Reprodução do filme “Chico Xavier”, produzido pela Globo Filmes em 2010
50 anos depois dos “Pinga-Fogos”
Antonio Cesar Perri de Carvalho
acperri@gmail.com
Entrevistas na TV Tupi, em 1971, representaram um divisor de águas para a difusão do Espiritismo no Brasil, com repercussões até os dias atuais
Há 50 anos a mídia e o movimento espírita de nosso país viveram um momento inédito e extremamente significativo, com Chico Xavier sendo entrevistado no programa “Pinga-Fogo”, transmitido pela TV Tupi, de São Paulo, na passagem do dia 27 para 28 de julho de 1971.
O destacado repórter investigativo da época, Saulo Gomes (1928–2019), já havia realizado entrevista de grande audiência com Chico Xavier, visitando-o em Uberaba em 1968. A partir dessa relação amistosa, surgiu o convite do repórter para que o médium participasse de um programa de entrevistas na TV Tupi em São Paulo.
Em livro sobre o evento, Saulo Gomes aborda os preparativos para o programa e relata as informações dos hospedeiros de Chico, o casal Nena e Francisco Galves, a respeito do médium: “Na véspera do programa, ele passou a noite em claro, pedindo a ajuda ao Espírito Emmanuel, caminhando pelos jardins da casa.”[1]
Tarde da noite, no dia 27 de julho de 1971, começou “o programa de maior audiência até hoje na TV brasileira: Pinga-Fogo com Chico Xavier!”. O jornalista Almyr Guimarães coordenou o programa e foi entrevistador, juntamente com João de Scantimburgo, Helle Alves, Reali Júnior, José Herculano Pires e Saulo Gomes. O convidado respondeu a todas as perguntas, sob a inspiração de Emmanuel. No dia seguinte, o prestigiado jornal paulistano Diário de São Paulo estampou a transcrição do programa, na íntegra, em nove páginas.[1]
O sucesso e as repercussões desse programa histórico ensejaram a realização de um 2º “Pinga-Fogo”, efetivado pela mesma emissora na passagem do dia 20 para 21 de dezembro de 1971. Houve presença no auditório de caravanas de espíritas do interior. Atuaram como entrevistadores: Vicente Leporace, deputado Freitas Nobre, Hernani Guimarães Andrade, Saulo Gomes, Durval Monteiro e Almyr Guimarães, que fez a coordenação do programa.
Em seguida ao 1º Pinga-Fogo surgiu um texto contendo a entrevista em singela publicação da Culturesp, de Piedade. No ano seguinte, a CAPEMI editou um livro contendo os dois programas. E dispúnhamos das fitas tipo “cassete” de gravações caseiras do áudio dos eventos.
Anos depois, Saulo Gomes recuperou as fitas gravadas pela TV Tupi e Oceano Vieira de Melo providenciou a recuperação do áudio e do vídeo das fitas. O DVD produzido pela empresa Versátil Home Video foi lançado em Pedro Leopoldo, MG, no ano de 2006.[2]
Os dois programas, sem dúvida, assinalaram um divisor de águas para a difusão do Espiritismo no Brasil.
Passados 50 anos, ao examinar o conteúdo dos comentários feitos por Chico Xavier, verificamos que a maneira doutrinária e prudente por ele desenvolvida — e, como ele informou, inspirado por Emmanuel — permitiu que as abordagens, na sua essência, não ficassem ultrapassadas. Chico respondeu com tranquilidade e segurança a questões que na época eram polêmicas e claramente valorizou o desenvolvimento da Ciência. Vários dos temas suscitados pelos entrevistadores permanecem presentes nas discussões, pesquisas e em práticas da atualidade.
Os questionamentos sobre vida em outros planetas intensificaram-se, gerando dispendiosos projetos de voos espaciais patrocinados por diversos países para detecção de eventuais sinais vindos de outros orbes e com variados tipos de naves e robôs espaciais que já pousam e realizam prospecções na Lua e em Marte.
As pesquisas iniciais sobre reencarnação se desdobraram em núcleos acadêmicos nos Estados Unidos e em universidades de nosso país.
A possibilidade, muito discutida na época, de vida criada em tubo de ensaio, poucos anos depois ultrapassou os passos da pesquisa para a prática já difundida de fertilização in vitro e inseminação artificial, incluindo o congelamento de ovos e de células reprodutoras humanas.
Da mesma forma, o entrevistado comentou judiciosamente sobre o planejamento familiar, homossexualidade, divórcio, desquite e família. E lembramos que naquela época ainda não havia sido aprovada a lei do divórcio em nosso país.
A questão de crianças com graves deficiências hoje merece muitas atenções, haja vista o respeito, a busca de apoio e de tratamento para essas crianças, e que já contam com inúmeros grupos de pesquisas e de associações especializadas para orientação às famílias.
Os casos incipientes e experimentais de transplante de órgãos que surgiam naquela época, e citavam-se os transplantes cardíacos, pouco tempo antes efetivados na África do Sul e no Brasil. Atualmente tornaram-se opções bem desenvolvidas de transplantes de vários órgãos e tecidos orgânicos e como parte de protocolo de tratamento adotado por hospitais especializados. Simultaneamente, desenvolvem-se experimentações com os “órgãos de plástico”, citados por Chico Xavier como opção para o futuro.
As recomendações de Emmanuel sobre cremação de corpos são válidas, principalmente agora que vários cemitérios já dispõem da opção de crematórios em inúmeras cidades do país.
Naquela época, ainda próxima do Concílio Vaticano II (1962–1965), quando foram definidas novas formas de atuação da Igreja Católica, Chico não se negou a abordar assuntos sobre o relacionamento do Espiritismo com outras religiões. Discorreu sobre a então nova proposta de ação social da Igreja, sobre o Espiritismo diante do Umbandismo, vislumbrando os momentos atuais dos chamados diálogos inter-religiosos.
Também vieram à tona muitos esclarecimentos de Chico Xavier sobre questões doutrinárias, notadamente ligadas à prática da mediunidade.
Os cinquentenários “Pinga-Fogos” com Chico Xavier trazem o registro de lucidez, ponderação, inspiração e visão de futuro do notável médium.
Como assistimos à época as transmissões da TV Tupi, renovamos nossa motivação quando surgiram os DVDs restaurados dos históricos programas.
Além de sugerir a valorização dessas fontes de registros marcantes no movimento espírita, de nossa parte realizaremos estudos sobre os temas doutrinários e da atualidade abordados por Francisco Cândido Xavier nos dois programas Pinga-Fogos, no Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa Espírita Eduardo Carvalho Monteiro, de São Paulo. Esse estudo se fundamenta na pesquisa bibliográfica nas obras de Allan Kardec e nas psicografadas por Chico Xavier, levando em consideração o desenvolvimento geral e as pesquisas do mundo nesse meio século.
- GOMES, Saulo (Org.). Pinga-fogo com Chico Xavier. Catanduva: Intervidas. 2010. 269p.
- Pinga-Fogo com Chico Xavier (2 DVDs). São Paulo: Versátil Home Video/Video Spirite (https://www.dvdversatil.com.br/category/spirite/).
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