Somos realmente fortes?
Anselmo Ferreira Vasconcelos
afv@uol.com.br
Adentrar a “porta estreita” delineada pelo Mestre, em busca do caminho para a verdadeira vida (a espiritual), demanda muita coragem e força a qualquer um
Se indagarmos as pessoas se elas se julgam fortes, quando confrontadas pelos obstáculos e desafios naturais da vida, provavelmente a maioria concordará. Concomitantemente, não será nenhuma surpresa se no meio dos seus autoelogios surgirem adjetivos como guerreiros, resilientes, determinados, decididos e assim por diante. Examinando esse assunto pelo ângulo transcendental, Jesus Cristo — a quem temos por modelo e paradigma — recomendou-nos, com extrema clareza, a entrarmos “pela porta estreita” tendo-se em vista que “... larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” (Mateus, 7:13).
Não obstante, ainda acrescentou enfaticamente: “E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mateus, 7:14). Com efeito, adentrar a “porta estreita” delineada pelo Mestre, em busca do caminho para a verdadeira vida (a espiritual), demanda muita coragem e força a qualquer um.
Avançamos inexoravelmente no tempo, é verdade. Afinal, já estamos percorrendo o terceiro milênio da era cristã, mas a humanidade continua dando largas demonstrações de que avançar especificamente através da porta estreita não constitui a sua prioridade. Tal desengajamento, é forçoso reconhecer, explica as nossas imensas dificuldades evolutivas. Como ponderou recentemente o Espírito Joanna de Ângelis, no livro Mundo Regenerado (psicografia de Divaldo Pereira Franco), “A História da Humanidade é um livro escrito com sangue e a destruição, com poucos períodos de paz geradora do progresso. Os seus líderes celebrizaram-se mais pela criminalidade geradora do terror, pela ausência da justiça e da equidade”.
Por isso, continuamos a cometer erros primários que impedem a nossa ascensão a um outro patamar de progresso. Se fosse outra a nossa conduta, poderíamos já estar vivendo num planeta pelo menos mais apascentado; no entanto, nem essa básica condição conseguimos ainda atingir. O fato é que somos muito fracos, cabe admitir, em se tratando de promover o nosso próprio aperfeiçoamento moral.
Desse modo, na perspectiva espiritual, ser forte é encarar com determinação “o caminho que leva à vida”, ou seja, a internalização de valores superiores e a prática da conduta equilibrada, medidas imprescindíveis, por sinal, à nossa felicidade e paz interior. Ser forte, nessa visão, requer que vigiemos com rigor o que sai de nossas bocas. Ou seja, requer considerável esforço para que o conteúdo da nossa fala expresse sempre sabedoria e bom senso.
Dependendo da forma como agimos, mostramos, de fato, se somos fortes ou não. Nesse sentido, ser forte é dominar o nosso lado obscuro, não permitindo que ele aflore nos momentos decisivos de nossa trajetória. Posto isto, é vital conter os raciocínios emocionalmente intoxicantes e agressivos, as opiniões desagregadoras ou inverídicas, assim como as atitudes infelizes. Tudo isso pressupõe autocontrole e disciplina de nossa parte.
Um outro ponto fundamental nessa busca é a necessidade de sermos misericordiosos. Encontramos, a propósito, recomendações peremptórias nesse particular no Evangelho (ver Lucas, 6:36). Com efeito, ser misericordioso é um comportamento cabível praticamente em todas as situações. Há muita gente errando clamorosamente na atualidade, comprometendo o seu futuro espiritual e plasmando um sofrimento indizível porque não consegue ser forte para resistir ao mal neles entranhado.
Voltando ao melhor caminho (a porta estreita), consideremos uma vez mais a sabedoria de Jesus, pois no seu Evangelho não há devaneios ou raciocínios eclipsados: “E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também” (Lucas, 6:31). Esta é a regra de ouro, que certamente um dia guiará o coração humano em todas as suas deliberações. Mas enquanto isso não acontece, observamos uma miríade de pessoas executando mal os seus deveres e responsabilidades em todos os setores da vida. Mais contundente ainda são os abomináveis crimes hediondos, os feminicídios, as iniciativas que exploram e afligem impiedosamente os nossos semelhantes, a crônica falta de respeito nas relações humanas, a disseminação da mentira em qualquer ambiente e circunstância, entre outras coisas negativas e que representam, na essência, a fraqueza humana em ceder ao mal.
Posto isto, vale lembrar que Jesus nos advertiu: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha” (Mateus, 7:24). Portanto, nesse quadro apocalíptico marcado por contínuas e assustadoras mudanças, ser forte significa acumular os tesouros espirituais imperecíveis que nos assegurarão um futuro melhor. Dito de outra forma, é manter um padrão de conduta alinhado à bússola moral, afastar os pensamentos malignos e não compactuar com iniciativas ou ideias perversas. Ser forte é conservar a nossa consciência livre de máculas. Ser forte, enfim, é tomar Jesus como exemplo de vida, abraçando suas diretrizes e recomendações edificantes todos os dias de nossas vidas.
maio | 2023
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