Julho | 2023

Deus

José Wagner Papini

drjosewagnerpapini@gmail.com

A fonte e o princípio de toda a vida

 

Para o bom observador, existe uma ordem, uma harmonia que compõe o Universo, regido por leis permanentes e universais, e que não foram criadas por seres passageiros, limitados no tempo e no espaço.

Utilizando de sua inteligência, o raciocínio humano, evoluído, libertou-se de conceitos alienados e dúvidas, e buscando, encontrou um instinto seguro, absoluto e perfeito, a sabedoria eterna, o centro da vida que é o amor, que é Deus.

 

Que é Deus?

Definir é limitar. E definir Deus, seria, no mínimo, muita arrogância deste autor. Mas com humildade, segundo estudos, e de acordo com a Espiritualidade Superior... Deus é o Ser universal sem limites no tempo e no espaço, por conseguinte, é infinito e eterno. Deus é a fonte e o princípio de toda a vida.

Levemos em consideração a advertência de João, o evangelista: “Porque Deus é amor.” (1 João, 4:8)

De acordo com O Livro dos Espíritos (Livro Primeiro, Capítulo 1, item 1): “Que é Deus? — Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.” E no item 13: Deus é eterno. É imutável. É imaterial. É único. É todo poderoso. É soberanamente justo e bom.

Onde podemos encontrar Deus? No mais profundo de nosso ser, interrogando-nos em nossa solidão, estudando e desenvolvendo nossas faculdades latentes, nossa razão e nossa consciência.

Trazemos em nós um Amigo Sublime que não conhecemos. Ele reside no interior de cada um de nós, mas poucos sabem encontrá-Lo.

Ele é Deus.

Muitos se questionam por que os seres humanos são tão desiguais e têm destinos tão diferentes. Ou por que alguns vivem atormentados pelo ódio, enroscados nas mais variadas formas de sofrimentos. Encontramos resposta em O Evangelho segundo o Espiritismo (Capítulo IX, item 10, último parágrafo). Afirma o Espírito Hahnemann: “Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito.”

Seguir a trilha do mal, dos vícios, da violência, de todas as espécies de crimes, não deve ser uma ação atribuída a problemas sociais, mas ao nosso temperamento, que demonstra nossas inclinações e tendências, responsáveis por todos os atos de nossa vida.

Prosseguindo o que nos orienta Hahnemann: “A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que vedes se operar? Dizei-vos, pois, que o homem não permanece vicioso senão porque quer permanecer vicioso; mas aquele que quer se corrigir sempre o pode, de outra forma a lei do progresso não existiria para o homem.”

Considerando a pluralidade das existências, entendo que acreditar em Deus não é uma capacidade exposta a todos os seres humanos. Entendam como melhor lhes aprouver, mas muitos só terão esse conhecimento pleno após muitas experiências chamadas espirituais. Depois que muitas almas renascerem tantas vezes quantas forem necessárias, então, compreenderão o que seja Deus.

Primeiro, muitos terão também de compreender e seguir o que nos orienta Emmanuel: “Aceita-te como és e onde estás, a fim de que consigas caminhar com segurança para o que deves ser e para a melhor condição que te cabe alcançar.”

Compreendi que, para começar a entender Deus, o ser humano tem de afastar-se da imensa gosma da ignorância e do preconceito que o envolve. No entanto, consideramos que vivenciando a humildade, começa o nosso entender do que seja Deus. Quando o ser humano celebra a humildade, não quer dizer tornar-se inferior, mas, ao contrário, sua alma cresce, sendo então, superior. Refletindo com sensatez, compreendemos que para que a humildade cresça, uma terrível deficiência, um grande vício tem de extinguir-se, que é o orgulho.

A arrogância, o orgulho, e principalmente o egoísmo, essa verdadeira praga que atinge toda a humanidade, são manchas que penetram e se avolumam nos seres, chegando a dominá-los completamente se não forem controladas. O orgulhoso planta intrigas, estimula ambições, desce até ao ódio. O egoísta quer tudo para si, e ignora que ao desencarnar nada levará de material. O seu legado serão perturbações que continuam no além-túmulo, transcendendo a morte.

Quão importante é nesse e em todos os momentos a reflexão. Afinal de contas, trata-se de nossas vidas atuais e futuras. Podemos preservar-nos de amargar inúmeros sofrimentos. E quando compreendemos o quão pequenos somos, não nos permitimos mais ser arrastados e governados pelo orgulho e pelo egoísmo.

O próprio Jesus afirmou que o menor dentre vós será o maior no reino dos céus. Por essa razão, ninguém seja desprezado. O nosso real valor não se resume no que possuímos, mas no que somos. O possuir requer preocupação. O ser é maior do que o ter. Somos apenas administradores dos bens terrestres. Nada é de ninguém. Antes de nós, quantos tinham certeza de que possuíam todos os tipos de bens. Cedo ou tarde, os bens que hoje administramos amanhã passarão a ser administrados por outros.

Doce ilusão!

