Abril | 2024

Passaporte gratuito para a ventura celeste?

Orson Peter Carrara

orsonpeter92@gmail.com

Qual o documento para a travessia inevitável?

 

Documento muito utilizado nas viagens internacionais, o passaporte é emitido junto aos órgãos competentes. Reconhecidamente, é de grande utilidade nos deslocamentos pelo planeta.

E no deslocamento fatal — pelo menos na presente existência, na conclusão que acontece de tantas e variadas formas —, quando fisicamente a vida se esgota e somos transferidos para a dimensão verdadeira? Qual o documento para a travessia inevitável?

Num parágrafo da Apresentação (datada de 25 de março de 1947) do livro No Mundo Maior (Espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier, edição FEB), intitulada “Na Jornada Evolutiva”, escreve o benfeitor Emmanuel:

“A morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca promoverá compulsoriamente homens a anjos. Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos imutáveis da Lei, em toda parte.”

Várias expressões chamam a atenção no curto parágrafo:

  1. a) A ninguém propiciará passaporte gratuito — indicando imparcialidade e justiça das leis divinas. Não há qualquer tipo de preferência ou privilégios. Todos deveremos conquistar, com esforço próprio, a ascensão a planos melhores.
  2. b) Ventura celeste — nossa limitada percepção não tem, por ora, capacidade de dimensionar o alcance e o significado da expressão. Estamos ainda condicionados a referências humanas. Todavia, alegrias inimagináveis e emoções incomparáveis aguardam os que conseguirem vencer a si próprios.
  3. c) Nunca promoverá compulsoriamente homens a anjos — a palavra “anjo” não se caracteriza por seres alados dotados de asas. Em absoluto, não! Eles são aqueles que já se depuraram moralmente, habitando planos maiores e melhores, desfrutando da autêntica alegria da paz de consciência e plenos no trabalho de servir aos irmãos menores; o alcance dessa condição só se dará pelo autoaprimoramento.
  4. d) Bagagem que houver semeado — eis um trecho que deve merecer nossa ampla atenção. Nossa semeadura real, sem interesses, sem seduções de paixões e interesses, é que garantirá ingresso e acesso a lugares bons e elevados. Ocorrendo, porém, semeaduras de ódio, intrigas, manipulações e agressividades de qualquer espécie, convenhamos, nossa habilitação não será das melhores. Nunca como castigo, mas sempre como consequência.
  5. e) Características imutáveis da Lei — o autor relaciona ordem, hierarquia e paz do trabalho edificante. Uma pausa para refletir sobre a abrangência dos três itens e seus desdobramentos nos fará agir com mais prudência.

O precioso texto assinado por Emmanuel apresenta também, entre outras, importantes considerações em suas quatro páginas, que merecem transcrição, adaptadas a seguir para completar o contexto de nossa presente abordagem:

  1. a) A experiência humana é escada sublime;
  2. b) Os degraus devem ser vencidos a preço de suor com o proveito das bênçãos celestiais;
  3. c) Aos crentes do favoritismo, as páginas do livro em referência provocarão descontentamento e perplexidade.

Separamos e adaptamos os três itens acima, especialmente por causa da expressão “crentes do favoritismo”. Sim, são aqueles que, iludidos ou seduzidos, se consideram preferidos, escolhidos ou merecedores de vantagens a que não fizeram jus.

Não há, na Lei, preferência ou privilégio. O trabalho é gigantesco e permanente para todos.

"Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado (...)" (Emmanuel)

Os capítulos do livro aqui em destaque trazem considerações de vulto sobre o tema. São apenas 20 capítulos e aqui nos ocupamos vagamente, parcialmente, apenas da apresentação da obra.

Desejamos indicar a você que se aprofunde no estudo dessa preciosa peça da literatura espírita.

E para as lesões inevitáveis, fruto de nossa imaturidade ou ignorância, será muito oportuno ler, reler e estudar o Código Penal da Vida Futura, constante do livro O Céu e o Inferno. O relevante documento nos permite compreender o sentido exato da Justiça plena, estatuída pela perfeição absoluta de Deus, o Criador. Sem favoritismo, sem preferências.

O fato maior resume-se na conhecida afirmação de Jesus: a cada um segundo suas próprias obras. Nada mais justo, convenhamos.

 

 

O autor é escritor, palestrante e divulgador espírita. Reside em Matão, SP.

abril | 2024

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