O casamento pode ser acidental?
Rogério Miguez |
rogmig55@gmail.com
O acaso é completamente refutado pela teoria espírita.
Acidental: Adj. 2g. 1. Casual, fortuito; imprevisto, acidentário.[1]
É muito difundida entre as massas a ideia de que as leis de Deus contemplam situações e fatos originados ao acaso. Há aqueles crendo na existência da “bala perdida”[2]; outros acreditam em fenômenos da natureza acontecendo de maneira acidental; alguns entendem uniões matrimonias realizadas sob a égide do acaso, entre muitos outros exemplos.
Muitos veem o acaso como um ser inteligente, todo poderoso, regendo desfechos acontecidos ao longo de nossas vidas, como se não houvesse ordem e equilíbrio no Universo, tampouco nas existências dos espíritos, sejam estes encarnados ou desencarnados. Para aqueles, parece não haver diretrizes governando tudo e todos, creem em Deus, mas também que “às vezes” temos fatos regidos pelo fortuito, por acidente, nos levando ao absurdo de aceitar que a Divindade, eventualmente, não sabe o que acontece e também não possui controle sobre a sua própria criação.
Particularmente em relação ao casamento, o conhecido médico André Luiz, que nos deixou uma obra considerável narrando como funciona o plano espiritual, entre outras, já afirmava categoricamente em 1959[3]:
“Quanto ao divórcio, segundo os nossos conhecimentos no Plano Espiritual, somos de parecer não deva ser facilitado ou estimulado entre os homens, porque não existem na Terra uniões conjugais, legalizadas ou não, sem vínculos graves no princípio da responsabilidade assumida em comum.” (destaque nosso)
Observa-se que o autor exclui a opção do casamento casual, entretanto, alguns poderiam argumentar ter André Luiz expressado apenas a sua opinião, afinal escreveu: “segundo os nossos conhecimentos no Plano Espiritual”. Entretanto, este mesmo autor, fortalece o fundamento de sua opinião, ou seja, não há acidentes nesta área, agora em 1960, quando na excepcional obra Conduta Espírita registrou[4]:
“Usar com prudência ou substituir toda expressão verbal que indique costumes, práticas, ideias políticas, sociais ou religiosas, contrárias ao pensamento espírita, quais sejam sorte, acaso, sobrenatural, milagre e outras, preferindo-se, em qualquer circunstância, o uso da terminologia doutrinária pura.” (destaque nosso)
Nesta mesma obra, adiante, ratifica ainda uma vez mais[5]:
“Libertar-se das cadeias mentais oriundas do uso de talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos de qualquer natureza, enganosos e prescindíveis. O espírita está informado de que o acaso não existe.” (destaque nosso)
Destes dois textos compreende-se claramente ser André Luiz frontalmente contrário à tese que defende fatos acontecendo ao acaso.
Quando se afirma haver um casamento acidental, sugere-se também que o acaso uniu estes dois seres, conforme o primeiro significado da palavra acidental, o que é inadmissível. Contudo, outra opção da palavra acidental pode se aplicar aos casamentos, ou seja, o imprevisto, dado que nem todos os matrimônios que foram acertados no plano espiritual se realizam no plano terreno, ou seja, há imprevisibilidade, de acordo com o livre-arbítrio dos espíritos. Houve um acerto entre dois espíritos antes de voltarem, mas quando aqui chegam, por razões diversas, não concretizam o que foi acordado, preferindo estabelecer outro laço de parceria.
Mesmo nesta última possibilidade, não há acaso, pois, este “outro espírito”, que formou esta imprevista união certamente se ligou ao parceiro por laços antigos de convivência, de simpatia, ou mesmo por ajuste, não dando margem a que se diga ter sido o acaso o elemento que os uniu.
Observemos agora como se expressa o Espírito Emmanuel sobre esta questão em análise em uma obra datada de 1970 em plena revolução dos costumes que caracterizou a humanidade daqueles tempos[6]:
“[...] é forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais forem, sem raízes nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são esposadas em comum.” (destaque nosso)
E na mesma obra, em outro capítulo mais adiante afirma[7]:
“Partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas.” (destaque nosso)
Como se conclui, há na literatura espírita material de esclarecimento suficiente para invalidar a hipótese da união ao acaso. Sendo assim, o uso da expressão acidental deveria ser evitado, pois pode emprestar um significado de ter ocorrido ao acaso ou fortuitamente, porém, ambos os significados se chocam com os atributos da onisciência e onipotência de Deus, quando estes se tornariam fragilizados, caso se aceite o acaso como elemento gerador de uniões.
- Novo dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. Edição revista e aumentada. 2. ed. Editora Nova Fronteira, 1986.
- MIGUEZ, Rogério. Bala perdida!? In: Revista Internacional de Espiritismo. Edição de junho de 2016. Matão: Casa Editora O Clarim.
- XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, W. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. Segunda Parte. cap. VIII. 1. ed. Rio de janeiro: FEB, 1959.
- VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. Cap. 13: Na propaganda. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
- VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. Cap. 18: Perante nós mesmos. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
- XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 7: Casamento. 9. ed. 2. imp. Rio de Janeiro: FEB, 1986.
- XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 8: Divórcio. 9. ed. 2. imp. Rio de Janeiro: FEB, 1986.
outubro | 2016
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