Fevereiro | 2024

Embainha tua espada

Rosana Silva

rosanadasilv@gmail.com

Ainda carregamos comportamentos impulsivos, impetuosos e violentos

 

A Humanidade está sendo convidada a embainhar a espada, física ou não, há mais de dois mil anos, a partir de uma das passagens mais memoráveis de Jesus com Simão Pedro, momentos antes da sua prisão.

Ao ser levado pelos guardas de Caifás, sumo sacerdote de Jerusalém, o Mestre repreende o discípulo, que, na tentativa de defendê-lo, puxa da bainha sua espada e fere o soldado Malco, decepando-lhe a orelha direita. Jesus, então, ordena a Pedro: “Embainha tua espada!” E, tocando a orelha de Malco, o sarou, conforme está registrado no Evangelho de João, 18:11.

Naquele momento, iniciava-se a prisão de Jesus, que culminaria no Gólgota com a crucificação, trazendo para todos nós profundas diretrizes vivenciadas pelo Cristo no campo prático da pacificação.

A passagem merece reflexão, porque ainda carregamos muito dos comportamentos de Simão Pedro, sempre impulsivo, impetuoso e violento. E, concomitantemente, o Mestre dos mestres nos mostra a conduta ideal, dando-nos verdadeiro exemplo, que o faz ser reconhecido como o príncipe e embaixador da paz e de Deus, assim identificado nas profecias do Antigo Testamento (Isaías, 9:7), por diversos Espíritos, especialmente Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, e também pelo Espírito Miramez, através do médium João Nunes Maia, no livro Cristos (capítulo 4, intitulado Cristo Paz), quando afirma: “Cristo foi o maior expoente da paz na Terra, porque ele era a própria Paz, revestida permanentemente de amor e trabalho.”

Na sequência de ensinamentos, temos a cruz, que a partir de então passou a ser o símbolo da redenção, cuja silhueta aparenta uma espada com sua lâmina fincada no solo, como a lembrar à Humanidade a advertência dada a Pedro para embainhar a espada. Não mais se refere, desta feita, à arma física, cortante ou perfurante, mas um alerta a todos nós para embainhar as armas das limitações e dificuldades que ferem e cortam, tanto quanto a espada simbolizada no instintivo discípulo Pedro.

Trazendo para nossas experiências diárias, ainda estamos levantando a espada da agressividade? Se agimos assim é porque não embainhamos ou vencemos as espadas do egoísmo e do orgulho, identificados em O Livro dos Espíritos, questão 785, como os maiores obstáculos ao nosso progresso espiritual, resultando em maledicência, inveja, melindre, violência verbal ou física, indiferença e todo o arsenal de limitações que ainda fazem parte do estágio evolutivo que nos encontramos neste mundo de provas e expiações, levando-nos, muitas vezes, a nos defender, reagindo às injúrias, às calúnias, às ingratidões no mesmo diapasão de emoções agressivas e impulsivas. Todavia, com essas reações, deixamos de ser cristãos, justamente porque a proposta do Cristo é de pacificação.

Sejamos verdadeiros instrumentos da paz, como tão bem viveu o pobrezinho de Assis, ensinando-nos a orar como a prática por excelência da pacificação, cultivando um coração pacificador (...)

Estamos em momento grave de transformações individuais e coletivas para um futuro de paz no planeta Terra, que passará para mundo regenerador, sem guerras e conflitos entre nações e pessoas, com mais respeito às diversidades, mais fraternidade, mais cooperação, mais amorosidade nas atitudes e inter-relações. Allan Kardec trata disso em detalhes no capítulo 3, Há Muitas Moradas na Casa do Pai, de O Evangelho segundo o Espiritismo.

Vivemos os tempos notadamente reconhecidos como transitórios ou de transição planetária, descritos também em A Gênese, especificamente no capítulo 18, em que somos convocados a praticar a terceira bem-aventurança, expressa em Mateus, 5:5: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra.”

Então, sigamos o exemplo de Jesus, verdadeiro príncipe da paz, que deixou diversas diretrizes pacificadoras. Todo o Evangelho é um roteiro de paz, fundamentado na Lei de Amor, com dois mandamentos maiores, conforme Mateus, 22:37–39: “Amar a Deus e ao próximo com a ti mesmo!”

Há ainda as bem conhecidas:“Perdoai setenta vezes sete vezes.” (Mateus, 18:22); “Reconciliai-vos com os vossos adversários.” (Mateus, 5:25); “Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” (Mateus, 5:44); “Se alguém ferir-te numa face, oferece-lhe também a outra.” (Mateus, 5:39); e, resumidamente, em João, 16:33, o embaixador da paz vai afirmar: “Tenho-vos dito todas estas coisas, para que em mim tenhais paz.”

Jesus não convida ao comportamento passivo ou permite a surra ao agressor. Está falando para não entrarmos no mesmo padrão vibratório de energias inferiores e deletérias dos que vivem na ausência da paz. Aqui temos o pacificador em ação, com toda expressividade prática de harmonia, equilíbrio e serenidade.

Sejamos verdadeiros instrumentos da paz, como tão bem viveu o pobrezinho de Assis, ensinando-nos a orar como a prática por excelência da pacificação, cultivando um coração pacificador, conforme a belíssima Oração de São Francisco de Assis.

Busquemos inspiração também em Emmanuel, quando comenta essa passagem em Fonte Viva, pelas mãos abençoadas de Francisco Cândido Xavier: “A cruz do Mestre tem a forma de uma espada com a lâmina voltada para baixo. Recordemos, assim, que Jesus conferiu ao homem a bênção da paz, com felicidade e renovação.”

 

A autora é palestrante, escritora, articulista e integrante do Centro Espírita Oriental, em Montes Claros, MG.

fevereiro | 2024

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – fevereiro/2024

Jesus contra a violência e o nosso descontrole cotidiano

Lista completa de matérias

 Período na erraticidade

 Sociedade líquida, e qual é a solução?

 Roupagem fatal

 Jesus aparece primeiramente a Maria Madalena

 Ectoplasmia de cura

 As coisas falam

 Embainha tua espada

 Nascer de novo

 Magnífica presença

 Sofrimentos voluntários

 A incredulidade e a realidade do Espírito

 Eu e o outro

 Servir e marchar