Junho | 2021

José Raul Teixeira durante palestra em Curitiba (dezembro de 2009)

A gloriosa tarefa do palestrante espírita

Waldehir Bezerra de Almeida

waldehir.almeida@gmail.com

Quando usamos a tribuna espírita emitimos ideias, energia consoladora e até curadora, emoções revitalizadoras e encorajamento

 

“Uma exposição de pensamentos bem formados pode modificar vidas, dar alento a almas à beira do abismo e mostrar aos cegos que existe luz.”[1]

Não existem dúvidas de que Jesus foi o grande mestre da arte da palavra falada. Não somente sabia fazer-se entender por seus ouvintes — fosse qual fosse sua condição social, moral e cultural —, como também os empolgava e os sensibilizava. As palestras que proferia eram enriquecidas com citações de sabedorias do Antigo Testamento, quando lembravam os verdadeiros ensinamentos de Deus, e ilustradas com parábolas, cujos temas estavam estreitamente ligados à vida de seu povo.

Diante dessa realidade, vê-se aquele que aceitou a rogativa do “ide e pregai” diante de uma tarefa gloriosa. O palestrante espírita tem a incumbência de divulgar os ensinamentos do Mestre ao povo simples e aos letrados — ensinamentos esses clarificados pela luz do Espiritismo —, de forma que todos sejam esclarecidos e consolados, tal como fez o Nazareno.

 

Allan Kardec e a divulgação do Espiritismo pela fala

Allan Kardec, em Lyon, no ano de 1860, deu a primeira demonstração da força da palavra na divulgação da nova doutrina. Disse ele: “Cabe a nós, aos verdadeiros espíritas, aos que veem no Espiritismo algo além de experiências mais ou menos curiosas, fazê-lo compreendido e espalhado, tanto pregado pelo exemplo quanto pela palavra.” (Grifo nosso.)

Um dos seus tradutores disse, brilhantemente, quanto àquele momento: “Ali é aceso o fogo sagrado que empunharão, através dos séculos, todos aqueles que se compromissaram, mesmo ao preço de injúrias, suor e lágrimas, a divulgar as glórias do Espiritismo pela bênção da palavra.”[2]

O Codificador continuou a divulgação do Espiritismo em 1862, realizando palestras em cerca de vinte cidades da França, viajando de trem e percorrendo seiscentos e noventa e três léguas, aproximadamente 3.346 quilômetros, oferecendo seu conhecimento sobre a Terceira Revelação, dando esclarecimentos e levando novos ensinamentos revelados a ele pelos Espíritos na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Para exemplificar o imensurável papel desempenhado pela palavra falada na comunicação do pensamento, lembramos que o Antigo Testamento e os Evangelhos existiram oralmente muito antes de terem sido escritos. Os homens a quem poderíamos dar o nome de “escritores” foram primeiro “oradores”; palestrantes, antes de tudo!

Quando usamos a tribuna espírita emitimos ideias, energia consoladora e até curadora, emoções revitalizadoras e encorajamento. As ondas de nossa fala não são captadas apenas pelos encarnados que nos ouvem, mas, também, pelos desencarnados que, sensibilizados, se rendem à ajuda dos mentores espirituais dispostos a cooperar em suas recuperações.

Assevera-nos o Espírito Emmanuel: “Os elementos psíquicos que exteriorizamos pela boca são potências atuantes em nosso nome, fatores ativos que agem sob nossa responsabilidade, em plano próximo ou remoto, de acordo com as nossas intenções mais secretas.”[3]

Diante dessas realidades, o palestrante espírita, decidido a divulgar a Doutrina pela fala, deve ter em mente o poder que terá sua palavra enquanto leva a mensagem evangélico-doutrinária a seus ouvintes.

 

Qualidades de um palestrante espírita

A eloquência exigida de um palestrante espírita não deverá ser entendida, aqui, como aquela que sustenta a atenção de centenas e, às vezes, milhares de pessoas, mas, antes de tudo, a que desperta o interesse de algumas dezenas de ouvintes em uma pequena sala de uma casa espírita.

