Julho | 2019

O direito da crítica e o Espiritismo

Marcus De Mario |

marcusdemario@gmail.com

Divulgação e imposição são coisas bem distintas

 

Recebemos diversas mensagens de ouvintes em virtude de nossas atividades como programador e apresentador espírita voluntário na Rádio Rio de Janeiro, a emissora da fraternidade, na qual mantemos os programas Destaque na Imprensa Espírita e Mediunidade e Obsessão, e participamos da equipe do Debate na Rio. Uma em particular nos chamou a atenção, pois o ouvinte afirmou não concordar com a visão espírita sobre a vida, sendo contrário às explicações que damos através dos princípios espíritas. Respondemos que ele tem todo o direito de não aceitar o Espiritismo, de não acreditar em seus princípios, pois o livre-arbítrio – liberdade de escolha – é sagrado, e nós, espíritas, não utilizamos os meios de comunicação para impor nossas ideias, para querer transformar as pessoas em espíritas, mas para divulgar o Espiritismo, esclarecendo e consolando, deixando a cada pessoa seu discernimento, suas crenças, seus valores, suas ideias.

Aprendemos com Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, que não devemos fazer prosélitos, ou seja, não devemos impor a Doutrina Espírita, tampouco querer transformar todos em espíritas. O que devemos fazer é divulgar para esclarecer, fornecendo às pessoas o conhecimento sobre o que é e o que não é Espiritismo, sobre a sua verdadeira prática. Saber respeitar o pensamento do outro é fundamental, pois assim obedeceremos à regra áurea ensinada por Jesus: fazer ao outro somente o que gostaríamos que o outro nos fizesse.

Divulgação e imposição são coisas bem distintas, totalmente diferentes. Infelizmente nem todos fazem essa distinção e tentam impor seus pensamentos, suas ideias e suas crenças religiosas com todo vigor, sem respeitar o direito que o outro tem de pensar diferente. Não devemos ser pedra de tropeço, ponto de desunião, de discórdia, alimentando discussões intermináveis que podem acabar mesmo no estabelecimento de uma inimizade, do afastamento de um familiar ou de um amigo. Estamos na existência terrena para aprender a amar uns aos outros.

A imposição de ideias já criou muitos dissabores na história da humanidade. A luta entre crenças religiosas engendrou perseguições, torturas, fogueiras, guerras, de triste memória. Embates entre ideias filosóficas criaram antagonismos sem conta e muitos males para o avanço do conhecimento. Ideias fechadas em si mesmas atravancaram descobertas científicas, ridicularizando muitas hipóteses que depois se mostraram verdadeiras. Tudo isso levando homens e mulheres a se oporem, a se combaterem, em prejuízo não apenas de si mesmos, mas da humanidade.

O espírita deve respeitar a crença religiosa, seja ela qual for, de quem a possui. Deve respeitar o pensamento ateísta e materialista de quem assim veja a vida. Só não deve confundir respeito com omissão, ou seja, não deve evitar falar do Espiritismo, esconder sua própria crença, aproveitando as oportunidades para esclarecer. Isso nos faz recordar história contada pelo Espírito Irmão X através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, publicada no livro Cartas e Crônicas, com o título “Espiritismo e Divulgação”.

Nessa história temos dois grandes amigos, Joaquim Mota, espírita desde a infância, e Licímio Fonseca, este recentemente desencarnado e sem conhecimento espiritual. Foram 26 anos de intensa amizade, entretanto Mota nunca declinou ao amigo sua condição espírita, nunca o esclareceu sobre o Espiritismo. Não agia assim por má-fé, mas por acreditar que devia respeitar as ideias materialistas do amigo. Tiveram então um encontro no mundo espiritual, para alegria de Joaquim Mota, mas esse encontro acabou sendo uma grande lição para ele. O amigo Licínio, amargurado, o culpou por todo o sofrimento a que se vira levado, pois conhecendo a realidade espiritual, nunca procurara esclarecê-lo. Foi então que Mota entendeu que não devia esconder sua crença, que a divulgação do Espiritismo era um dever, ou seja, respeitar, sim; omitir-se, não.

Voltando ao ouvinte que provocou este texto, deixemos claro que não utilizamos a tribuna espírita ou qualquer meio de comunicação (rádio, televisão, redes sociais, jornais etc.) para impor as ideias espíritas a quem quer que seja. Divulgamos o que consideramos, com lógica, bom senso, raciocínio e estudo dos fatos, que seja a verdade, ou seja, a existência de Deus, a imortalidade da alma, a comunicabilidade entre encarnados e desencarnados e a lei de evolução através da reencarnação, princípos básicos do Espiritismo.

E antes que alguém pergunte, a Rádio Rio de Janeiro é uma emissora espírita e que pode ser ouvida no Brasil e no mundo através da internet, bastando acessar www.radioriodejaneiro.am.br, inclusive no celular. Aqui está a divulgação, mas sintonizar a emissora, bem, isso já uma questão que compete a cada leitor decidir.

 

 

 

 

abril | 2018

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – abril/2018

O espírita deve respeitar crenças religiosas e o pensamento ateísta e materialista, mas não deve furtar-se de propagar o Espiritismo

Lista completa de matérias

 O orgulho é uma anomalia

 O direito da crítica e o Espiritismo

 Notícias e eventos – Abril /2018

 Bons ventos, calmarias e tormentas

 Amor retributivo

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 Dons e alvíssaras

 Homem-psi!

 O verdadeiro sentido psicológico da existência na Terra

 Sogras e sogras

 Ainda é tempo de semear

 Entre a cruz e a “ressurreição”