Julho | 2019

Autoconsciência e liberdade

Lucy Dias Ramos |

eledias35@gmail.com

O desenvolvimento individual é contínuo e será refletido em nossa conduta

 

Amanhece e uma quietude nos acalma o ser, nesta manhã chuvosa e cinzenta, sem o brilho do sol a dourar a paisagem que contemplo...

Mesmo assim, sei que ele aquece e ilumina a Terra!

Esta consciência de que o sol está acima das nuvens densas, embora não o veja, eleva minha sintonia e me permite perceber com otimismo o que me cerca como bênçãos, porquanto a fé e a esperança permanecem em meu íntimo, mesmo em dias sombrios e tristes...

O pensamento, acionado pela gratidão a Deus, leva-me a refletir em torno da liberdade de pensar, de sentir, de buscar mudanças que confortem a alma em momentos de dor e desafios existenciais.

Sei que você, estimado leitor, também pensa assim quando já tem dentro de si o mesmo sentimento de gratidão e a capacidade de escolher seu caminho, norteando-o pelas luzes do Evangelho de Jesus.

Entretanto, gostaria de falar um pouco mais ao seu coração sobre o livre-arbítrio, esse poder que Deus nos concede no processo de desenvolvimento moral, colocado em prática nas vidas sucessivas.

Remontando à fase primitiva de nossa criação, quando o instinto nos guiava, resguardando-nos dos perigos ambientais na luta pela sobrevivência, ainda não tínhamos o discernimento nem o raciocínio para superar obstáculos. Usávamos a força e a coragem como defesas da vida.

Após o surgimento da razão, já na fase inicial do processo evolutivo como seres humanos, fomos sendo despertados para novas descobertas, vencendo as intempéries e as limitações daquela fase.

Na linha de nossa evolução, passamos então ao aprendizado rudimentar, entretanto, já fazíamos escolhas para superar os obstáculos e as dificuldades naturais.

A mente, como instrumento de manifestação do Espírito através do pensamento, daquilo que sente, e impulsionada pela vontade, determinará o que desejamos e o que somos na linha do progresso moral.

Podemos imaginar nossa evolução como um gráfico, em que o vértice vai alargando as linhas superiores do ponto de inserção na mesma proporção em que adquirimos conhecimento, liberdade de agir e a livre escolha de nossos caminhos.

Contudo, cresce também a responsabilidade pelos nossos atos através da autoconsciência, que vai surgindo, pouco a pouco, na linha do progresso moral.

O desenvolvimento individual é contínuo e será refletido em nossa conduta e no modo como interagimos no meio social; para isto estabelecemos mudanças que nos permitam viver em harmonia.

Porém, ainda demoramos a nos libertar do egoísmo e de outros entraves ao progresso moral, dificultando a ascensão libertadora.

Muito importante para isso é a busca do autoconhecimento, de uma análise constante de nosso mundo íntimo, para estabelecer novas metas e alijar as imperfeições que retardam nossa evolução e a conquista da paz.

A autorrealização somente será possível através do autoamor, da aceitação passiva de nossas imperfeições, tentando saná-las; nesse processo, pouco a pouco adquirimos a autoconsciência, ampliando-a para a conquista da autoiluminação.

Joanna de Ângelis leciona que o bem e o mal estão inscritos na consciência, porque somos Espíritos imperfeitos; porém, temos a liberdade de escolha sobre tudo o que fizermos para desenvolver as potencialidades inerentes ao desenvolvimento moral e intelectual.

“(...) Esse mal, aliás transitório, temporal, que o propele às ações ignóbeis, aos sofrimentos, é remanescente atávico do seu processo de evolução, que será ultrapassado à medida que amadurece psicologicamente, e se lhe desenvolvam os padrões de sensibilidade e consciência para adquirir a integração com o Cosmo, liberado das injunções dolorosas, inferiores.”[1]

Como um ser pensante, dotado de liberdade e discernimento entre o bem e o mal, podendo fazer escolhas que o levem à autoconsciência do que deve realizar na linha de seu desenvolvimento moral, certamente poderá sofrer estagnações ou simplesmente transcorrer de forma contínua, dependendo do estágio evolutivo já conquistado.

