser obedecido por medo, mas amado pela confiança, o que repercutiu muito na questão religiosa.”
A partir dessas constatações, estava, portanto, efetivado o advento do primado do Espírito. Tal a polarização a que nos remete o Espiritismo, com vitalidade suficiente para afrontar os mais espantosos desenvolvimentos tecnocientíficos da atualidade.
- KARDEC, Allan. A Gênese. 34.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. I, itens 23 e 25.
- AMORIM, Deolindo. Ponderações Doutrinárias. Curitiba: FEP, 1989, pg. 86.
agosto | 2019
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