Junho | 2022

Chico Xavier, 20 anos depois

Antonio Cesar Perri de Carvalho

acperri@gmail.com

Parece-nos pertinente recordar alguns aspectos sobre as linhas de pensamento desenvolvidas nas centenas de livros do médium

 

Há 20 anos, no dia 30 de junho de 2002, desencarnava Chico Xavier. Nesse período de tempo ocorreram várias repercussões relacionadas com a vida e a obra do médium.

Entre eventos e homenagens destacam-se: o nome na rodovia federal a partir da divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais até Uberlândia; tributo a Chico Xavier na ONU; comemorações em todo o país por ocasião do centenário de seu nascimento no ano de 2010; filmes com seu nome e sobre suas obras com enorme frequência; homenagens no Congresso Espírita Mundial em Valência (Espanha); homenagens no Congresso Nacional; registro no Panteão da Pátria, da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves; o título de maior brasileiro de todos os tempos em votação popular promovida pela emissora de TV SBT; designação de centros espíritas, praças e ruas; e inúmeros eventos presenciais e virtuais focalizando sua vida e obra.

Há muitas homenagens e reconhecimentos significativos, mas é cabível a análise sobre como a experiência de vida e a profícua obra psicográfica de Chico Xavier vêm sendo valorizadas no ambiente do movimento espírita.

Parece-nos pertinente recordar alguns aspectos sobre as linhas de pensamento desenvolvidas nas centenas de livros do médium.

Com esse propósito, e para desenvolver palestra no Grupo Espírita Batuíra,[1] escolhemos as cinco palavras-chave que o caracterizam e que foram utilizadas durante as comemorações do centenário de seu nascimento: espírito, saber, fé, caridade e amor. Estas palavras estão presentes no conteúdo dos livros e se concretizaram em ações durante a vida de Chico Xavier. Portanto, são fontes de inspiração e de roteiro para nossas trajetórias de vida.

A vertente simbolizada por “espírito” é a marca registrada das ações do missionário, que atuou como intermediário de entidades desencarnadas durante toda a sua vida. Na leitura de seus livros ficam evidentes as comprovações da sobrevivência do Espírito e sua identidade. Desde criança, Chico identificava e dialogava com sua genitora desencarnada Maria João de Deus, que chegou a escrever o segundo livro pela psicografia do filho: Cartas de uma morta. Destaque histórico foi o primeiro livro, Parnaso de além-túmulo, em que dezenas de poetas desencarnados tiveram seus estilos identificados nos versos mediúnicos por autoridades como o poeta paulistano Menotti Del Picchia.

O rumoroso caso do processo da família de Humberto de Campos postulando direitos autorais gerou o livro A psicografia ante os tribunais, no qual o jurista Miguel Timponi comenta a absolvição do médium e da editora. O autor analisa estudos entre a obra de Humberto de Campos encarnado e como Espírito, que com base em avaliações de profissionais de várias áreas atestam a autenticidade do estilo do autor espiritual.

As centenas de “cartas familiares” colaboraram com o consolo e reequilíbrio de familiares que choravam a dor da perda de entes queridos. A identidade desses Espíritos comunicantes foi estudada e comprovada em pesquisa feita por Paulo Rossi Severino e divulgada no livro A vida triunfa.

Além dos fatos sobre identidade de Espíritos registrados em livros, inúmeras pessoas, ao visitarem o médium, ficaram surpresas e convencidas com informações sobre entidades desencarnadas com elas relacionadas.

Em função dessa continuada interexistência entre as dimensões espirituais e do mundo corporal, brotou uma sabedoria diferente com a atuação de Chico Xavier. Isso porque o seu saber não era fruto do estudo formal e muito menos acadêmico. Ele completou apenas o ciclo das então chamadas quatro séries primárias. Nas manifestações psicográficas e psicofônicas, em diálogos e entrevistas públicas, surgiam apreciações em diversos estilos — poemas, romances, contos e dissertações —, focalizando temas variados e profundos do conhecimento humano.

Haja vista as produções do Espírito Emmanuel, desde sua obra inicial Emmanuel, passando por O consolador, A caminho da luz, os romances históricos iniciados com Há dois mil anos, mais de um milhar de estudos com a exegese de versículos do Novo Testamento e livros que homenageiam obras da Codificação.

