Agosto | 2019

 “A Menina Índigo”: uma reflexão necessária sobre educação

Cássio Leonardo Carrara |

cassio@oclarim.com.br

Longa-metragem nacional estreia neste mês e imerge no ainda desconhecido universo das crianças índigo.

 

Este mês reserva mais uma grande estreia para o cinema brasileiro com temática espiritualista. Em 12 de outubro chega ao circuito nacional o longa-metragem A Menina Índigo, uma coprodução da Cinética Filmes, Inspired, Naymar Produtoras Associadas, Mar Produções, Erlanger Comunicação & Arte e Film Connection Distribuidora. Estrelam o filme grandes nomes do cinema e da televisão no Brasil: Letícia Braga, revelação mirim da minissérie Justiça (2016), é a protagonista; completam o elenco Murilo Rosa, Fernanda Machado, Paulo Figueiredo, Xuxa Lopes, Eriberto Leão, Luiz Antônio Pillar e Renato Prieto. A direção é de Wagner de Assis, criador da Cinética Filmes, que escreveu e dirigiu os longas-metragens A Cartomante (2005) e o sucesso Nosso Lar (2010), além da novela Além do Tempo (2015), como colaborador de Elizabeth Jhin, e a minissérie Rondon, o Grande Chefe (2015). Também produz e dirige documentários e em breve iniciará as filmagens de Os Mensageiros – continuação de Nosso Lar – e da cinebiografia de Allan Kardec. Nesta entrevista, ele fala sobre a produção de A Menina Índigo e como este filme pode provocar a reflexão necessária sobre a renovação dos métodos educacionais.

 

RIE – Quem são as crianças índigo e como podemos identificá-las?

WAGNER DE ASSIS – Em meados dos anos 1980, uma psicóloga norte-americana chamada Nancy Ann Tappe começou a perceber que muitas crianças que eram suas pacientes apresentavam padrões e comportamentos semelhantes – e ela era capaz de ver as auras delas. Surpreendentemente, essas crianças tinham uma coloração de aura que pendia para um tom de azul conhecido como índigo. E assim ela as batizou. Ou seja, o nome é algo apenas indicativo, assim como foram batizadas outras gerações. O mais importante aqui é perceber que desde aquela época, e agora com bastante proeminência, essas crianças estão nascendo (ou renascendo) em todos os lugares. Isso virou uma questão importante e precisamos refletir sobre nossos filhos, como educá-los, como cuidar deles. O reconhecimento de uma criança índigo é algo que pode ser bem complexo quando se está lidando com pais despreparados, achando que seus filhos são gênios ou coisa que o valha. Essas crianças de fato têm potencial para transformar o mundo, mas é preciso que sejam educadas e criadas de maneira a poderem exercer suas missões quando em idade adulta. É preciso também entendê-las antes de, por exemplo, medicá-las. Ajudar antes de trocar de escola. São crianças que, pela natureza mais evoluída de seus espíritos, apresentam por vezes sentimentos de realeza sem presunção – como se não “pertencessem” ao nosso mundo. Muita gente não entende isso e as acusa erroneamente. Ao mesmo tempo, elas também demonstram uma gratidão profunda por tudo e por todos e dão-nos a sensação de que merecem estar aqui – porque querem estar. E espantam-se muito quando ouvem críticas ao mundo, por exemplo. Essas crianças não têm problemas em falar quem são, mas lidam com dificuldade absoluta diante da autoridade dogmática, por exemplo. Esperar numa fila, para elas, é um tormento porque “todos deveriam saber quando é a sua vez”. São criativas e não têm o menor problema em quebrar regras – o que as torna rebeldes para os olhares menos atentos, que as julgam em demasia, classificando-as como antissociais porque são tímidas e retraídas e não compactuam com muitos comportamentos ainda “primitivos” da nossa sociedade. Por isso têm tanta dificuldade em socializar-se nas escolas, para elas uma instituição arcaica que aplica métodos antiquados.

 

RIE – No filme, quem é A Menina Índigo e qual trama o espectador vai encontrar?

WAGNER – O filme narra a história de uma menina de sete anos chamada Sofia, que gosta de “curar” a seu modo as pessoas ao redor. Ela também gosta de pintar, mas não objetos de interesse convencional, e sim tudo e todos à sua volta – até mesmo ela própria. Num determinado momento, decide ir morar com seu pai (separado de sua mãe) para cuidar dele. No fundo, a menina quer que pai e mãe estejam juntos novamente. Assim, Sofia passa a mexer profundamente com o pai, fazendo-o repensar valores e sentimentos. Ele é um jornalista investigativo que, ao cuidar de um caso de corrupção, descobre aí o envolvimento de seu próprio pai, o avô da menina, um inescrupuloso empresário. Assim, temos três gerações impactadas pela presença da menina em suas vidas.

 

RIE – Em quanto tempo o longa-metragem foi produzido? Comente também sobre a seleção do elenco e trilha sonora.

WAGNER – Um filme leva cerca de três a cinco anos para ser feito, entre concepção, desenvolvimento, filmagens e lançamento. A Menina Índigo tem como protagonista a atriz Letícia Braga, um talento enorme que está despontando artisticamente. Ela é a menina índigo. Os pais são interpretados por Murilo Rosa e Fernanda Machado, que estava grávida durante as filmagens e vivenciou intensamente a maternidade. A trilha sonora é do americano Trevor Gureckis, com quem já trabalhei no filme Nosso Lar – ele era maestro assistente do também compositor Philip Glass.

