
O recado da serenidade
Carlos Abranches
gutoabr@gmail.com
Aquele que controla os outros pode ser forte, mas aquele que se domina é ainda mais poderoso
Dias de estresse, movimentos de crise, irritabilidade à flor da pele. Como é difícil vencer os desafios de um cotidiano que corriqueiramente leva a criatura a confrontar-se com os próprios limites, na tentativa aflita de muitas vezes salvar o emprego, relações afetivas ou a própria autoestima.
Uma das alternativas sugeridas pela escola filosófica taoísta para enfrentar tantas adversidades é a serenidade.
Importante lembrar que a origem do Taoismo é atribuída aos ensinos de Lao Tsé (604–517 a.C.). A sabedoria taoísta está resumida no Tao Te King, o “caminho e seus princípios morais” ou “o tratado do caminho da virtude”.
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Diz Lao Tsé que o homem superior antecipa tarefas difíceis enquanto elas ainda são fáceis, e realiza coisas que se tornam grandes enquanto elas ainda são pequenas. Portanto, o homem superior, ainda que nunca faça o que seja grande, é capaz, por causa disso, de realizar as maiores coisas.
A respeito dos ruídos cada vez mais tensos nas relações, o recado do mestre chinês é claro. Diz ele que “aquele que sabe muito sobre os outros pode ser instruído, mas aquele que se compreende é mais inteligente. Aquele que controla os outros pode ser forte, mas aquele que se domina é ainda mais poderoso”.
Para amenizar as durezas da luta diária, ele sugere um passeio de volta à simplicidade. “Cada ser do Universo volta à fonte comum, e o retorno à fonte significa serenidade”.

(...) precisamos manifestar essa expressão de equilíbrio no universo de nossas relações, em que os esforços pessoais por uma serenidade consistente resultarão em tranquilidade maior, na vida atribulada de quem partilha conosco da existência
Em tempos de desrespeito ao meio ambiente e de conduta antiecológica no corpo, na mente e no comportamento, Lao Tsé propõe uma nova atitude, ao afirmar que “quando se toma a natureza por guia, por amigo, o viver se torna fácil, calmo e alegre: as preocupações se vão, a serenidade se instala”.
Tais reflexões levam o indivíduo consciente, interessado na própria iluminação, a uma jornada intensa de cuidados para consigo mesmo. E quem seguir por esse caminho pode estar certo de ver-se convidado a refletir sobre a necessidade de tornar-se um estudioso da serenidade. Uma atividade saudável, jamais levada ao ponto de exaustão, pode alternar-se com o mergulho no universo dessa qualidade da alma em ascensão.
Diz Lao Tsé: “senta-te imóvel como uma rocha e volta a mente para a paz. Fecha as portas dos sentidos. Concentra-te num objeto ou, melhor ainda, penetra num estado de vigília sem objetivo. Olha com a mente para dentro de ti e contempla o brilho interior”.
Assim também se expressa Emmanuel, quando assevera: “sabemos que nada sucede sem permissão da Divina Providência, mas todos somos chamados a cooperar com a Providência Divina, que nos consente a liberdade de atuar nos acontecimentos do cotidiano, em nossa condição de Espíritos responsáveis”.[1]
O amigo espiritual conclui, afirmando que “em muitos lances difíceis da vida, a serenidade dos outros depende exclusivamente de nós”. Para alcançar essa concepção, ele afirma que, em muitos momentos da travessia, precisamos manifestar essa expressão de equilíbrio no universo de nossas relações, em que os esforços pessoais por uma serenidade consistente resultarão em tranquilidade maior, na vida atribulada de quem partilha conosco da existência.
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Diante dessa proposta, fica uma questão: o que faz com que tantos tenham tanta dificuldade em asserenar os ânimos, mesmo sabendo que essa conduta pode significar saúde e paz interior?
Depende, evidentemente, da acuidade da percepção espiritual, além de um forte desejo pela evolução dos sentidos, através da necessária transformação interior.
Ainda sob inspiração da sabedoria oriental, encerro esta página recordando o que Sun Tzu, autor de A Arte da Guerra, sugere, de maneira alinhada com Lao Tsé e o Espiritismo, quando assevera: “Se conheces o inimigo, tens vantagem sobre ele; mas se conheces a ti mesmo, não tens inimigos”.
A paz do mundo começa em mim. Com o pensamento e a conduta retos, sou capaz de transformar a vida ao meu redor.
Façamos a nossa parte. O Cristo espera por nós.
- XAVIER, F. C. Calma. Pelo Espírito Emmanuel. São Bernardo do Campo: GEEM, 2000. Cap. 28.
O autor é jornalista, filósofo e psicanalista. Mineiro de Juiz de Fora, é residente em São José dos Campos, SP, escritor e divulgador da Doutrina Espírita, e autor de oito livros.
outubro | 2025
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