A encarnação é a forma prática de aprendizado da Lei Divina. Não poderemos recuar diante da proposta de amar
O maior mandamento
Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante
walkirialucia.wlac@outlook.com
Mais atual que nunca, amar a Deus e ao semelhante constitui pedra angular e guia da criatura humana
“Os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca dos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, para o tentar, propôs-lhe esta questão: — Mestre, qual o mandamento maior da lei? Jesus respondeu: — Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.”[1]
Num mundo cujo convite é para o cumprimento do olho por olho, dente por dente, defrontamo-nos com o Mestre Rabi convocando-nos ao amor a Deus e ao semelhante. Parece um contrassenso ou uso de palavras que serviram para aplicação em momento específico. Contudo, este momento ressoa ainda mais agora em nossos corações, pois que a humanidade já avançou em entendimento e, por isso, alguns afirmam que as criaturas não se permitem mais ao amor ao semelhante, tampouco à glorificação de Deus.
Está correto este pensamento? De maneira alguma!
Mais atual que nunca, amar a Deus e ao semelhante constitui pedra angular e guia da criatura humana. Vivemos buscando um meio de prosseguir a encarnação. Muitos de nós afirmamos que não temos objetivos na existência reencarnatória, esquecendo-nos de que a principal obra de nossas vidas é evoluir. Incluem-se até mesmo aqueles que se dizem não reencarnacionistas, pois entendemos que nenhuma criatura tem a intenção deliberada de permanecer estacionária.
É desejo de todos melhorar o padrão que nos encontramos, independentemente do objetivo. Estamos saindo da escala atual para outra mais promissora, atualizando o conhecimento, aprimorando o que já possuímos e assim adquirindo um cabedal que nos candidata ao aprendizado moral, através da sabedoria, avançando até alcançar entendimento espiritual.
Saindo do negacionismo para o entendimento do divino em nós, passamos por várias experiências que nos provam que a criatura humana não está só habitando o Universo. Isto eleva o patamar do entendimento, permitindo que ela comece a interligar-se ao todo, à unidade da Criação, à toda a Criação. Percebe-se não como um dado jogado ao acaso, mas um indivíduo com objetivos perante o Universo e perante a Divindade. Sendo um ser pensante, posiciona-se como cocriadora e partícipe no bem que se estabelece no mundo.
Avançando mais, a criatura encontra-se como ser de contato com a Divindade, uma centelha de amor a vibrar no Universo. Pulsa nela a vibração do próprio Criador. Não estamos mais entediados pela mesmice do dia a dia. Algo se diferencia em nós, pois estamos envolvidos pelo próprio Criador. Passamos a conjugar o verbo na primeira pessoa do plural, não mais no singular. Entendemos que não estamos sozinhos no Universo, mas vinculados uns aos outros para que possamos individualmente evoluir.
O amor deve ser entendido como o transbordar da Lei de Deus em nós. Amar a Deus sobre todas as coisas é, em primeiro lugar, conectar-se com a Lei, conectando-se com o próprio Deus.
Nossa visão de Deus ainda é restrita. Só os Espíritos puros O conhecem. Mas à medida que O amamos, compreendemos a Sua Lei e passamos a agir conforme ela emana, devolvemos em retidão o que a compreensão nos mostra.
Amar o semelhante e compartilhar com ele o nosso entendimento sobre a própria Lei possibilita-nos colocar em prática o que entendemos da mensagem divina. Não temos a compreensão completa, por isso nos é pedido amar como a nós mesmos. Não amarmos mais do que entendemos da própria Lei.
Assim, a encarnação é a forma prática de aprendizado da Lei Divina. Não poderemos recuar diante da proposta de amar: “Podem os Espíritos degenerar? — Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”[2]
Não é possível, pois, retroagir na própria evolução.
Aproveitemos a possibilidade que nos foi ofertada e aprendamos a amar. Amar quem nos ladeia a reencarnação. Amar quem se coloca como opositor de nossos propósitos evolutivos. Isto não significa colocar no mesmo patamar as duas criaturas, mas não nutrir ódio por quem quer nos atrapalhar a caminhada. Temos a opção de caminhar e desculpar se for difícil demais perdoar, ou saturarmo-nos desta energia até que ela se desgaste em nós. Será um processo longo e doloroso de aprendizado que poderíamos ter poupado, avançando mais rapidamente em outros terrenos do conhecimento e do amor.
- MATEUS, cap. XXII, vv. 34 a 40.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 118.
julho | 2021
MATÉRIA DE CAPA
O Clarim – julho/2021
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