Dezembro | 2021

A inteligência suprema se revela na sabedoria das coisas criadas, pois tudo segue um plano perfeito

Que é Deus?

Dorothy Jungers Abib

abibdorothy@uol.com.br

A pergunta inaugural de “O Livro dos Espíritos” mostra que Deus está ou deveria estar sempre em primeiro lugar na nossa vida

 

Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, recebeu do Pai a missão de coligir os novos ensinamentos que os Espíritos derramavam do Céu para a Terra, a fim de que se instalassem aqui as bases definitivas à sustentação das grandes mudanças necessárias para a implantação do mundo de regeneração, a que o planeta começa a fazer jus.

Como não poderia deixar de ser, Kardec, eminente educador, teve sua formação toda voltada para o ensino e por isso escolheu o método didático de perguntas e respostas, para divulgar com eficácia estes novos ensinamentos.

Assim, estudava fatos, orientações espirituais e novos conhecimentos e leis que lhes enchiam o Espírito e precisavam ser divulgados. Para isso, Kardec organizava, com bom senso, sabedoria e habilidade, perguntas que pudessem esclarecer a todos sobre a nova doutrina (ciência, filosofia e religião) que se delineava para ele.

Assim fez O Livro dos Espíritos, que é considerado o marco inicial da Doutrina Espírita, publicado aos 18 de abril de 1857, contendo na edição definitiva 1.019 perguntas.

Nestas questões por ele preparadas estão contidas as maiores dúvidas do Espírito humano, a respeito dos assuntos mais importantes sobre Deus e a criação, a vida, a morte, a morte precoce de crianças, pessoas que nascem com deficiências, a vida após a morte, a causa dos sofrimentos inexplicáveis, o renascimento, a comunicação com os Espíritos e tantas coisas mais que ocupam os pensamentos daqueles que não vivem uma vida só voltada para as coisas materiais.

E, bem sabemos, Kardec inicia O Livro dos Espíritos com a pergunta: Que é Deus? (Qu’est-ce que Dieu?)

Tal escolha, para dar início a uma nova doutrina, é reveladora e emblemática. Kardec mostra assim que Deus está ou deveria estar sempre em primeiro lugar na nossa vida, acima de tudo e de todos.

Esta simples pergunta ainda revela a qualidade de estudioso sério e cuidadoso, como compete aos que se dedicam às ciências, à filosofia e à religião, além de uma profunda ausência de preconceitos.

Mas como podemos ver isso? No que inicial.

Kardec escolhe usar que (qu’est-ce que) e não quem (qui) para não incentivar a ideia já estatuída daquele deus único, passada a nós pelo Judaísmo, que criou Adão e Eva no paraíso e depois os expulsou de lá, que privilegiava um povo, o hebreu, ante qualquer outro, que favorecia a que uns ganhassem a batalha em vez de outro, que alimentava o povo com manah.

O codificador se prepara assim para apresentar-nos um Deus grandioso, único em sua essência, criador. Tudo isto está contido no uso do que e não do quem, cujo emprego suporia uma pessoa, limitada, um ser definido. Quem não pressupõe nada espera uma resposta livre de ideias antigas e atrasadas.

E o que os Espíritos respondem, sabiamente? “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” Uma resposta, a mais simples possível, e que diz tudo de Deus. É sempre assim que os Espíritos Luminares nos ensinam: com máxima clareza e simplicidade.

Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas; quanta compreensão e entendimento nesta simples resposta. Ela nos explica que tudo foi criado por uma inteligência suprema — e nem podia ser diferente.

A inteligência se revela na sabedoria das coisas criadas, pois tudo segue um plano perfeito, inteligente, como a semente que se transforma numa planta, que dá flores e depois os frutos. Num plano mais complexo, temos a concepção dos seres animais, acontecendo o encontro das duas células que se fundem numa só e continuam crescendo, formando um novo ser dentro de outro que o abriga no seu ventre, desenvolvendo órgãos, tecidos diferentes, como o osso, e cada um com uma função específica para que aquele organismo funcione com perfeição, como o alimento que se transforma em carne e sangue dentro de nós. E como os seres humanos são capazes de pensar, criar a fala, abstrair ideias e trabalhar com números, por exemplo, gerando conhecimentos que refletem em tecnologias cada vez mais aprimoradas, como um computador moderno, que faz de tudo.

De onde provém esta inteligência espantosa que possuímos? Da combinação aleatória de elementos materiais? Não, da inteligência suprema que nos criou e tudo o que existe.

Muitos, no neomodernismo, não aceitam esta inteligência suprema como um Ser, porque seria diminuir a grandeza d’Ele, mas como uma energia inteligente que percorre por todo o Universo, impregnando-o dela.

Assim, começamos a penetrar na grandeza de Deus e, de repente, recebemos a presença do maior Espírito que já esteve entre nós: Jesus. Este Espírito nos traz uma boa nova, diz que esta inteligência suprema é nosso Pai, que nos ama e conhece a cada filho pelo nome. Este Pai que nos oferece o Seu reino de amor, bondade e justiça, que podemos atingir, através do nosso esforço rumo à perfeição relativa a que estamos sujeitos, apenas exercitando uma única coisa: o amor, que é a pura essência de Deus.

Mas como tal inteligência, causa primária de todas as coisas, pode ser um Pai amoroso, que espera a vinda de cada criatura a Seu reino?

Pensemos: somos seres inteligentes e a inteligência é o apanágio do Espírito! Somos Espíritos, portanto, e fomos feitos à imagem e semelhança d’Ele. Então Deus é um Espírito?

E como não? O que define o Espírito é a inteligência, então Deus é o Supremo Espírito, que nos criou, e a todo o Universo.

Mas não seria Ele apenas uma energia inteligente? E quem nos afirma que Espírito não é uma energia?

O que concluímos disto tudo é que ainda somos muito pequenos e sabemos muito pouco.

Vale como exercício de reflexão, não acham?

dezembro | 2021

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – dezembro/2021

A inteligência suprema está na sabedoria das coisas criadas

Lista completa de matérias

 Vontade e progresso

 Que é Deus?

 Sementeira, colheita… sementeira, colheita…

 Fora da caridade não há salvação

 Fanatismo da alma

 Meio bem

 Exegese histórica dos atos dos apóstolos

 A mensagem interrompida

 Mensagem de Amor

 Não há morte; tudo é vida?

 Conduta mediúnica

 Jesus

 Liberdade de pensar e agir