Agosto | 2023

Quem deve educar: a família ou a escola?

Marcus De Mario

marcusdemario@gmail.com

Os professores não são substitutos dos pais, assim como os pais não são substitutos dos professores; antes, devem complementar-se, devem ser verdadeiros educadores

 

A missão de educar, para algumas pessoas, pertence à escola; já outras acreditam que essa missão pertence à família; um terceiro grupo sanciona: a educação é da alçada tanto da família quanto da escola.

Neste ponto temos outra discussão: o que é competência da família e o que é responsabilidade da escola? Não há consenso entre os especialistas da educação.

Não pretendemos enveredar por tal discussão, trazendo a opinião deste ou daquele educador. Nossa intenção, sim, é trazer o pensamento espírita a respeito de tema tão importante, independentemente de os especialistas concordarem ou não com a Doutrina Espírita — mesmo porque ter ponto de vista diferente é um direito igual para todos.  Pedimos, apenas, que seja respeitada nossa opinião, calcada nos ensinos dos Espíritos, conforme os encontramos nas obras assinadas por Allan Kardec.

Os ensinos espíritas nos fazem ver a educação de uma forma bem diferente da usual, pois levam em conta que todo ser humano é uma alma imortal que sobrevive à morte e que se encontra reencarnada, pois que já teve existências anteriores. Alma destinada à perfeição, o que somente alcança através dos próprios esforços, e que traz consigo, ao nascer, ampla bagagem de conhecimentos e experiências já realizados nas vidas pretéritas, passando pelo período da infância que a torna mais maleável, flexível, à influência da educação. Enfim, o pensamento espírita nos leva a uma visão espiritualista, reencarnacionista e evolucionista sobre o ser humano, do nascer ao morrer, direcionando a educação para o preparo para a vida, esta e a que nos aguarda depois da morte, no retorno ao mundo espiritual.

Todos os seres humanos somos almas ou Espíritos destinados à perfeição e fomos criados por Deus. Isto quer dizer que desde o ato da criação somos dotados de todo o potencial para alcançar esse objetivo, que vai sendo desenvolvido na medida em que a alma se aperfeiçoa, tanto intelectual quanto moralmente.

A evolução da alma é um processo educativo divino. É necessário progredir em inteligência e em moral até a perfeição, o estado de Espírito puro.

Quando a alma renasce na matéria através de um novo corpo orgânico, que lhe é concedido pelos pais no ato biológico da concepção, essa alma será recebida pela nova família. O lar, portanto, na feliz expressão dos Espíritos, é a primeira e — podemos acrescentar —essencial escola.

A família é, assim, espaço de convivência privilegiado das almas reencarnadas, na qual afetos e desafetos se reencontram para mais uma etapa evolutiva, seja ressarcindo ou reparando débitos trazidos de outras encarnações, seja reforçando laços afetivos já existentes, seja passando por provas necessárias à conquista de novos aprendizados. Em todas as situações, contudo, têm oportunidade de aprender a amar os outros e fazer a eles somente o que deseja que eles lhe façam, como nos ensinou Jesus.

Ora, qual é o lugar mais acessível para que tudo isso se realize? É o lar, no aconchego dos pais e dos familiares mais diretos.

Como bem percebemos, a família é, sim, a primeira escola, o instituto humano de educação no qual a alma vai viver, vai receber orientações, vai preparar-se para a vida. É, portanto, missão dos pais promover a educação dos filhos.

E a escola, como fica?

Não estamos diminuindo sua importância. A escola deve ser parceira da família, realizando todos os esforços para a melhor educação cognitiva e emocional dessas almas, contribuindo com os pais no esforço da aplicação da educação moral, corrigindo as más tendências que as almas ou Espíritos ainda carregam consigo, e desenvolvendo nelas as qualidades morais representadas pelas virtudes.

Falamos de parceria, colaboração, cooperação, solidariedade entre família e escola. Afinal, por mais horas que crianças e adolescentes passem na escola, eles saíram da família e para a família irão retornar. Os professores não são substitutos dos pais, assim como os pais não são substitutos dos professores; antes, devem complementar-se, devem ser verdadeiros educadores.

A família são pessoas, como a escola são pessoas. Não podemos nos esquecer disso, sob pena de desvirtuar a própria educação, deixando à margem nossos filhos e alunos, que tanta esperança depositam em nós. Somos responsáveis pelas orientações, esclarecimentos, aprendizados e exemplos que tornam o processo de educação válido.

Afinal, quem deve educar?

Já temos a resposta, segundo o Espiritismo: a educação pertence tanto à família quanto à escola; pais e professores são os educadores da alma reencarnada, ao mesmo tempo alternando sua condição de filha e aluna. Na família e na escola o processo a ser implementado é o da educação moral. Na família temos o peso maior do desenvolvimento afetivo, da área do sentimento; na escola temos o peso maior do desenvolvimento cognitivo, da área intelectual, mas um não exclui o outro, pelo contrário, devem equilibrar-se harmonicamente.

Temos de dar um ponto final nessa discussão entre a família e a escola, compreendendo que a educação depende de ambas e é promovida por ambas.

Enquanto essas duas importantes e necessárias instituições humanas estiverem em guerra, todos saímos perdendo e, portanto, em última análise, o resultado é uma educação em frangalhos, perdida em sua finalidade, distanciada da transcendência espiritual do ser humano e que despeja na sociedade uma geração atrás da outra sem ideias nobres, sem freios; mentes vazias e corações insensíveis.

O Espiritismo, doutrina de educação da alma imortal, aqui está presente com sua mensagem para transformar essa realidade e acender novas luzes para o futuro humano.

 

agosto | 2023

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – agosto/2023

Família ou escola: quem é responsável por educar?

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