 

RIE – Quando se dará a estreia do longa-metragem e quais cidades farão a exibição?

WAGNER – O filme estreia dia 12 de outubro em circuito nacional ainda a ser confirmado.

 

RIE – Por que levar este tema para os cinemas?

WAGNER – Há certos projetos que nos encontram e “pedem” para serem feitos – são histórias que precisam ser contadas. Esta é uma história original, mas pode dizer-se que faz parte de muitas histórias reais. Há uma crise de educação no país – e essa crise passa pelo entendimento do que seja educação, dos métodos, do que é a escola ideal, de diagnósticos precoces, de doenças que são uma sopa de letrinhas. Acho que a relevância desse filme – que foi feito não só para entreter, mas também para pensar – é falar de um tema que traz esperança e responsabilidade às telas: o que fazer com a nova geração e como “não estragar” seus valores?

 

RIE – De que forma o filme pode contribuir para a desmistificação de crianças índigo?

WAGNER – Um filme pode ajudar a refletir e não mais que isso. Mas se as pessoas saírem da sala de cinema e pensarem em como podem ser pais melhores para seus filhos, em como podem procurar entendê-los sem prenderem-se a antigos paradigmas, isso já terá sido um grande benefício a ser prestado pelo filme, como produto artístico. Particularmente, acho que a magia do cinema se encarrega de tocar as pessoas por meios alternativos. Este é o grande momento de lidar com tal forma de comunicação.

 

RIE – Como você esclareceu, crianças índigo podem apresentar comportamento mais intuitivo e de maior sensibilidade, por vezes interpretado como antissocial. Como o filme pode ajudar pais e educadores a entender e a lidar com suas peculiaridades?

WAGNER – Ao contar uma história sobre uma menina com essas características, queremos sempre que o público embarque na dramaturgia, mas também transcenda de alguma forma a história para suas próprias vidas. Essa identificação que se cria com os personagens é sempre um momento importante para o espectador, porque desta interação podem desabrochar formas de ajudar – ou não. Ao mesmo tempo, quando resolvemos contar essa história em um filme, outros conteúdos são gerados a partir da produção original – a exemplo das entrevistas que nos permitam falar mais teoricamente a respeito do problema. E isso sempre gera interesse, pesquisa, informações, enfim, movimentos que podem propiciar mudanças, auxiliando pais e educadores.

 

RIE – Você acredita que a nova geração exige uma reformulação dos métodos educacionais a fim de estimular ao máximo suas potencialidades?

WAGNER – Absolutamente, sim! A escola precisa urgentemente modificar-se. Os professores já se modificam “por conta própria”, mas há muito ainda a ser feito. Atualmente, as escolas simplesmente “matam” a criatividade, a possibilidade de novos horizontes serem explorados. Não precisamos mais da escola que foi criada apenas para ser uma transmissora de informação, muito menos que vise à formação de proletários.

 

RIE – De que forma esta nova geração contribuirá para a transição da Terra à categoria de mundo de regeneração?

WAGNER – Particularmente, tenho ouvido muita coisa a respeito que me toca profundamente. Outro dia uma amiga me disse que está havendo “uma enxurrada de amor com o renascimento desses seres regenerados entre nós”. É lindo e esperançoso pensar que a regeneração que entra nas nossas vidas aos poucos continua seu rumo, independentemente daqueles que faliram moral e eticamente em seus projetos. Esses momentos são preciosos, porque são os seres que estão nascendo agora que vão comandar as artes, as ciências, a política pelos próximos 80 anos. Ou seja, é preciso confiar e trabalhar pelas novas gerações – sem descuidar daquelas que já estão reencarnadas segurando o tranco em tempos tão turbulentos. Mas, acima de tudo, é preciso ter esperanças e confiar – e a espiritualidade só nos ajuda e reforça. Quanto a isso, só posso registrar minha gratidão.

 

RIE – Suas palavras finais.

WAGNER – É importante que não deixemos para depois os assuntos importantes sobre nossas vidas, tais como as necessárias reformas íntima e social. Mas essa nova geração também se insere nesse rol. Que nossos filhos não sejam tratados como “reis ou rainhas” sem limites, sem educação e sem amor. Que sejam educados conforme suas necessidades e possibilidades – e não pasteurizados num método de ensino que só atende a interesses capitalistas. Que os pais assumam com coragem a educação de seus filhos – e não terceirizem essa responsabilidade. E que essa menina índigo possa tocar o coração daqueles que estiverem nos cinemas, com muita poesia e uma vida bem colorida.

outubro | 2017

MATÉRIA DE CAPA

RIE – outubro/2017

Estreia em outubro a produção nacional “A Menina Índigo”, longa-metragem que re ete sobre crianças índigo e métodos educativos.

Lista completa de matérias

 Missionário

 A Menina Índigo – CARTA AO LEITOR – Outubro 2017

 Prece: padrão ou coração?

  “A Menina Índigo”: uma reflexão necessária sobre educação

 1804: o ano do renascimento de Allan Kardec

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 Religião e homossexualidade

 Um novo princípio de higiene

 Cristianismo: esperança sublime

 Quem escolhe as nossas doenças?

 O progresso roça os calcanhares humanos

 Cristianismo, Espiritismo e o Anticristo

 Ideia mestre

 Gratidão pelo serviço

 A corrente do bem

 Desafios da casa espírita na atualidade

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 Paciência em ti

 Reencarnação: via para a lucidez

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