Junho | 2024

Existe um “delay” na comunicação mediúnica

Orson Peter Carrara

orsonpeter92@gmail.com

Deve-se considerar que a informação passada pelo Espírito comunicante leva um tempo para ser processada pelo médium

 

O conhecido delay, diariamente constatado nas transmissões via satélite, é um intervalo de tempo para os sinais de áudio e vídeo partirem de sua origem e chegarem ao seu destino. Apresentadores, repórteres, entrevistados e convidados comumente precisam lidar com esta situação. O delay pode ser imperceptível ou até de alguns segundos; está presente nos programas de TV e nas transmissões pela internet.

Pensemos: será que existe também um delay nas comunicações mediúnicas? Desconsiderar essa possibilidade pode levar à precipitação do dialogador que atende, por exemplo, um Espírito em dificuldade. Nos diálogos com os Espíritos, especialmente nos atendimentos socorristas de esclarecimentos, é preciso dar um tempo, aguardar a resposta. Afinal, mesmo que o Espírito responda de imediato a uma indagação do esclarecedor, deve-se considerar que a informação leva um tempo para ser processada pelo médium.

Vale lembrar que médium é um intermediário, é uma ponte entre a origem da informação e o destinatário da comunicação, que normalmente é o dialogador encarnado. Trava-se aí um processamento da ideia comunicada, em que o médium tem ativa participação, pois que influi no conteúdo, tanto intelectual quanto moral.

O meio de transmissão do comunicante espiritual, o médium, apresenta características de percepção, absorção e processamento que variam indistintamente, especialmente em função de seu intelecto, de sua moralidade, de sua dificuldade ou facilidade na assimilação da mensagem e transmissão no contexto do diálogo, e até mesmo de suas variadas bagagens como ser humano encarnado e como Espírito imortal. Um médium experiente, mais preparado, processará rapidamente, outro levará um tempo maior.

Existe ainda a influência do meio, que pode igualmente dificultar ou facilitar o processo. As condições orgânicas, emocionais e psicológicas do médium também interferem nesse quadro de decodificação do conteúdo.

Logo, o delay da comunicação mediúnica pode variar de segundos a minutos, e não deve impacientar o esclarecedor. Este deve aguardar pelo menos um tempo sensato, até porque a demora excessiva da resposta pode representar retirada ou saída do Espírito, ou ser algo proposital. Daí a experiência de sempre observar. O esclarecedor aprenderá isso com o tempo.

Se nos diálogos entre nós, os encarnados, muitas vezes precisamos de um tempo para pensar por nós mesmos, consideremos que no intercâmbio mediúnico são duas mentes em conexão e sofrendo interferências variadas, levando, pois, um intervalo razoável para que os pensamentos sejam devidamente assimilados.

É um assunto pouco ou nunca falado que precisa ser abordado, até para diminuir a ansiedade dos esclarecedores mais novos. Estes, por sua vez, também precisam processar suas respostas, na maioria das vezes inspiradas pelos bons Espíritos. É um procedimento mútuo.

Aguardar pode reservar grandes surpresas e aprendizados.

O meio de transmissão do comunicante espiritual, o médium, apresenta características de percepção, absorção e processamento que variam indistintamente, especialmente em função de seu intelecto, de sua moralidade, de sua dificuldade ou facilidade na assimilação da mensagem e transmissão no contexto do diálogo (...)

Como vemos, a mediunidade é uma faculdade maravilhosa, fonte fecunda de aprendizados. Estamos sempre aprendendo com as experiências e a prática aprimora nossas tarefas.

O assunto nos motiva a um novo estudo, em O Livro dos Médiuns, dos capítulos XIX — Papel do Médium nas Comunicações, XX — Influência Moral do Médium, e XXI — Influência do Meio. Especialmente o primeiro está diretamente ligado ao assunto. Nele, encontramos:

“223. 1 — O médium, no momento em que exerce sua faculdade, está em um estado perfeitamente normal? — Algumas vezes está num estado de crises mais ou menos pronunciado (...).”

Mais adiante, ainda no mesmo item 223, mas na questão 6:

“O Espírito que se comunica por um médium transmite diretamente seu pensamento, ou esse pensamento tem por intermediário o Espírito encarnado do médium? — É o Espírito do médium que o interpreta, porque está ligado ao corpo que serve para falar, e é preciso um laço entre vós e os Espíritos estranhos que se comunicam, como é necessário um fio elétrico para transmitir uma notícia ao longe, e no fim do fio uma pessoa inteligente a recebe e a transmite.”

Magnífico!

O destaque no texto é meu. Trata-se de um aspecto normalmente esquecido e muito relevante.

Será interessante ainda consultar as respostas 7 (sobre alteração do conteúdo pelo médium) e 8 (quando o médium é um intérprete de má vontade).

Referido item, aqui em destaque, com suas numerosas questões complementares, é muito rico em instruções doutrinárias para médiuns e dirigentes.

Em função das considerações acima enumeradas e seus desdobramentos práticos, o delay mediúnico é agora mais bem compreendido. A questão precisa estar nas cogitações daqueles que cumprem a nobre tarefa de esclarecedor nas reuniões mediúnicas.

Por fim, lembramos que normalmente são desprezados os detalhes do tempo decorrido entre o sentimento ou a fala de um desencarnado até a expressão audível transmitida para os encarnados. São segundos... mas de muita importância.

 

O autor é escritor, palestrante e divulgador espírita. Reside em Matão, SP. Tem mais de 20 livros publicados, entre eles "Wallace Leal - Uma brisa perene" (Ed. O Clarim).

junho | 2024

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – junho/2024

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