Sua eloquência vai manifestar-se pela riqueza de conteúdo doutrinário, abordando sempre Kardec e citando nosso Mestre Jesus. Sua clareza se manifestará pela simplicidade de suas palavras, sem ser vulgar, visando a ser entendido pelos simples e até mesmo pelos não espíritas. Sua objetividade se evidenciará por não fazer de sua exposição uma colcha de retalhos, citando vários temas que nem sempre se encadeiam ou se complementam.

O expositor espírita será versátil quando, na abordagem de um tema estabelecido, trouxer para o enfoque visões, teorias distintas, sem, no entanto, fugir dos trilhos do tema central, permitindo que os ouvintes o compreendam com facilidade, entusiasmo e admiração.

Cremos seja oportuno relembrar o que nos ensina o Espírito Emmanuel: “Se não aclaramos a frase, se não apuramos o modo e se não educamos a voz, de acordo com as situações, somos suscetíveis de perder as nossas melhores oportunidades de melhoria, entendimento e elevação.”[4]

 

A casa espírita e o palestrante

A execução da palestra na reunião pública não deverá ficar única e exclusivamente sob responsabilidade do palestrante. O conteúdo do que ele vai expor deverá atender às metas pedagógicas da instituição, que tem a missão de oferecer a seus trabalhadores e frequentadores, assediados pelos inúmeros canais de comunicação, qual o entendimento da Terceira Revelação e do Mestre Jesus sobre determinados fatos que os afligem.

Diante dessa imensa responsabilidade, e porque bem mais conhece as necessidades dos seus trabalhadores e frequentadores, a casa espírita elegerá racionalmente os temas a serem desenvolvidos pelos palestrantes, solicitando que os abordem de maneira clara e elegante para atender aos menos esclarecidos e mesmo os não espíritas. Havendo essa organização, os resultados serão seguros. Ganha a instituição e se aperfeiçoa o palestrante.

É bastante oportuna a advertência de André Luiz: “Alguns companheiros de ideal nas fileiras da Nova Revelação costumam afirmar que a Doutrina Espírita carece unicamente de amor e de nenhuma organização. Afirmativa temerária que exige reparos especiais.”[5]

A instituição espírita terá a preocupação de administrar suas palestras, enviando carta-convite ao palestrante, com indicação de uma bibliografia mínima, buscando sempre adequar o tema à formação profissional ou à experiência do palestrante; insistir no estudo continuado das obras básicas e de livros verdadeiramente espíritas, buscando sempre relacionar, quando necessário, os temas das palestras com os fatos que assolam a sociedade.

Atualmente, as palestras são feitas virtualmente, tendo em vista a virulência da Covid-19, que assola o mundo e impõe o distanciamento social. Em razão disso, já não mais o calor de uma plateia que favoreça o desempenho do palestrante, no entanto, a certeza de que está sendo visto e ouvido, com muito interesse, por centenas de espíritas ou não, no recesso dos seus lares, deverá fazer o palestrante sentir o grau de sua responsabilidade e animar-se com a gloriosa tarefa.

A boa palavra, quando emitida com amor e sabedoria, leva consigo a força magnética que promove mudanças inesperadas nas almas carentes de estímulo para vencerem suas dificuldades. Eis o motivo da gloriosa missão do palestrante espírita.

 

  1. MAIA, João Nunes. Horizontes da fala. Pelo Espírito Miramez. 6.ed. Belo Horizonte: Ed. Espírita Cristã Fonte Viva, 1985. Pensamentos decadentes
  2. KARDEC, Allan. Viagem Espírita em 1862. Trad. Wallace Leal V. Rodrigues. 3. ed. Matão: Casa Editora O Clarim. Prefácio.
  3. XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. FEB, cap. 97.
  4. Idem. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. FEB, cap. 43.
  5. VIEIRA, Waldo. Sol nas almas. Pelo Espírito André Luiz. 7.ed. Uberaba: CEC, 1962. Cap. 54.

junho | 2021

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