Julho | 2025

Sobre o bom discernimento

Antonio Cezar Lima da Fonseca

aclfonseca55@gmail.com

Pensar sempre e o que se deve pensar propicia ao ser pensante o amadurecimento psicológico e, por extensão, de natureza afetiva

 

O discernimento liga-se à consciência e à razão. O Apóstolo Paulo afirmara que o discernimento era um “dom”: verdadeiro dom espiritual, ou seja, via-o como a capacidade de discernir se uma mensagem é do Espírito de Deus ou de outro Espírito.[1]

Disse o referido Apóstolo: “Existem tipos diferentes de dons espirituais, mas o mesmo Espírito é fonte de todos eles. (...) A cada um de nós é concedida a manifestação do Espírito para o benefício de todos. (...) A outro ele dá a capacidade de discernir se uma mensagem é do Espírito de Deus ou de outro Espírito.”[2]

Sabe-se que discernimento é saber separar o certo do errado;[3] é o popular bom senso. Daí seu liame com a razão e com a consciência. O bom uso do discernimento resulta da arte de pensar; pensar sempre e o que se deve pensar propicia ao ser pensante o amadurecimento psicológico e, por extensão, de natureza afetiva.[4]

No Espiritismo é a capacidade de escolher pelo melhor,[5] diante de mensagens de Deus ou de outros Espíritos.

Dessa forma, pelo discernimento o Espírito (e o espírita) avalia as coisas com bom senso e clareza. É inerente aos homens comuns, pois deles é a tarefa de vencer os empeços, discernir e aprimorar-se cada vez mais.[6]

Não se pode exigi-lo das crianças, porque estas ainda não têm o bom senso desenvolvido e a própria lei dos homens as absolve de crimes pela falta de discernimento.[7] É aos Espíritos de adultos que o discernimento se impõe, como consta em O Livro dos Espíritos: “464. Como distinguirmos se um pensamento sugerido procede de um bom ou de um Espírito mau? — Estudai o caso. Os bons Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir”.

Ainda, no Espiritismo, o discernimento torna-se exigência aos médiuns espíritas, sendo, para estes, condição essencial, como diz Léon Denis,[8] auxiliando-os nas comunicações e distinguindo se um pensamento “sugerido” procede de um bom ou de um mau Espírito.[9]

(...) diz Kardec que cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações, como a orientar ou sugerir o bom discernimento para avaliar Espíritos que vêm comunicar-se

Aliás, referindo-se às comunicações dos Espíritos, diz Kardec que cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações,[10] como a orientar ou sugerir o bom discernimento para avaliar Espíritos que vêm comunicar-se: “Os Espíritos que vêm se comunicar são aqueles mesmos que viveram em forma carnal neste mundo; uns atingiram uma esfera de conhecimentos e virtudes que lhes dão a santidade; outros continuam tal qual eram na Terra: menos bons, turbulentos, viciosos, zombeteiros”.

O discernimento é qualidade indispensável do investigador em um grupo de trabalhos espíritas — do dirigente, investigador, orientador ou monitor — durante a comunicação com os Espíritos, como refere Léon Denis: “O investigador deve ser dotado de critério seguro, que lhe permitirá distinguir o verdadeiro do falso e, depois de haver tudo examinado, conservar o que tem legítimo valor”.[11]

Quando trata das preces, os Espíritos lembram que Deus sabe discernir o bem do mal, pois a prece, por si só, não as esconde.[12]

Utilizamos o discernimento em vários aspectos da mediunidade. No período de trabalho preparatório do médium, ao lado da paciência, o discernimento se desenvolve, aproveitando que a mediunidade se forma lenta e no estudo calmo e silencioso, longe dos prazeres mundanos.[11]

O médium que simpatiza somente com bons Espíritos, por exemplo, pode ser enganado apenas para exercitar a ponderação e aprender a discernir o verdadeiro do falso, o erro da verdade, a comunicação autêntica de outras vazias e sem sentido. É ele utilizado na mistificação de Espíritos zombadores para distinguir o que vem dos Espíritos daquilo que vem da cabeça dos médiuns, enfim, um bom discernimento é o que se exige do espírita em geral.

Segundo Joanna de Ângelis, são duas proposições para o uso do bom discernimento: 1) educação por meio do pensar constante, lutando contra a preguiça mental, que gera a desatenção, a sonolência e a dificuldade de concentração; 2) ao pensar, cultivar bons pensamentos para que o discernimento manifeste a consciência, elegendo códigos de bom comportamento.

Não basta o mero “pensar” para o bom discernir, portanto, porque todos que transitam nas faixas primárias da evolução pensam pouco ou quase nada.[11]

 

  1. 1 Coríntios, 12:10.
  2. 1 Coríntios, 12:4–10.
  3. Dicionário Houaiss. Ed. Moderna.
  4. FRANCO, Divaldo. Momentos de saúde e de consciência. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Ed. Lis. Cap. 13.
  5. MEDEIROS, Rodrigo. Clarividência. Ed. Editares.
  6. FRANCO, Divaldo; TEIXEIRA, Raul. Diretrizes de segurança. Intervidas.
  7. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. q. 199.
  8. DENIS, Léon. No invisível. FEB. Cap IV, A mediunidade.
  9. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. q. 464.
  10. Ibidem. Introdução, item VI.
  11. DENIS, Léon. No invisível. FEB. Cap IX.
  12. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. q. 661.

 

O autor é advogado, autor do livro "Encontrando Allan Kardec"; reside em Capão da Canoa, RS.

julho | 2025

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