O compromisso da escrita
Ailton Barcelos da Costa
ailton.barcellos@gmail.com
Encarnamos em um meio em que podemos desenvolver nossa inteligência e nossas capacidades, sempre com o propósito de a utilizarmos para o bem de todos
Nos tempos atuais reclamamos que se lê pouco e se escreve muito mal. Não faltam textos sendo usados para atacar e prejudicar reputações, sejam nas modernas mídias sociais ou nos tradicionais veículos, como a mídia impressa ou mesmo livros impressos.
Sem dúvida, há uma bela literatura contemporânea a rodear-nos, de diversos cunhos, que vai da científica à espírita. Emmanuel nos traz algumas indagações preciosas a esse respeito:
“Quanta gente não abusará dos recursos da escrita, por veicular imposições e difundir enganos na Terra? Quantas vezes, nós mesmos, teremos movimentado o jornal ou o livro, pretendendo impor nossa interpretação individual?”
Certamente, o leitor pode estar pensando nas disputas políticas atuais ou nos tradicionais conflitos entre famosos escritores ou pensadores, que tentaram ou tentam, de toda forma, gravar nas páginas na História o único ponto de vista que aceitam — o deles —, suprimindo qualquer outra forma de pensamento.
Ao longo da História, como na Idade Média, foram inúmeros casos de acusações inventadas, em textos com uma escrita precisa, com uma única finalidade: causar perseguições e mortes de oponentes, principalmente no período da Inquisição.
Quantos textos difamaram culturas inteiras ou ainda o fazem nos dias de hoje, levando a milhares de mortes, como as perseguições nas épocas das Cruzadas, e mesmo atualmente, contra qualquer cultura que seja diferente da nossa visão ocidental.
Ou seja, estamos trazendo alguns exemplos, como bem retratado por Emmanuel, que aqui escrevem-se para a consecução de determinados objetivos inferiores, aproveitando de publicações para o mercado de propósitos subalternos.
Muito além disso, podemos falar de todos nós que usamos qualquer forma de difusão de mensagens negativas, como bem traz Emmanuel à página 105 da obra Evangelho por Emmanuel: Comentários ao Evangelho Segundo João:
“Vê o que gravas nas páginas da vida. Tuas mãos e atitudes gravam sempre, a todo minuto, com as tintas luminosas ou sombrias do coração. A Terra está registrando o que fazes. Não manches o livro que o Pai nos confiou.”
Allan Kardec nos elucida que o conhecimento, no caso a capacidade de alguns de escrever bem e poder expressar com destreza seus pensamentos, tem limites muito estreitos no mundo em que moramos. Isso acontece sempre, porque encarnamos em um meio em que podemos desenvolver nossa inteligência e nossas capacidades, sempre com o propósito de a utilizarmos para o bem de todos, para ajudar aqueles que não tiveram condições de desenvolver suas capacidades e elevar todos os nossos irmãos.
Somos fruto das mazelas não tratadas do nosso Espírito, do nosso orgulho e do egoísmo, tentando de todas as formas privilegiar somente nós mesmos. Porém, Kardec sabiamente nos diz que o bom é o uso em qualquer bem para o próximo, sendo que o merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo.
Como todos temos livre-arbítrio, contas severas serão pedidas do emprego de nossas capacidades, concedidas a nós por Deus, resultando em colheita obrigatória nas próximas encarnações. Muitas vezes, vemos grafadas nas páginas belas das obras espíritas as consequências dolorosas do uso indevido da inteligência e das habilidades da escrita.
Por fim, ouçamos os conselhos de Emmanuel a dizer-nos que quem escreve precisará lutar contra numerosas leviandades que ameaçam seu Espírito. Que possamos auxiliar, perdoar, trabalhar, amar e servir.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. 116.ed. Araras: Instituto de Difusão Espírita, 1990. Capítulo VII — Bem-aventurados os pobres de espírito. Instruções dos Espíritos: Missão do homem inteligente na Terra.
- Ibidem. Capítulo XVI — Não se pode servir a Deus e a Mamon. Instruções dos Espíritos: Emprego da riqueza.
- SILVA, Saulo Cesar Ribeiro da (Org). O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho Segundo João. Coleção “O Evangelho por Emmanuel”, vol. 4., 1.ed., 1.imp. Brasília: FEB, 2015. Cap. Como falas? Como escreves?
março | 2023
MATÉRIA DE CAPA
O Clarim – março/2023
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