Agosto | 2019

Amigos… verdadeiros amigos

Jaime Facioli |

jaimefacioli.adv@uol.com.br

Ninguém pode furtar-se de viver sem a convivência de amigos sinceros.

 

A definição do termo amigo, além de corroborar o sentimento de amizade ou de benevolência, traz ínsito o caráter da bem-querença, ou sobre outra dicção, a afeição. Além disso é certo que o amigo, quando verdadeiro, é capaz de sacrifícios, de prestar favores sem nada cobrar ou pedir em troca, procedendo como autêntico cristão ao atender os companheiros de jornada em desalinho, atento ao comando das bem-aventuranças ensinado pelo pastor das almas.

Nesse sentido, não será reprochável asseverar que as pessoas mudem e suas vidas e se reorganizem, mas os amigos o serão para sempre, ainda que não tenham nada em comum, porque a afeição faz morada naqueles que sabem compartilhar as recordações, máxime porque as boas lembranças nunca se perdem. Aliás, anote-se que um dos conceitos do homem em evolução é o que se conhece a pessoa pelos amigos que faz nessa existência, em detrimento aos “inimigos” do passado, assim considerando que esse pulcro proceder cultiva a amizade no jardim da eternidade do tempo.

É bem verdade que a linguagem popular, vez que outra, despersonaliza o sentido da palavra em certas circunstâncias, como acontece ao nominar o procedimento contrário à sincera amizade com a expressão “amigo da onça”, sob a égide da velha charge de Péricles na antiga revista O Cruzeiro, o que não deixa de ser verdade.

É oportuno dizer, todavia, que nenhuma representação do amigo verdadeiro que se conheça na trajetória do tempo foi tão fiel ao texto do tema em apreço, como aquela vivida por José de Arimateia nos idos tempos, com o Divino Amigo de todas as horas, relembrando agora os fatos transatos ocorridos na poeira do tempo, sobre a verve e a emoção do articulista. Naqueles tempos, ele era um homem rico e possuía, entre outros bens, uma frota de 14 navios mercantis que se destinavam ao comércio com os povos distantes. Morava num palácio suntuoso, e era um homem justo e bom. Quis o destino que ele fosse membro do colegiado dos mais altos magistrados do povo de Israel. Entre seus pares, setenta deles investidos do poder de julgar o povo de Israel, o verdadeiro amigo se identifica, tendo a oportunidade de defender Jesus de Nazaré das insensatas e inverídicas acusações que lhe pesaram, por absoluta influência e interesse de Caifás, seu sogro, Sumo Sacerdote Judaico. Para defender o amigo, não temeu perder o poder, a riqueza, e o prestígio que desfrutava na comunidade, o que de fato ocorreu, pela expropriação de seus bens e a prisão que lhe foi decretada pelo mesmo Sinédrio que condenou à morte o Divino Galileu. Naquela ensancha, o mais importante era o Amigo desamparado e abandonado pelos apóstolos, que a exemplo de Simão Pedro, O abandonaram. Todavia, tendo Pedro negado-O por três vezes, ao que depois se redimiu.

José era da cidade de Arimateia, na Judeia, e guardava relação de amizade sincera também com todos os apóstolos do Cristo; nada obstante seu nobilíssimo cargo de Juiz do Sinédrio, seus esforços junto aos seus pares, o homem rico e bom, sensato e cortês, não conseguiu evitar o julgamento arbitrário do Mestre, pela Corte assustada e em pânico pela figura magnânima de Jesus de Nazaré trazendo a Boa Nova. Em Jerusalém, depois de passar pelas mãos de Pilatos, representante de Roma, o Estado de Direito da época, provocado por Caifás, a injusta condenação se consumou. O amigo na excelência da palavra, José de Arimateia, acompanhou a trajetória de dores do Divino Jardineiro até vê-lo expirar na cruz.

Consumado o sanguinário ato de injustiça, não cessou seus esforços em prol do amigo. Foi em busca do procurador da Judeia, Pilatos, seu conhecido em razão da mercancia que exercia para si e para o Estado de Direito, e esse que aguardava que algum parente do condenado Galileu fosse até ele para lhe pedir o corpo, admirou-se que foi justamente um membro do Sinédrio, que se dizia Seu discípulo é quem foi em busca do despojo do profeta. Pilatos cedeu ao pleito, sem grande resistência, exarando a ordem para entrega do corpo a José de Arimateia, quiçá porque ainda estivesse sob o impacto do recado de sua esposa, Cláudia Prócula, que o advertira de véspera que havia sonhado com o acusado e os acontecimentos daquele dia fatídico, alertando-o para que não condenasse um inocente.

Sabe-se pela historiografia que o Governador, não obstante ter lavado as mãos, antes da sentença fatídica, seu gesto reconhecia tratar de um julgamento injusto do acusado, razão de seu empenho para evitar o ato extremo, sem êxito. É crível, portanto, aceitar que a liberação do corpo sem questionamento pode ter se dado também pela consciência daquela autoridade, reconhecendo a pureza e a docilidade do acusado com suas palavras sensatas, máxime o seu silêncio quanto a resposta à pergunta do que seria a verdade.

