Fidelidade espiritual
Ailton Barcelos da Costa
ailton.barcellos@gmail.com
Não podemos interpretar a passagem pela Terra senão como santa oportunidade de trabalho e purificação
Alcíone, na obra Renúncia, nos fala que para almas vulgares a vida na Terra representa um conjunto de possibilidades, de levianas experiências, com o sentido de satisfação dos desejos do corpo físico e, acima de tudo, de viver em função de seu ego, como se a vida fosse uma série de eventos ao acaso. No entanto, para nós, que temos algum conhecimento das coisas divinas, que concebemos a pluralidade das existências, não podemos interpretar a passagem pela Terra senão como santa oportunidade de trabalho e purificação, o que hoje ainda é algo raro de se ver.
A encarnação só tem um sentido, que é o cumprimento do compromisso assumido conforme os desígnios de Deus. Podemos indagar na mesma linha de Alcíone na referida obra: — A nossa condição atual não seria uma repetição de experiências de outras encarnações? Quem nos dirá que não tenhamos vivido noutra época, manchando a nossa alma, e que não tenhamos cooperado para as quedas de nossos irmãos de caminhada? Não será justo que soframos a consequência de nossos erros?
As respostas para indagações tão sublimes são velhas conhecidas de nós nos dias de hoje, através da sublime doutrina trazida por Kardec: sim, todos estamos aqui em cumprimento aos desígnios traçados antes de nossa atual encarnação, sempre com a dupla tarefa de avançar a nós mesmos e a reparar os erros cometidos contra nossos companheiros de caminhada.
Emmanuel, em Comentários ao Evangelho Segundo Lucas, lembra que o Cristo de Deus nos aguarda no monte da vitória e da redenção, esperando que tenhamos suficiente coragem para abraçar o heroísmo oculto na fidelidade aos nossos próprios deveres até o fim.
Fidelidade, para Emmanuel, em Comentários ao Evangelho Segundo João, é a compreensão do dever assumido perante a espiritualidade, é antes de tudo o estabelecimento que nós, encarnados e candidatos a discípulos de Jesus, tenhamos com o esforço pelo aperfeiçoamento individual, para a aquisição dos bens eternos.
No decorrer da História, certamente nos lembraremos de seres humanos iluminados e fiéis a Deus em seus desígnios, uns mais e outros menos. Porém, só Jesus pôde apresentar ao mundo o estado de perfeita comunhão com o Pai que está nos céus, e por isso é o nosso grande exemplo de fidelidade a seguir.
Para seres humanos como nós, comuns, ainda em busca do burilamento espiritual, as lutas do mundo representam a oportunidade de sermos fiéis a Deus. Seja qual for a experiência em que estejamos na Terra, devemos lembrar que ninguém recebe a oportunidade de reencarnar novamente para acomodar-se com a inércia, no desprezo deliberado às leis que regem a vida, ou seja, nosso dever para com a nova existência dever ser a nossa escola.
Dessa forma, conforme nos informa Emmanuel, não devemos nos deter em vantagens passageiras, do culto ao ego, ao orgulho e à satisfação dos desejos do mundo, pois é imprescindível sacrificar no santuário do nosso coração tudo aquilo que constitua bagagem de sombra no campo de nossas aspirações e desejos.
Quando nos distanciamos de Jesus e de seus ensinamentos, conforme nos diz Emmanuel em Comentários ao Evangelho Segundo Lucas, fugindo à ação nas linhas do exemplo que o seu divino apostolado nos legou, preferindo a senda vasta de infidelidade à própria consciência, cavamos, sem perceber, largos abismos de destruição e miséria por onde passamos.
Alcíone, em Renúncia, nos diz que toda vez que fugimos ao desígnio sagrado de Deus erramos no labirinto da indecisão e da amargura, uma vez que se nos entregarmos à satisfação de um capricho mundano e sentimental, colocamos a vida material acima da fidelidade espiritual.
Emmanuel também nos diz, em Comentários às Cartas de Paulo, que a determinação divina para o aprendiz do Evangelho é seguir adiante, ajudando, compreendendo e servindo a todos, uma vez que fugir ao bem é desorientar os semelhantes e aniquilar-se.
Nessa concepção divina, a disciplina do próprio Espírito na garantia da felicidade geral dos irmãos de caminhada é estabelecer em nós próprios o caminho para o céu que almejamos, uma vez que a renúncia de nós mesmos eleva, enobrece e ilumina.
- SILVA, Saulo Cesar Ribeiro da (Org). O Evangelho por Emmanuel: Comentários ao Evangelho Segundo João. Coleção “O Evangelho por Emmanuel”. 1.ed. Brasília: FEB, 2015.
- Idem. O Evangelho por Emmanuel: Comentários ao Evangelho Segundo Lucas. Coleção “O Evangelho por Emmanuel”. 1.ed. Brasília, FEB, 2015.
- Idem. O Evangelho por Emmanuel: Comentários às Cartas de Paulo. 1.ed. Coleção “O Evangelho por Emmanuel”. Brasília, FEB, 2017.
- XAVIER, Francisco C. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel. 36.ed. 7.imp. Brasília: FEB, 2017.
O autor é Doutor em Educação Especial pela UFSCar, médium e palestrante espírita em São Carlos, SP. Autor do livro "Obsessão em tempos de transição" (Ed. O Clarim).
agosto | 2024
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