Revolução pelo Espiritismo
Redação
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Matão, 12 de Novembro de 1932
Innovare Omnia
Chegamos nos tempos dos grandes empreendimentos. O mundo velho desaba e o novo já nasceu. O progresso se apressa vertiginosamente e a humanidade não pode retrogradar nem paralisar na encruzilhada da vida.
Os homens querem luz, querem bem-estar, querem forças para viver, querem estrada para caminhar, querem paz, querem felicidade, e nós, pioneiros da Nova Revelação, precisamos orientar os homens, trabalhar pela coletividade, guiar a humanidade para os seus verdadeiros destinos.
A questão social pede uma solução sábia e pronta.
Em todos os ramos dos conhecimentos humanos, o mercantilismo e a especulação entravam o avanço das ciências, que permanecem paralisadas, envernizadas com o brilho de uma “verdade” que não resiste ao mais leve exame.
Na política, as revoluções se sucedem danificando as populações, acentuando-se todos os dias a crise financeira que arruína os povos, inutilizando o trabalho, o mérito intelectual e moral dos indivíduos.
O ideal, que é o apanágio do bem e da civilização, tornou-se letra morta, para dar lugar à sede de mando e à sede de ouro.
Os partidos e as seitas, atrelados pelos mesmos elos, conduzem a humanidade para o abismo.
É preciso se pôr um paradeiro a todo esse estado de coisas que ameaça terrível hecatombe.
É preciso renovar tudo. Innovare Omnia[1]. Renovar a política em primeiro lugar. Renovar a religião, renovar a ciência, renovar o ensino, a começar das escolas primárias, para se poder renovar os costumes.
A sociedade vive numa base falsa: é preciso assentar a verdadeira base do monumento social para que tudo, sob um novo aspecto, deixe de lado a aparência para viver da realidade.
No nosso país – este torrão de ouro onde a natureza se esmerou para nos dotar com tudo o que necessitamos – é preciso que a luz se faça aos que tomaram a alta tarefa do governo, cuja responsabilidade é muito grande. Precisamos de homens desinteressados, humildes, enérgicos, sábios e virtuosos para preencherem os claros que existem na vanguarda da civilização. Precisamos de homens que saibam governar-se, para poderem governar; de homens tolerantes, mas intransigentes; indulgentes, mas justiceiros; severos, mas amorosos.
Na política, como na religião e na ciência é preciso que prevaleça a verdade e delas se afaste todo o convencionalismo, toda a disciplina partidária, herança maldita que destrói todas as paixões nobres, todo o amor, todo o sacrifício pelo bem e pelo progresso.
A política, como tem agido até aqui, sob os ditames de um materialismo opressor, não é política de vida, mas sim de morte, não é uma política de engrandecer homens, de harmonizar a sociedade, mas só pode oprimir, desarmonizar e deprimir povos e nações.
Se o fim da política é guiar os povos para melhores destinos, é estabelecer a paz e a união entre todos, como conseguirão os chefes de todos os movimentos revolucionários este desideratum, assentando a sua ação nas bases carcomidas de um materialismo degradante?
Não é possível. Nós necessitamos de uma grande reforma que venha pôr um paradeiro a este estado de coisas. E essa reforma deve partir dos fundamentos, dos alicerces que deverão sustentar o grande edifício do futuro.
O princípio imortalista deve ser a primeira pedra a lançar para a edificação do novo estado social.
Não se pense que a imortalidade é privilégio da religião, pois o sentimento religioso é inseparável do homem, e esse homem que age como político e como cientista, ou como moralista, não deve e não pode no seu campo, na sua esfera de ação, pôr de lado essa ideia preliminar para satisfazer a bastardos interesses. Ele tem que agir não como mero representante de um partido ou de uma seita, mas como um escolhido que saiba cumprir os seus deveres para com Deus e para com a coletividade.
E como a verdade hoje, seja pelos fenômenos subjetivos, seja pelos fenômenos objetivos, é francamente, categoricamente imortalista, não é possível que prevaleçam num país de certo progresso como o Brasil, uma ciência negativista, uma religião baseada no milagre e no dogma, ou uma política niilista, sem princípios definidos para orientar aos seus jurisdicionados, inscientes e imersos em grande confusão devido mesmo ao descaso daqueles que se constituíram seus superiores.
Urge que se faça uma reforma radical em tudo o que concerne aos conhecimentos humanos, a começar da escola primária.
É preciso extirpar todo o espírito de partidarismo e todo o sectarismo, para que os povos progridam, tenham paz, progresso e bem-estar.
A causa de todos os males que nos assoberbam não está na crise financeira, mas sim na crise de caráter, e o caráter não se forma sem que se lhe dê uma modalidade nova de vida e de vida permanente, sem as injunções destruidoras da morte.
A imortalidade é a base de tudo; sem ela continuarão as revoluções sangrentas, permanecerão as ambições descabidas, o nefasto desejo de mando, a fome canina de ouro.
Só a imortalidade poderá sofrer desejos bastardos, interesses mundanos e fazer palpitar para o bem.
Firmem-se os nossos próceres sobre as bases imortalistas, os doutos e os sábios que se instruam ainda mais para melhor se conhecerem e saiam daqui e dali instruindo o povo, exortando os rebeldes, animando os recalcitrantes, convertendo os incréus, desvendando a todos os novos horizontes da vida, que nós brasileiros, daremos um grande passo, assinalando uma nova era de perfeição e marcharemos na vanguarda das nações.
Não precisamos de governos que tenham a força das armas, mas sim de homens cuja autoridade moral dispense a espada e o canhão.
Vamos fazer uma revolução pacífica, vamos agir, fazer correr o sangue, porque o templo do bem e da verdade não se ergue nas lamas de sangue, nem se constrói de vontades partidárias falseadas por disciplinas que negam a justiça, que se opõem ao progresso, que oprimem a liberdade.
A imortalidade é a base de todos os grandes cometimentos, e para que haja progresso, liberdade e justiça é indispensável haver imortalidade.
- Nota da Redação: “inovar tudo”, em tradução literal do latim.
Cairbar.
julho | 2018
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O Clarim – julho/2018
A causa de todos os males está na crise de caráter, exigindo que sejamos tolerantes, indulgentes e amorosos
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