As obras assinadas pelo Espírito André Luiz são marcadas pela série iniciada com Nosso Lar, detalhando as relações entre as humanidades encarnada e desencarnada, e em várias delas prenunciando informações sobre recursos do mundo espiritual. Muitos desses equipamentos e técnicas seriam desenvolvidos décadas depois em nosso mundo. A vertente com abordagens relacionadas com áreas científicas, notadamente sobre relações psicossomáticas, aparece em No mundo maior e Evolução em dois mundos.

Apenas esses autores espirituais já demonstram um saber diferenciado, que extrapola os cânones acadêmicos formais, resultante das relações entre o médium e os Espíritos de que ele foi intermediário.

A trajetória de vida de Chico Xavier, desde o menino pobre e não compreendido, as diversas doenças físicas e tratamentos médicos a que ele se submeteu, vários reveses e pressões a que foi sujeitado, representam um atestado de que ele soube superar diversos e variados obstáculos. Ele sempre dizia que não era um ser privilegiado!

(...) a maior e continuada homenagem que devemos propugnar será o aproveitamento dos exemplos da experiência de vida, o profícuo e profundo conteúdo das obras psicográficas de Chico Xavier e sua fidelidade a Jesus e a Kardec

É sabido o apoio espiritual de que era beneficiário, mas Chico também relatava que os Espíritos não eliminavam alguns impasses, deixando que ele escolhesse o caminho ao sabor do livre-arbítrio. Em autênticas situações de testes, sempre demonstrou confiança, fé e a busca pelo caminho do bem. Indiscutivelmente era um autêntico homem de fé!

Seus conselhos e os livros mediúnicos representam um rico repositório de valorização da fé. Além de centenas de mensagens espirituais sobre o tema, há alguns livros que trazem no título esta palavra, como: Seara de fé; ; Páginas de fé; Fé, paz e amor; Caminhos da fé.

Desde os tempos de sua juventude em Pedro Leopoldo até o final da existência física em Uberaba, a caridade foi uma prática persistente de Chico Xavier. As chamadas peregrinações eram a materialização da caridade material e espiritual. Além disso, no silêncio de muitas noites Chico visitava lares necessitados.

Há muitos depoimentos sobre episódios de sua extrema dedicação e apoio espiritual, e inclusive nós tivemos testemunho desse fato em nosso ambiente familiar. As filas imensas de pessoas que o procuravam nos centros em que trabalhou representam exemplo claro que ali ele praticava a caridade espiritual, com atencioso acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação.

Outro aspecto da caridade foi o desprendimento de Chico de valores materiais, doando os direitos autorais de centenas de livros e, em muitas outras situações, direcionando para diversas instituições o benefício de doações que ele não aceitava. O tema caridade transborda de suas páginas psicografadas, registrando o pensamento e orientações de inúmeros autores espirituais. Inclusive, há um livro intitulado Antologia da caridade, de autoria de diversos Espíritos.

Praticamente coroando o vasto significado das palavras-chave que já destacamos, surge a quinta: amor. A essa altura lembramos da palavra grega “ágape”, que significa amor que se doa, amor incondicional e o amor que se entrega. Exatamente o que caracterizou sua vida longa e profícua. Chico Xavier operacionalizou o amor com a prática da caridade, a vivência da fé, empregando a valorização do saber espiritual e a certeza inconteste da vida imortal. A mensagem do amor também é a tônica marcante nos textos por ele psicografados. Aliás, há vários livros incluindo essa palavra no título, como Leis de amor, de autoria de Emmanuel, e o muito sugestivo Amor sem adeus, em que a perpetuidade de laços é assegurada por Espíritos diversos.

A propósito, torna-se oportuna a recordação de versículo de Paulo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine” (1 Coríntios, 13:1, Bíblia ACF).

A nosso ver, em que pese o valor das homenagens e reconhecimentos públicos, a maior e continuada homenagem que devemos propugnar será o aproveitamento dos exemplos da experiência de vida, o profícuo e profundo conteúdo das obras psicográficas de Chico Xavier e sua fidelidade a Jesus e a Kardec.

Aos 20 anos após a partida espiritual de Chico Xavier, essa é nossa sugestão para que o movimento espírita valorize o médium que foi um autêntico “divisor de águas” na trajetória do Espiritismo no Brasil.

junho | 2022

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