Tesouros da alma
Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante
walkirialucia.wlac@outlook.com
Duradouro somente o que nos acompanha em nossa paisagem mental
“Onde estiver o vosso tesouro, aí está também o vosso coração. Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!”[1]
Paisagens de festividades vivenciamos nestes momentos. Deixamos por alguns momentos as preocupações para declarar-nos cidadãos do mundo, alargando nossa pátria física e congratulando-nos com os nossos companheiros de reencarnação. Comemoramos o momento presente como se fosse o único, esquecendo-nos de que a vida continua — a material e principalmente a espiritual.
Nossa paisagem mental modifica-se. Muitas informações nos são passadas pela mídia, às quais nos associamos pelo declínio do desejo em sorver a aparente felicidade que vemos nos semblantes iluminados pelos refletores das alegrias passageiras. Criaturas incautas, estagiando nos primarismos das emoções, acreditam que tais momentos serão eternizados; mas não o serão. Duradouro somente o que nos acompanha em nossa paisagem mental, fruto dos nossos desejos e comportamentos diuturnos.
Acreditamos que a alegria momentânea das festas e similares se perpetuará nos registros fotográficos, os quis representam o momento de interação, mas não o que o antecedeu nem o que permanecerá conosco. Alguns poderemos pensar nos Espíritos, estes companheiros de reencarnação que nos ladeiam os passos e que nos avizinham em virtude do “hálito mental” exarado. As vibrações que emitimos e trocamos com eles são as consequências de tais interações, mas ainda estamos buscando no exterior as respostas para os nossos questionamentos. Então, alguns dos nossos confrades espíritas e expoentes de outras religiões buscam exílio físico em congressos e similares para abster-se do grande burburinho que toma conta da sociedade nestes dias.
Atitude válida e enriquecedora, desde que “onde esteja o nosso tesouro, também esteja o nosso coração”. Entendemos que um lugar tumultuado e em agitação não patrocina uma boa troca de pensamentos, em virtude da nossa pequenez espiritual e de nos deixarmos envolver com os estímulos externos. Estar num grupo de vibração mais elevada, com mensagens edificantes e toda a parte artística inclusa, propicia-nos as conexões mentais mais salutares. Mas, se estivermos fisicamente num lugar, e nossos pensamentos e desejos em outro, é neste outro lugar que na verdade estaremos.
Mergulhamos agora no pensamento que gostaríamos de trazer com este artigo: os tesouros da alma. Todo aquele que possui um cunho espiritualista e em particular, espírita, compreende que existe uma sociedade mental que compartilhamos sem nos expressarmos verbalmente, na qual somos bastante atuantes e da qual nos nutrimos de suas emissões, bem como fornecemos fonte de nutrição aos outros. Acreditamos, inocentemente, que ao mudar o mundo exterior mudaremos automaticamente o interior. Ledo engano.
Exteriorizamos física e sobretudo espiritualmente o que emanamos de nós mesmos. Somos semelhantes a uma fonte, da qual brota água ou o que desejarmos, de forma ininterrupta. Se escolhermos a água, fonte de vida e energia renovadora vitalizante, banhar-nos-emos dela a princípio e espraiaremos no entorno. Quanto mais rica e mais fecunda for esta fonte, mais adiante chegará beneficiando a nós e aos que estão no caminho. Plantas, animais e pessoas.
Mas, quando emitimos pensamentos desairosos, de ódio, vingança, revolta ou outros assemelhados, emitimos desta mesma fonte substâncias deletérias, nas quais nos banhamos e distribuímos àqueles que se encontram no caminho tais miasmas mentais. Com a mesma capacidade de alcance da água pura, usada como exemplo, alcançaremos aqueles que se vincularão ao que emitirmos.
Nossos interesses, reflexões e comportamento delineiam o campo mental que vivemos. “As paisagens mentais de cada ser humano são o resultado das suas reflexões, assim como dos seus interesses. Tudo aquilo que o atrai impregna a mente, passando a fazer parte do seu patrimônio, que será utilizado oportunamente, quando as circunstâncias assim o impuserem. A vida mental é, pois, o somatório das construções psíquicas que permanecem dando lugar às realizações e atividades do ser no seu processo de evolução. Em consequência, cada ser reside no local psíquico onde deposita as suas ideias.”[2]
Por isto, as escolhas diárias representarão o somatório de quem somos. Da mesma maneira que o hábito da oração e do cultivo do evangelho no lar deve fazer parte de nossa rotina, o hábito de bons pensamentos, de afirmações positivas e observações amorosas sobre a nossa própria e a realidade do semelhante deverão fazer parte de nossas vidas. Assimilaremos esta paisagem mental mais elevada e nos habituaremos a ela. Mudaremos a forma de agir. Assim, onde estivermos, o bom tesouro de nossos corações também estará.
A parte que nos compete na edificação de um mundo novo, que tanto apregoamos, chegará, e passa pela mudança de atitude, que é fundamentalmente mental, um lugar que residimos com maior amplitude e sem filtros morais que aplicamos em nossos comportamentos em virtude da avaliação dos outros. Na mente, somos livres para ser quem desejamos ser.
Então, a partir de agora, façamos a boa escolha e nos imantemos de bons pensamentos e, como consequência, de boas atitudes, mudando a paisagem mental e trazendo para a nossa realidade de vida a vida espiritual que desejamos ter!
- MATEUS, cap. VI, vv. 21 a 23.
- FRANCO, Divaldo P. Vida Plena. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Capítulo 8 — Paisagem Mental.
fevereiro | 2023
MATÉRIA DE CAPA
O Clarim – fevereiro/2023
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