Junho | 2023

Em terreno de oratória

Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante

walkirialucia.wlac@outlook.com

Aqueles que realmente desejam dedicar-se a este trabalho devem estudar e abarcar o que irão abordar

 

“Toda Casa Espírita tem o seu espaço destinado à realização de reuniões públicas, de portas abertas, onde os expositores abordam estudos, palestras doutrinárias e/ou evangélicas, especialmente das obras que constituem a Codificação Kardequiana. Este recinto recebe da Espiritualidade o cuidado compatível com a importância das tarefas ali desenvolvidas. São instaladas defesas magnéticas que impedem a entrada de entidades desencarnadas hostis e malfeitoras. Portanto, só entram aqueles que obtêm permissão. Tais cuidados são imprescindíveis em razão da natureza do trabalho que os Centros realizam. No transcurso da exposição doutrinária, grande amparo é prestado ao público. Equipes especializadas atendem aos que apresentarem condições espirituais/mentais favoráveis, receptivas, medicando-os e, até mesmo, realizando cirurgias espirituais.”[1]

Espantam-nos criaturas, ainda não amadurecidas em terreno de oratória, que acreditam poderem improvisar um tema a ser trabalhado na palestra doutrinária, ou trazer, nestas ocasiões, discursos divergentes do momento de elevação moral a que somos solicitados.

A instituição espírita é um “laboratório do mundo invisível”, como afirma Suely Schubert. Ao adentrar uma instituição, deparamo-nos com seres solícitos que nos apresentam, em linhas gerais, o que vem a ser o local. Falam-nos da rotina e distribuição dos trabalhos executados e esclarecem-nos dúvidas que podem surgir. Somos encaminhados para o ambiente dedicado à explanação evangélica, sendo que em algumas instituições são aplicados passes antes do início dos trabalhos, para que encarnados e desencarnados encontrem ponto de equilíbrio e de desenlace dos que ali chegaram na companhia. Para que cada um, em sua necessidade, seja ajudado pela equipe espiritual.

Aqueles mais ciosos do momento que vivenciam aguardam a explanação do palestrante utilizando-se de uma leitura edificante, enquanto outros permanecem em oração. Alguns, dispersos e sem compreensão do momento ímpar que estão vivendo naquele instante, utilizam-se de mecanismos de distração, como o celular.

Pois bem, chega o momento da palestra elucidativa e calmante para que aqueles que ali se encontram presentes, encarnados e desencarnados. Benfeitores espirituais, que aproximam-se do recinto desde muito antes do início das atividades, para preparar o ambiente, envolvem os trabalhadores e organizam o hospital de almas para receber-nos.

Chegamos ao ponto que gostaríamos de abordar: a preleção espírita. Estamos falando em nome da e sobre a Doutrina Espírita. Estamos plantando sementes de informação naquelas criaturas que ali se fazem presentes. Algumas ainda envolvidas pelas entidades que, em sistema de obsessão, tentam prejudicar a absorção da mensagem trazida. Por isso, aqueles que realmente desejam dedicar-se a este trabalho devem estudar e abarcar o que irão abordar. Sempre fiéis à mensagem trazida, devem informar a fonte consultada na qual obtiveram as informações passadas, para que aqueles que ali se encontram consigam buscar, se assim o quiserem, a leitura complementar do que foi abordado.

Lembremos que, da mesma maneira que nos aparelhamos para falar em público no trabalho, na faculdade ou em outro lugar que precisemos expor ideias, assim também deve acontecer numa instituição espírita. Sabemos que a maioria de nós não conseguimos executar em plenitude ou até exercemos pouco ou nada daquilo que falamos, mas lembremos também que somos os primeiros a ouvir.

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as suas inclinações más.”[2]

(...) carecemos de fazer a nossa parte, ou seja, estudar, preparar-nos em conhecimento e moralmente para a execução do trabalho, procurar ser a mesma pessoa que fala e que executa na vida de relação

É difícil, mas não é impossível; somente é trabalhoso e demorado para a grande maioria de nós. Algo que muitos não desejamos aguardar. Mas, o progresso espiritual faz parte da meta de cada um de nós, e mesmo que não percebamos, somos impulsionados a prosseguir e a crescer.

Poderemos pensar, então: se representa tão alto significado este momento, no qual medicamentos são ministrados e até cirurgias são realizadas, os Espíritos superiores, orientadores da instituição, não poderiam suplantar as deficiências do palestrante e realizar a palestra? Não poderiam eles ultrapassar as barreiras do palestrante e realizar a palestra em seu lugar? Não poderiam, por fim, trazer o conhecimento da mensagem modificadora de almas, promovendo uma incorporação inconsciente no palestrante?

Meus amigos, os benfeitores da humanidade nos ajudam, suplantam nossas necessidades e, quando encontram terreno fértil, avizinham-se de nós para a execução do trabalho. Mas, para isto, carecemos de fazer a nossa parte, ou seja, estudar, preparar-nos em conhecimento e moralmente para a execução do trabalho, procurar ser a mesma pessoa que fala e que executa na vida de relação.

Já vimos bons palestrantes, criaturas que dominavam o conhecimento espírita, afastarem-se e não retornarem ao trabalho de exposição, por perceberem na plateia criaturas do seu convívio que as julgaram e deram o veredito que elas não tinham capacidade ou autoridade de explanar em nome de Jesus.

Nossos atos devem estar subordinados à Lei de Deus. Se nos dispomos a realizar um trabalho, que o façamos em integralidade. Sorvendo a taça de fel se necessário, sendo feridos pelos espinhos que se nos apareçam, mas que sempre estejamos preparados para o trabalho a ser executado. Não nos forjaremos nele ou em qualquer outro do dia para noite, mas na tentativa de fazer bem-feito aprenderemos e aplicaremos em nossas vidas, pois “... o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro”.[2]

 

  1. SCHUBERT, Suely Caldas. Dimensões Espirituais do Centro Espírita. Cap. 4 — A Reunião Pública (síntese).
  2. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XVII, item 4.

 

 

junho | 2023

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – junho/2023

A tribuna espírita exige que nos preparemos para a tarefa

Lista completa de matérias

 O passado, velho e caduco

 A desencarnação de Jesus

 Imortalidade triunfante

 Dorida constatação

 Jesus na cruz ou redivivo, qual habita em seu coração?

 Hábitos

 Manifestações dos Espíritos através dos séculos

 O valor terapêutico da prece

 Macro e micro: patentes realidades

 Doenças congênitas sob o ponto de vista espírita

 Amargo despertar

 Autojulgamento

 Em terreno de oratória

 A vinha