O aspecto religioso é o segmento que nos liga através de transcendente vertical aos imarcescíveis e remansosos campos espirituais
Religião espírita
Rogério Coelho
rcoelho47@yahoo.com.br
Negando o caráter religioso do Espiritismo jamais sairíamos do chão
“Sem se darem ao trabalho de tirar a casca amarga para achar a amêndoa, rejeitam o todo como fazem relativamente à religião os que chocados com os abusos, tudo englobam em uma só condenação.” — Allan Kardec[1]
Segundo definição do Mestre Lionês, a Doutrina Espírita é uma “ciência que trata da origem, natureza e destino dos Espíritos, bem como de sua relação com o mundo corpóreo”[2].
O Espiritismo ergue-se em pedestal de base tríplice: ciência, filosofia e religião.
Acompanhando o sempre lúcido raciocínio de Kardec em seus desdobramentos, ao afirmar ser o Espiritismo uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, o confrade Raul Teixeira em uma de suas conferências elaborou as seguintes perguntas e respostas:
— Estes três aspectos são estudados por qual ramo do conhecimento humano?
— Filosofia.
— Qual tipo de filosofia?
— Espiritualista.
— Quais são as instituições que estudam a filosofia espiritualista?
— As instituições religiosas.
Substituindo a palavra “religião” por “moral” não conseguiremos, com isso, definir a essência, não atingimos o cerne da questão pelo singelo fato de que, conforme aprendemos com Kardec[3]: “A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus.”
Ensina o nobre Espírito Manoel Philomeno de Miranda[4]: “O Espiritismo tem por escopo imediato a transformação moral do homem para melhor, porquanto faculta uma identificação perfeita com os objetivos reais da vida, que se estendem além dos frágeis limites orgânicos.”
O aspecto religioso é o segmento que nos liga através de transcendente vertical aos imarcescíveis e remansosos campos espirituais, enquanto os segmentos científico e filosófico nos conduzem pela horizontal dos limites materiais.
Como exemplo ilustrativo, a fim de compreendermos, imaginemos um triângulo equilátero com dois vértices apoiados no chão e um vértice apontando para cima.
A ciência e a filosofia são representadas pelos dois vértices que se apoiam no chão; a religião é representada pelo vértice que aponta para cima, ligando a Terra ao Céu, vértice pelo qual transita do Mais Alto em direção à Terra a necessária nutrição a fim de que a ciência e a filosofia não terminem como simples e glaciais experimentos de laboratório.
Negando o caráter religioso do Espiritismo jamais sairíamos do chão da Terra, porque é nesse limite que se circunscrevem os domínios da ciência e da filosofia.
Tal atitude seria menosprezar os pensamentos e ilações de Espíritos Superiores, como Emmanuel, Manoel Philomeno de Miranda, Vianna de Carvalho, Joanna de Ângelis, Amélia Rodrigues, Dr. Bezerra de Menezes, Deolindo Amorim, Herculano Pires, Yvonne do Amaral Pereira, e inúmeros companheiros de lides espiritistas que são as mais altas expressões de fidelidade a Allan Kardec, tais como: Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco, Raul Teixeira, Hermínio Miranda, Honório Onofre de Abreu etc.
Daí a importância da religião (religare) que nos coloca novamente em contato com as fontes da Vida Imperecível...
“Ao Espiritismo em seu tríplice aspecto” — diz Vianna de Carvalho[5] — “compete a indeclinável tarefa de espalhar a nova luz sobre a humanidade inquieta e atormentada... Doutrina de liberdade, enseja conceitos inteiramente novos de conduta, convocando os Espíritos à ação correta e digna que tem escasseado em múltiplos departamentos da sociedade. Nesse sentido, aos Espíritas cabe, no momento, o honroso mister de edificar no imo os postulados do Espiritismo, como vanguardeiros de um mundo estável, pródromo de um mundo feliz.”
Não sem motivo, Hermínio Miranda[6] parafraseando o nobre “Tecelão de Tarso” ao referir-se às três virtudes teologais e sua importância hierárquica, afirma:
“Dos três aspectos de que o Espiritismo se reveste: ciência, filosofia e religião, o mais importante é o aspecto religioso.”
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, Cap. I-1, 1ª parte.
- Idem. O Que é o Espiritismo. 46.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, preâmbulo.
- Idem. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006, q. 629.
- FRANCO, Divaldo. Sementes de Vida Eterna. Espíritos diversos. 2.ed. Salvador: LEAL, 1989, cap.29.
- Idem. À Luz do Espiritismo. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. 2.ed. Salvador: LEAL, 1983, cap. l3.
- MIRANDA, Hermínio. As Marcas do Cristo. Rio de Janeiro: FEB, volume I.
junho | 2021
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