Uma venerável instituição

Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante

walkirialucia.wlac@outlook.com

Sem o selo da renovação interior, qualquer tentativa de reforma constitui um caminho para novas desilusões

 

“— É com essa expressão religiosa e regeneradora que o Espiritismo conta esclarecer os problemas do campo social? — perguntei ainda.

“— De fato — continuou o meu generoso amigo —, toda a vitória da Doutrina tem de começar no coração. Sem o selo da renovação interior, qualquer tentativa de reforma constitui um caminho para novas desilusões. Seria, pois, inútil organizarmos grandes movimentos para uma salvação imediata, se o espírito geral se encontra nas sombras. Onde se terá visto uma colheita sem o trabalho da semeadura? A missão dos espíritas não representa, portanto, uma tarefa artificiosa e nem lhes compete disseminar os laboratórios de ilusões. Suas responsabilidades são muito grandes no campo da educação evangélica das massas e no plano da caridade pura, assistindo os sofredores e os desesperados. Esse campo de trabalho moral é o imenso reservatório das forças indestrutíveis da Nova Revelação, e a beleza dos seus aspectos tem seduzido muitas mentalidades de elite, do mundo inteiro. Mesmo a esta Casa têm aportado muitos Espíritos brilhantes, vindos da política e da ciência, considerando que o Espiritismo, verdadeiramente interpretado, é a síntese maravilhosa que abrange todas as atividades humanas, no sentido de aperfeiçoá-las para o bem comum.”^[1]

Multidões de encarnados e desencarnados peregrinam pelas instituições espíritas. Adentram-nas, mas têm dificuldade em deixar que a mensagem se internalize.

O ilustre Irmão X subscreveu a mensagem que trazemos em destaque no ano de 1937. É um paralelo que estabelecemos em virtude das demandas existenciais de outrora e relacionadas ao presente momento da humanidade. Verificamos a atualidade do seu pensamento, pois essa conversação poderia ter ocorrido na data de ontem, em qualquer instituição espírita, em qualquer parte do planeta Terra.

Desejamos alçar voos elevados de sublimação aprisionando o conhecimento espírita em nós. Esquecemo-nos de que a mensagem do Cristo é para ser vivenciada e que recitar passagens evangélicas serve meramente de subsídio para a edificação do conhecimento em nós.

Há muito tempo migramos entre os dois planos da matéria, mas ainda relutamos em trazer para a vivência aquilo que aprendemos nestas migrações. Buscamos os expoentes da religião cristã como verdadeiros magos do conhecimento, acreditando que somente eles estabelecem ligação verdadeira com os emissários do Senhor, como se fossem intermediários. Todavia, todos temos a capacidade de elevar-nos em pensamento e estabelecer ligação com os Espíritos evoluídos.

Nenhum de nós está sozinho na caminhada. Quando ajustamos o comportamento e nos vinculamos à prática do bem e do amor, vivificado através dos nossos semelhantes, estamos em contato direto e sólido com os emissários do bem.

Desejar a forma mais rápida e fácil de nos desvencilharmos do sofrimento, que é fruto de nossas atitudes pretéritas, equivale à atitude de uma criança que esconde os cacos de um brinquedo quebrado dentro da caixa, acreditando que ninguém irá verificar o seu interior. O que está contido em nós ora ou outra se evade, vem à superfície do nosso ser e provoca abalos estrondosos. Mesmo assim, insistimos em nos atentar para os erros dos nossos semelhantes com lupas em nossas mãos, e escondemos de nós mesmos aquilo que fizemos.

Talvez nos encontremos num momento desta reencarnação em que nos perguntamos qual o sentido real deste diálogo entre desencarnados e encarnados, Espírito e matéria. Isto ocorre porque, de fato, nunca houve divisão entre eles e nós, nós e eles. Estamos todos mergulhados no fluido universal, que modifica as suas propriedades em virtude da densidade do planeta e das criaturas que nele habitam. Estar encarnado, portanto, é uma bendita oportunidade fornecida àqueles que procuraram despertar para um porvir melhor, mesmo para os descrentes, que afirmam não buscar na lógica da reencarnação a resposta para suas dores.

Por isso, ao detectar a presença de seres amados que vêm visitar-nos na solitude dos nossos dias e noites de dores, agradeçamos a presença. Mais ainda, possamos absorver os fluidos de amor que emitirem.

A história transcrita no início deste artigo fala de uma conversação que ocorreu na antiga sede da Federação Espírita Brasileira, onde enfermeiros espirituais do bem “enchiam a atmosfera da casa de fluidos suaves e balsâmicos”.^[1]

Não precisamos estar na instituição espírita ou em qualquer templo religioso para receber os benefícios de tais emanações, mas convenhamos que em um lugar preparado para isto, sentimo-nos imensamente envolvidos e extasiados em emoção. Por isso é comum que muitos relatem, ao frequentar uma instituição espírita, o sentimento de alívio do peso de suas dores, de elevação, de alegria e de envolvimento em amor!

A missão dos espíritas é produzir amor. Este amor está envolto ao conhecimento e ao perdão. Em vez, portanto, de procurar longe as respostas para as nossas dores, mergulhemos em nós mesmos. Busquemos entender quem somos, onde estamos e para onde vamos. Deixemos de perder tempo em tergiversações desnecessárias, disputando o que não nos pertence, a propriedade da obra espírita, pois ela é de todos nós. Findemos as discussões por querer que o nosso ponto de vista prevaleça em adendos desnecessários ao conhecimento espírita, lembrando que “O Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras”.^[2]

Sigamos!

 

1. XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de Além-Túmulo. Pelo Espírito Humberto de Campos. Capítulo 33, item Uma Venerável Instituição.
2. Mateus, 16:27.

 

A autora participa do Centro Kardecista Os Essênios, de João Pessoa, PB.

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