Novembro | 2022

O bom pastor

Dorothy Jungers Abib

abibdorothy@uol.com.br

Dois mil anos depois, fica muito clara para nós a lição do Mestre, porque já abrimos um pouco mais a nossa mente à compreensão dos seus ensinos

 

O capítulo 10 do Evangelho de João é um primor de lições, em que Jesus se coloca como o bom pastor, evidenciando o seu cuidado, o seu zelo, e toda a manifestação do seu amor por nós.

De início, esclarece que quem não entra pela porta do curral das ovelhas é um salteador ou ladrão. Opõe-se a este o pastor, que entra pela porta do ovil, chama as ovelhas pelos nomes e as tira uma a uma, pois elas conhecem a sua voz e se entregam confiantes a ele, seguindo-o. Elas jamais seguem a voz de um estranho, que não conhecem e em quem não confiam.

Anuncia o Evangelho que Jesus narrou esta parábola e seus discípulos não entenderam o que ele lhes dizia. Dois mil anos depois, fica muito clara para nós a lição do Mestre, porque já abrimos um pouco mais a nossa mente à compreensão dos seus ensinos. Mas, naquele momento, eles não o compreenderam, e pacientemente Jesus os esclarece: “Eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.”

Quem eram os ladrões e os salteadores? Todos aqueles falsos profetas que pululavam entre escribas e fariseus, além dos povos pagãos que os oprimiam, impedindo-os de ver a Luz e a Verdade, que agora ele nos trazia.

E continua: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará e sairá e achará pastagens.”

Eis que ele esclarece que é a porta. Qual o papel da porta, senão permitir que se entre e saia? O que significa isso, senão a liberdade de ir e vir que ele nos proporciona? Liberdade pela qual todos ansiamos.

E que pastagens são estas? Tudo o de que precisamos. Às ovelhas bastavam água e pastagem, mas para nós é tudo o de que precisamos para viver uma vida feliz.

E ainda mais, ele diz: “O ladrão não vem senão roubar, matar e destruir: eu vim para que tenham vida e vida em abundância.” Aqui o Mestre nos oferece o supremo dom, o dom da vida.

Mas nós já não tínhamos vida antes de Jesus? Qual a razão da sua afirmativa, “eu vim para que tenham vida”? A que vida Jesus se refere?

(...) o pastor dá a vida pelas suas ovelhas, exatamente como ele [Jesus] fez por nós (...)

Certamente ele não se refere à vida animalizada em que vivíamos, na grande maioria, uma vida só preocupada com posses; com guerras para conquista de mais territórios; com egoísmo e luta desenfreada pelo poder; uma vida na qual os doentes graves, como os leprosos, eram abandonados para morrer à míngua; uma vida na qual os pais, soberanos da família, davam filhos e esposas para pagamento de dívidas, e onde prisioneiros de guerra eram escravizados, assim como os povos vencidos nas batalhas tão comuns. Esta não é a vida que Jesus veio nos trazer.

Ele nos trouxe a vida feliz, na qual cada um deve ser responsável pela sua felicidade. Uma vida que se nos promete eterna, desde que a busquemos, através de uma existência útil, dadivosa e pautada pelo amor, em todos os âmbitos da sociedade, uma vida sem escravos, sem miséria, sem fome, porque onde há amor, ninguém permite que o outro tenha fome. Esta a vida que ele veio nos oferecer e que, infelizmente, os homens custaram tanto a entender. E agora, nos nossos dias, timidamente procuram aplicar nos contextos sociais.

E ainda, Jesus completa: “vida em abundância”! Não bastasse nos dar este supremo dom, ainda o oferece em abundância, e não com abundância. Se usasse a preposição com significaria apenas um modo da coisa, de grande quantidade. Usando a preposição em, exprime a ideia de estado, ou qualidade, fim, sucessão, tempo, significando abundância excedente, extraordinária, que supera a medida costumeira, excelente, especial, magnífica, em plenitude de tudo, uma vida perfeita e rica sob todos os ângulos. Tal é a vida que ele nos oferece.

Mas será que quando seguimos o nosso pastor temos uma vida assim? Claro que sim!

Quando o Mestre se coloca como nosso pastor e o seguimos confiantes, entregando-nos docilmente às suas mãos, somos, sim, plenos de felicidade, porque a nossa mente e o nosso coração se abrem, se enchem de luz e entendemos o que é essência e fundamental para nos fazer felizes.

Nos versículos seguintes, o Mestre ainda nos confirma que o mercenário, quando vê os lobos, foge, mas o pastor dá a vida pelas suas ovelhas, exatamente como ele fez por nós: nasceu entre nós, numa dádiva grandiosa do seu elevadíssimo Espírito, para que definitivamente entendêssemos que o amor que ele pregou e exemplificou é a solução e o fim de nossa vida, de nossa existência.

Que Deus nos ajude e abençoe para que façamos realmente de Jesus o nosso bom pastor.

 

- MATEOS, Juan; BARRETO, Juan. O Evangelho de São João, Análise Linguística e Comentário Exegético. Trad. Alberto Costa. São Paulo: Ed Paulus, 1999.

- A Bíblia Sagrada. Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. São Paulo: Casa João Ferreira de Almeida, 2007.

- O Novo Testamento. Trad. Haroldo Dutra Dias. Brasília: Ed. Conselho Espírita Internacional, 2010.

novembro | 2022

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – novembro/2022

Nossa mente e nosso coração se abrem quando nos entregamos a Jesus

Lista completa de matérias

 Missão bem cumprida

 Conflitos e suas consequências

 A tudo sobrepaira o amor

 Na apresentação de “Nosso Lar”

 A homeopatia e os primeiros movimentos espíritas no Brasil

 Apego e prisão à matéria

 Nascimento de Jesus

 O bom pastor

 Médiuns fotógrafos

 Mensagem de amor

 “Deistinação”

 Ruídos mentais

 Obrigado, Apparecido Belvedere!