Todavia, cresce em seu íntimo a certeza de que é um ser único, inigualável, podendo seguir sua existência terrena, superando os óbices naturais de sua ascensão espiritual, cada vez com maior intensidade e níveis mais elevados.

Já não haverá espaços em sua vida para outras conquistas que não sejam as ditadas pela consciência lúcida e desperta para os valores reais, buscando a felicidade numa visão otimista alimentada pela fé e a esperança que o anima a seguir sempre na direção da meta delineada.

Nesta fase já terá superado o vazio existencial, preenchendo-se de novos objetivos que o façam pleno e confiante em seu futuro espiritual, respeitando as leis morais e vivenciando o amor em todas as circunstâncias que exijam sua colaboração e apoio fraterno.

A meditação e a oração, como alimentos da alma, favorecem a continuidade dos planos em sua ascensão libertadora, e a autoconsciência o torna livre das injunções do medo e da culpa que passam a ser trabalhados com o autoamor e a autorreparação.

“A comunhão mental com outras ondas de pensamento, em áreas extrafísicas, proporcionar-lhe-á a identificação com Entidades benfeitoras, que inspiram decisões e condutas saudáveis, enriquecendo-o de bem-estar.”[2]

Esse intercâmbio salutar que beneficia o indivíduo com vibrações de paz e enriquece a alma, faz com que todos nós que almejamos a libertação da consciência e a lucidez mental tenhamos uma visão mais otimista da vida e compreendamos nossa responsabilidade perante as leis morais, facilitando nossos relacionamentos familiares, sociais e profissionais, evidenciando um novo patamar de equilíbrio emocional e plenitude íntima.

“Comovedora também a autoconsciência de Jesus, enunciando ser a luz do mundo, a claridade dos séculos, a força capaz de vencer a noite da ignorância, a treva da inferioridade moral dos seres.”[3]

Como seguidores de Jesus na trilha da redenção espiritual, busquemos em seus ensinamentos a maneira mais adequada para pensar, agir e servir aos semelhantes com amor e devoção.

 

  1. FRANCO, Divaldo. O ser consciente. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Cap. 6.
  2. FRANCO, Divaldo. Conflitos existenciais. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Cap. 15.
  3. FRANCO, Divaldo. Refletindo a alma. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Núcleo de Estudos psicológicos Joanna de Ângelis. Mansão do Caminho. Parte IV.

novembro | 2018

MATÉRIA DE CAPA

RIE – novembro/2018

Dotados de livre-arbítrio, vamos aos poucos formando a autoconsciência, aumentando nossa liberdade e também a responsabilidade sobre nossas ações.

Lista completa de matérias

 Por união e fraternidade

 Autoconsciência e liberdade – CARTA AO LEITOR – Novembro/2018

 Por que voltamos?

 A obra social espírita é mensagem de consolação e esperança

 Intuição, a voz silenciosa

 Saudade dos que partiram

 Autoconsciência e liberdade

 Manifestações espirituais

 Um convite

 Freud, a psicanálise e o Espiritismo: uma questão dimensional de objeto

 A emergência de uma nova ordem mundial

 Almas e “almas gêmeas”: aspectos e ângulos

 O que é “O Livro dos Espíritos”?

 Divulgação espírita pelas ondas do rádio

 Os contrários

 Magnetismo, meditação, Espiritismo e as árvores

 Natal: a chave da porta da felicidade

 Mediunidade: uma ponte entre dois mundos

 O cristão e o mundo

 25 anos da Campanha “Viver em família”

 O semeador e a família

 El sembrador y la familia

 NOTÍCIAS E EVENTOS Novembro 2018 – RIE

 Um tributo a Richard Simonetti

 Matão rememora Cairbar Schutel, seu filho mais ilustre

 Livros sobre Cairbar Schutel são destaques em universidade e entrevistas

 A Vida no Outro Mundo

 E a magia se fez