Assim, com a permissão do procurador, José retornou rapidamente ao Calvário, para evitar qualquer tentativa brutal dos soldados ao cadáver de Jesus. Providenciada a retirada do corpo da cruz, preparou-o para o sepultamento, envolvendo os membros e o tronco do corpo com as tiras necessárias e o sudário para cobrir o rosto. Utilizou também o lençol de linho para envolver o corpo, preparando as ervas aromáticas especiais para o embalsamento, conforme o costume judaico. Nada era demais para o Amigo. Perto do Gólgota, a uns trinta metros, José de Arimateia tinha uma propriedade, com uma espécie de jardim e nessa herdade havia um sepulcro cavado na rocha, para que o seu próprio corpo fosse ali depositado um dia. Num gesto de plenitude em ágape e sem hesitação cedeu o túmulo intacto para acolher o corpo do Amigo.

Sem contradita, seguindo as pegadas de José de Arimateia (Ernesto, exilado de Capela), ninguém pode se conceder a prerrogativa de viver sem amigos. Por isso dizer que o eremita ou misantropo não estão com a verdade ao procurarem o isolamento, máxime porque os seres humanos são eminentemente gregários, não sendo reprochável anotar que a atitude de segregação é vereda de afastamento da sociedade que carrega no seu imo muito mais um gesto de egoísmo do que de sabedoria.

O livro bíblico de Eclesiástico (Cap. 6, v 11/16) se refere aos amigos externando os seguintes sentimentos: “Nada se pode comparar com um amigo fiel, e o ouro e a prata não merecem ser postos em balança com a sinceridade da sua fé. O amigo fiel é um bálsamo de vida e de imortalidade. Não há medida que avalie o seu valor. Amigo fiel é uma forte proteção. Quem o encontrou, encontrou um tesouro”. Sem dúvida, por essa vertente, pode-se afiançar não ser justo abandonar um amigo com quem já se viajou até as estrelas do firmamento, trocando confidências, pesares e alegrias e da mesma sorte os amigos novos, aqueles que dão o zênite da evolução aos candidatos à felicidade, pois será sempre alguém que chega para enriquecer a vida no cultivo das novas amizades, com zelo e prudência, porque as palavras doces multiplicam os amigos e diminuem os inimigos. Com fulcro nesse ideário, sábio será aquele que cultiva amizades com o zelo de um jardineiro, verbi e gratia, Jesus, pois na provação encontrará sempre uma presença discreta a lhe oferecer um ombro para chorar, um colo para se abrigar, caminhando unido nas alegrias e nas provas, tornando feliz aos que transitam pelo planeta, oferecendo a oblata da sincera amizade.

É o que se haure sob os auspícios do Momento Espírita de 10 de junho de 2016, servindo de reflexão ao tema em apreço, máxime porque é comum nessas oportunidades possibilitar às criaturas. na caminhada da vida, o ensejo para alcançar a felicidade. Como aqueles que se apresentam fazendo parte da vida de quantos acreditam que ontem foi o passado, o amanhã será o futuro e hoje o presente da divindade aos seus filhos, razão do verbo se chamar presente. Afinal, o amigo incondicional de todas as horas é o modelo que se deseja como a luz da vida, sempre radiante e que se encontra em todo o tempo e lugar, na bem-aventurança de nosso ser, que foi criado pela Providência Divina, Pai Todo Poderoso, Onisciente, Onipresente e Onipotente.

novembro | 2016

MATÉRIA DE CAPA

RIE – novembro/2016

Uma amizade verdadeira é o maior tesouro que se pode conquistar sobre a Terra, alimentando-se um sentimento mútuo de benevolência.

Lista completa de matérias

 Ação da matéria

 Amigos – CARTA AO LEITOR – Novembro 2016

 No Enem moral

 A prática dos ensinos de Jesus deve ser o foco do centro espírita

 Somos bons cidadãos do Universo?

 Antes que venha o arrastão

 Revivência mnemônica no suicida

 Emprego útil do tempo

 A dimensão do estudo sistematizado na unificação do movimento espírita

 O “Filho do Homem”

 O choque de religiões ocidentais com as tradições africanas

 O pedagogo Allan Kardec

 Programa imortalista

 O que fazemos de especial?

 A chave dos destinos humanos

 A juventude nos dias atuais

 70 vezes 7 vezes, o indexador evangélico

 Câncer: feridas latentes do períspirito

 Amigos… verdadeiros amigos

 Céu, inferno e purgatório

 Cielo, infierno y purgatorio

 NOTÍCIAS E EVENTOS – Novembro 2016 – RIE

 Feira do Livro em Ribeirão Preto homenageia Cairbar Schutel

 6º EAC exalta a paz

 VI Congresso Espírita de Sergipe

 I Encontro de Arte Cura da Paraíba

 Atividades de Cesar Perri pelo Brasil

 Transição e primavera

 8º Congresso Espírita Mundial

 Infância virtual

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