Maio | 2021

O homem de bem deve passar em revista todas as suas atitudes, sem deixar de fora aquelas que tangem o próprio corpo e a própria saúde

Uso excessivo de remédios: suicídio inconsciente?

Raul de Mello Franco Jr.

raulmfranco@gmail.com

Estamos presenciando um terrível cenário de farmacodependência coletiva que cresce em progressão geométrica

 

Ana Cláudia acordou indisposta, com o nariz congestionado e com dores de cabeça, logo no dia em que completava 18 anos. Não se tratava de crise aguda, como uma gripe. Há tempos esse quadro se repetia e toda a família já opinara sobre ele.

A mãe afirmava que o culpado é o celular, usado em demasia. A avó não concordava: dizia que Ana “entrou para o clube da enxaqueca”, mal que tortura as três últimas gerações da família. O pai, mais reservado, preferia debitar o desconforto ao excesso de estudos da filha, de mãos dadas a uma provável TPM.

Na dúvida, Ana tem feito uso de Fluoxetina para atenuar a ansiedade. Também ingere Tonopan para atacar a possível enxaqueca, além de um descongestionante nasal, seu velho companheiro. Como no último mês o estômago também vinha acenando, uma amiga lhe recomendou um inibidor da bomba de prótons (Omeprazol 20 mg), em jejum, pela manhã.

Aos 18 anos de idade, Ana Cláudia já não consegue passar uma semana sem visitar uma drogaria.

A experiência da jovem repete-se, à exaustão, nos lares brasileiros. Estamos presenciando um terrível cenário de farmacodependência coletiva que cresce em progressão geométrica.

Na aparência, tudo parece ter início no próprio paciente. Acossadas por um desconforto físico ou psíquico e sedentas por soluções instantâneas, as pessoas se automedicam (aconselhadas pelo Dr. Google) ou procuram centros médicos com o propósito de obter a receita mágica, uma espécie de salvo-conduto que as habilite a refugiar-se na drogaria mais próxima.

O desejo pelo consumo desenfreado e irracional de medicamentos recebe a resposta imediata do mercado. Centenas de novas farmácias e drogarias são inauguradas todos os dias. São terminais lucrativos de uma indústria que não para de crescer, não se contenta com ganhos módicos e faz publicidade maciça de seus produtos, sem revelar os males que provocam. Os espaços por onde circula o cliente trazem produtos ao alcance das mãos, como se fossem alimentos. Vendedores têm metas a cumprir.

O profissional da saúde, com raras exceções, sai da escola treinado para prescrever remédios e desconsiderar o resto. Na sua rotina, muitos serão visitados e premiados pelos grandes laboratórios, com quem atuarão como verdadeiros parceiros. No ambulatório, rapidez é sinal de eficiência.

O doente, por sua vez, não tem formação ou informação suficiente para avaliar que está apenas atacando os efeitos de sua possível doença, ou nem isso, sem combater-lhe a causa. Fará uso ritualístico do fármaco, pródigo em produzir efeitos colaterais. E ao eclodir o próximo mal-estar, o ciclo se repetirá, talvez pelas mãos de outros médicos e com novas drogas. Alguns pacientes irão progredir para quadros mais complicados, em variáveis que podem derivar para internações, diálises, intervenções cirúrgicas e óbitos.

Quem, afinal, é o verdadeiro vilão dessa história? O consumidor de remédios que faz girar a ciranda milionária da indústria farmacêutica ou esse modelo de negócios que leva a população a consumir sem pensar?

Sem pretender identificar culpados — o que nos obrigaria mergulhar as narinas em terrenos pantanosos de insuportável odor —, o uso da razão nos impele a começar pela revisão da atitude pessoal, tal qual nos ensina a Doutrina Espírita. O homem de bem deve passar em revista todas as suas atitudes, sem deixar de fora aquelas que tangem o próprio corpo e a própria saúde. Os abusos da medicação constituem a nova modalidade de suicídio inconsciente, em expansão. Uma onda de dor e sofrimento avança, volumosa, impulsionada por nosso comodismo e pela nossa invigilância farmacológica. Os produtos alopáticos nos cativam pelo fácil acesso e praticidade. Podem espantar dores em minutos, como se detivessem um poder mágico aprisionado numa cápsula. Todavia, ocultam os males que transportam. Certos analgésicos, como os opioides (derivados da papoula, muito populares), por exemplo, explicam 48 mil mortes nos EUA, só em 2017, segundo a agência norte-americana CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).

É hora de rever comportamentos e conhecer alternativas eficientes de prevenção de doenças e de recuperação da saúde. Antes de remediar os efeitos, pergunte-se sobre as causas dos males que lhe afligem. Faça uma análise cuidadosa da real necessidade dos remédios que você compra e consome. Indague-se sobre a possibilidade de conseguir os mesmos resultados por meios naturais e, principalmente, por uma mudança de vida!

maio | 2021

MATÉRIA DE CAPA

O Clarim – maio/2021

Quais as consequências espirituais do uso excessivo de remédios?

Lista completa de matérias

 Incrédulos e indecisos

 Olhando por vários prismas

 Nadismo e vida futura

 Livraria Cairbar Schutel: 60 anos em Taubaté

 Eu sou você, amanhã

 A preexistência e o subconsciente

 Momentos difíceis

 Uso excessivo de remédios: suicídio inconsciente?

 Amor à vida

 Incompreensão

 Bem-aventurados os aflitos

 Cachoeiras dos Mangueirais

 A pleno amor após a morte

 Evangelho no Lar

 Onde o encontro, Senhor?