Julho | 2019

Esquecer o mal procurando o bem

Temi Mary Faccio Simionato |

temi_mary@yahoo.com.br

“Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam.” (Mateus, 5:44)

 

Estamos inseridos nesta esfera física para nos regenerarmos e reaprendermos, retomando os débitos pelas fraquezas e falhas em existências pregressas. Mesmo assim, ainda não superamos os entraves da nossa libertação, concedendo ajustes inadequados através de nossos desejos e caprichos imediatistas. Por esta razão, continuamos acusando, reclamando e nos queixando das dificuldades necessárias ao nosso aprendizado atual.

Quando Jesus disse: “Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam”, queria dizer que precisamos viver de modo que estes adversários se sintam auxiliados através dos nossos exemplos e atitudes, renovando-se para o bem.

O ofensor chega-nos como um teste para o nosso aprimoramento moral. Ele difama nosso nome, ameaça-nos, fere nossos sentimentos, desafia-nos na tolerância, torturando-nos os pensamentos e, mesmo assim, o Mestre continua a falar: “Amai os teus inimigos.”

Podemos estender-lhe a mão socorrendo-o, porque o adversário de hoje também é digno de auxílio e, queiramos ou não, é filho de Deus assim como nós, para quem o Pai providenciará recursos e caminhos com a mesma justiça e bondade que tem para com todos.

Em muitos episódios da vida, aqueles que nos prejudicam e magoam, frequentemente, se encontram irmanados a tribulações; no fundo sofrem muito mais pelo fato de nos criarem problemas do que nós mesmos quando nos supomos vítimas deles.

Quando as relações com nossos amigos adoecerem, será melhor nos perguntarmos se estamos perdoando-os de fato. Serão apenas palavras ou estamos colocando nossos verdadeiros sentimentos neste perdão. É justo entendermos que também nós cometemos equívocos que igualmente precisam ser corrigidos. Temos nossos próprios reajustes a serem acertados, lembrando-nos de todo o bem que essas criaturas nos fizeram e a quem devemos gratidão.

O amor pelos desafetos não nos tira a paz da consciência, porque quando Jesus disse: “Ide e reconciliai-vos com vosso adversário”[1], Ele também ensina a obtermos a paz interior, cooperando com eles. Desta forma, compreendemos que o esquecimento do mal que nos assedia é defesa de nosso próprio equilíbrio e, nos dias que a injúria bate em nosso rosto, o perdão é uma bênção para os ofensores, e sempre será o melhor para nós.

Nenhum de nós experimenta alegria frente às vítimas do mal. O importante é nos colocarmos no lugar dos nossos irmãos equivocados e verificarmos que eles precisam mais de assistência do que de censura, porquanto todos nós somos susceptíveis de falhas lamentáveis. Resumindo, precisamos entender que para sermos desculpados é necessário desculpar, refletindo para não guardar ressentimentos, recordando a advertência do nosso Irmão Maior de orarmos pelos que nos perseguem e caluniam. Quem perdoa se eleva e quem se vinga desce os despenhadeiros da sombra.

Tudo se tornará fácil quando cultivarmos a verdadeira fraternidade, porque o amor pensa, fala e age estabelecendo o caminho para a glória da vida imortal. Portanto, se desejarmos avançar para a luz, aprendamos a desculpar infinitamente, porque o céu da liberdade ou o inferno da condenação moram na intimidade da nossa consciência. O Mestre Amado esclarece: “Pai, perdoa as nossas ofensas, assim como perdoamos aos que nos tem ofendido.”[2]

Quando Jesus convida ao perdão, não nos impeliu exclusivamente ao aprimoramento moral, mas também para a paz interior, para que possamos trabalhar e servir na construção da nossa felicidade. O perdão pode ser comparado à luz que o ofendido acende no caminho do ofensor e, por isso, perdoar em qualquer situação será sempre colaborar na vitória do amor em apoio à nossa própria libertação para a vida imperecível.

O Mestre não nos impele tão somente a beneficiar os que nos ferem, mas, igualmente, a proteger a sanidade mental do grupo que fomos chamados a servir e atuar, imunizando os colegas do trabalho ao contágio da mágoa, da queixa, mantendo-nos tranquilos e confiantes tanto no amparo a eles quanto a nós.

Observemos que o divino Semeador nos aconselhou, orientando-nos que há o crescimento livre do joio e do trigo, mas na hora certa e oportuna se fará revelar, amparando-nos e selecionando nossos sentimentos através de Seu justo entendimento. Por isso, a importância da consciência tranquila frente aos que nos injuriam, abençoando-os, porque são criaturas necessitadas de compreensão e auxílio espiritual, tolerância e devotamento, ternura e trabalho.

A existência na qual atuamos no momento não nos reclama atitudes sensacionalistas, gestos impraticáveis, espetáculos de grandeza. Pede apenas que sejamos melhores para aqueles que cruzem nossos passos, esquecendo o mal e procurando o bem que nos esclareça e melhore. Desta forma, podemos construir no coração uma prece por todos aqueles que ainda não nos compreendem, iniciando a obra do nosso aperfeiçoamento para a vida imortal.

O caminho que Jesus nos indica é de vitória da luz sobre as trevas e, por isso mesmo, repleto de obstáculos a vencer. Senda de espinhos gerando flores, calvário e cruz levando à renovação.

O meigo Rabi, desde o início do Seu apostolado, mostrou-nos o roteiro da elevação pelo sacrifício, servindo sem recompensa, entendendo a todos, socorrendo, esclarecendo e demonstrando que a caridade se externa no amor puro.

Quando nos entregarmos realmente a Deus e a Ele confiarmos nossos adversários como irmãos necessitados do Amparo Divino, penetraremos no verdadeiro entendimento das palavras do Mestre: “Pai, perdoa as nossas ofensas assim como perdoamos aos que nos ofenderam”, reconciliando-nos com a vida e com a nossa alma. Atingindo essa beatitude, saberemos tocar novamente a face de quem nos ofendeu e aquele que nos ofendeu encontrará Deus em nós e nos dirá com alegria do coração: “Bendito Sejas.”

 

  1. Mateus, 5:25 e 26
  2. Mateus, 6:12

- RIBEIRO, Cesar Saulo [coord.]. O Evangelho por Emmanuel comentários ao Evangelho segundo Mateus. 1.ed. Páginas 143, 151, 162, 174, 214, 206, 207, 216. Brasília: FEB, 2016.

junho | 2017

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – junho/2017

Amar nossos inimigos significa que nossos exemplos e atitudes devem servir de base para a renovação no bem de nossos…

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