Outubro | 2023

Resignados ou rebeldes?

Sidney Fernandes

1948@uol.com.br

Parte 10

 

Já temos consciência de que existem doenças que não podem ser curadas pela medicina dos homens ou pela medicina dos Espíritos. Essa constatação não é de agora, pois já fora revelada na oração de São Francisco de Assis, em que ele pedia forças para enfrentar o que pode ser mudado e aceitação para o que não pode ser mudado.

Pessoas reagem de formas diferentes à dor, não obstante estarem passando por penúrias muito semelhantes e condições similares. Sabemos que a dor é subjetiva, isto é, cada um tem seu nível de resistência ao sofrimento. As sensibilidades são distintas.

Na Doutrina Espírita encontramos mais elementos para complementar essa explicação. Podemos estar submetidos a expiações e provas. Qual a diferença? Espírito em provação participa das escolhas, das definições e extensão das carências, deficiências e intensidade de sofrimentos que vivenciará na Terra. Quem em são juízo escolhe a dor? Os que têm consciência de que, no momento, representa a única maneira de acertar contas com a justiça divina.

Espíritos em expiação, diferentemente, não têm essa consciência e recebem seus sofrimentos goela abaixo, isto é, compulsoriamente. Estes, geralmente, assumem comportamento esdrúxulo perante a vida, debatendo-se, com manifestações neuróticas, atazanando a vida dos que com eles convivem. Veem a vida tão somente com óculos escuros, isto é, com lentes comprometidas pela insubmissão e pela irresignação.

Permanecem assim por toda a vida? Não, existem alternâncias de comportamentos. Os Espíritos em expiação podem ter momentos de resignação. Da mesma forma, Espíritos em provação podem derrapar para a revolta ou, não raramente, permitir o amornamento de suas crenças.

Exemplos são: o empresário caridoso que trata seus funcionários de forma desumana; o pregador evangélico que se permite aventuras amorosas e pratica o sexo clandestino; o intelectual moralista que convive com o desrespeito às diferenças de cor, raça, classe social ou orientação sexual. São pessoas aparentemente equilibradas em regime de provação, que praticam o meio-bem, isto é, a pacífica convivência entre o certo e o errado.

Diante de situações inamovíveis, existe a submissão passiva de quem aceita os percalços da vida por não poderem ser modificados. Aceitamos a vontade de Deus, como um bem para a nossa alma, e ponto final. Há também a submissão ativa, em que a princípio aceitamos a dor, para depois atuarmos para que ela seja minimizada ou até suprimida.

Há também os que rejeitam a resignação e assumem postura de rebeldia. É a chamada inconformação, que pode complicar e agravar os sofrimentos. Dizem os especialistas que uma das causas da depressão é a rebeldia diante de obstáculos considerados intransponíveis.

Quem em são juízo escolhe a dor? Os que têm consciência de que, no momento, representa a única maneira de acertar contas com a justiça divina

Esta é a característica mais marcante dos Espíritos em expiação. São criaturas que se armam de autopiedade, assumem a posição de vítimas e não se conformam com suas dificuldades, dores e dissabores, porquanto lhe foram impostas pelas leis da vida.

Pessoas que não aceitam a situação que a vida lhes está impondo ficam se debatendo durante o tempo todo. Inconformados, querem voltar ao passado de qualquer maneira, quando detinham a fama e o poder.

Imaginemos um rei, por exemplo, com poder de vida e morte sobre muita gente e que vive praticando malvadezas. Morre, vai para o plano espiritual carregado de culpas, passa muito tempo sofrendo e reencarna em situação de extrema penúria e miserabilidade, para que sejam contidos seus impulsos de ambição e agressividade.

Mas, ele não se conforma, reage e vai tentar retomar seu poder, mesmo que à custa de desonestidades, violência ou atitudes criminosas. Volta a ter posição de mando sobre muita gente, e continua agindo com maldade, roubando e matando, sem nenhum senso moral.

Poderá morrer em circunstâncias trágicas e futuramente renascer com grave limitação física, para conter os seus impulsos. Será aquele doente inconformado, agressivo, neurótico, que vai tornar a vida da família um tormento e complicar ainda mais o seu destino. Alguns chegam a pensar em suicídio, tendência muito comum dos que se encontram em expiação.

Vai desencarnar e reencarnar muitas vezes, em situação pior ainda, em autêntico círculo vicioso, submetendo-se aos apertos dos parafusos da vida, até que, um dia, cansado de sofrer, vai acordar e conseguir, finalmente, superar as próprias limitações e assumir suas responsabilidades.

Continua na parte 11.

 

Nota do autor: algumas partes deste texto foram inspiradas e adaptadas de palestra proferida por Richard Simonetti no IX Encontro da União Fraternal, em Águas de São Pedro (SP).

Nota da Redação: este artigo é parte de textos sequenciais que serão publicados nesta coluna de janeiro de 2023 a fevereiro de 2024.

outubro | 2023

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – outubro/2023

Pessoas reagem de formas diferentes à dor, mesmo em condições similares

Lista completa de matérias

 Reencontros

 O valor terapêutico do perdão

 Refutação da intervenção do demônio

 Resignados ou rebeldes?

 O sepultamento do corpo de Jesus (parte 2)

 As curas de Jesus

 Doenças solicitadas para chamamento espiritual

 A força do exemplo

 Jesus, o sal da Terra

 Saber calar-se, deixando fale outro mais tolo

 Vós sois o sal da terra

 Corrida com obstáculos