A excessiva dedicação para aquinhoar bens materiais leva à inveja, ao ciúme e ao egoísmo. Aumenta no invejoso o desejo de possuir, que o esgota. Atrapalha o seu repouso e lhe tira um bem verdadeiramente precioso, que é a paz.

Muitos estão tão ligados aos bens materiais e à vida na Terra que, quando passam para a vida além-túmulo, não conseguem desvencilhar-se das correntes que os prendem à vida terrestre.

A Lei Maior dita por Jesus foi: “Amar a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo.”

Qualquer bom observador percebe que a humanidade atravessa uma imensa crise de valores. Quem é o meu próximo? Atualmente é aquele que me traz lucro. Valoriza-se quem o ajuda a possuir a qualquer custo. Laços sociais são feitos, mais frequentemente, entre aqueles que se ajudam a adquirir cada vez mais bens materiais. E quando não existem mais interesses mútuos, desfazem-se muito facilmente.

Devemos ponderar que a riqueza pode ser um bem ou um mal, conforme a maneira que é utilizada. Ela nunca pode chefiar a nossa vontade, ou seja, dominar-nos. Ao contrário, devemos submetê-la ao nosso domínio. Simplesmente ser senhores de nossa riqueza.

Em todos os meus muitos anos de trabalho como médico clínico na rede pública, atendendo em postos de saúde de bairros de periferia, vivenciei bem de perto as carências, as privações dos mais necessitados. Como precisam, desde simples informações, a apenas uma palavra de estímulo, de sincero apoio, mas que fazem tanta diferença em suas vidas, prevenindo doenças e evitando tantos outros tipos de males.

Sabemos, entretanto, que importante solução para as causas das dores é a purificação do perispírito. Assim, de preferência, o nosso compromisso deve ser o de colaborar para o aperfeiçoamento da humanidade, levando os mais necessitados a fazer parte dos conhecimentos científicos, inaugurando centros de ensino e benevolência. Existem inúmeras maneiras de levar a riqueza a ultrapassar situações apenas de vaidade. E o nosso ser, quando aportar no mundo espiritual, onde ouro e riquezas nada querem dizer, evoluirá; sabendo que parte do trabalho foi realizado; e a força de nosso Espírito com mais esplendor crescerá às alturas.

Atentemos para a grande virtude que é a paciência, na busca das verdades da vida, até Deus, porque quando nos revestimos da paciência, e dominamos a impaciência, reforçamos a nossa força interior.

Onde podemos encontrar Deus? No mais profundo de nosso ser, interrogando-nos em nossa solidão, estudando e desenvolvendo nossas faculdades latentes, nossa razão e nossa consciência

Devemos persistir na persistência de estudar, principalmente, a Doutrina Espírita. Buscando-a continuamente estaremos cada vez mais próximos de Deus.

Não é fácil, contudo, ser paciente e conter a ansiedade. O corre-corre é tamanho que somos estimulados a estar sempre à frente dos ponteiros do relógio. E vinte e quatro horas parecem pouco tempo para tantas situações a resolver.

Não se trata de inibir a sensação de impaciência que nos suga, esgota nossas forças, porém encontrar amparo no ensino de Emmanuel: “Quando estiveres à beira da impaciência ou da ira, perdoa setenta vezes sete vezes e adota o silêncio por gênio guardião de tua paz.”

Compreendamos que as banalidades das aflições da vida na Terra, e a sua instabilidade, são pequenas quando comparados aos alívios e refrigérios na vida no Espírito que nos aguarda.

Tudo deve ser avaliado com equilíbrio, bom senso e moderação, evitando tudo quanto ocasione irritação e descontrole. O essencial é não deixar a cólera estabelecer-se, porque, do contrário, todos os nossos instintos mais baixos e obscuros virão à tona, e assim todo o respeito por si próprio, toda a razão que nos faz discernir, e a própria dignidade cessarão. Esta é a ocasião para que utilizemos toda a nossa força de vontade, sustentados por nossa fé em Deus, que é apoio em todos os momentos.

 

Sustentação

Por maior que seja a prova, não te afastes de Deus.

Pode a estrada ser fria, no entanto, Deus te aquece.

Sentes que há sombra em torno, Deus, porém, te ilumina.

Se te notas sem força, eis que Deus te sustenta.

Nos piores conflitos, Deus se te faz descanso.

Não desista do bem, Deus não te faltará.

(Psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, no livro Tocando o Barco.)

 

- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Salvador Gentile. 182.ed. Araras: IDE, 1974.

- Idem. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. 365.ed. Araras: IDE, 1978.

- XAVIER, Francisco Cândido. Tocando o Barco. Pelo Espírito Emmanuel. 1.ed. Luziânia.

 

julho | 2023

MATÉRIA DE CAPA

RIE – julho/2023

Se defini-Lo é limitá-Lo, onde podemos encontrar Deus?

Lista completa de matérias

 Mundos habitados

 Carta ao Leitor – Julho/2023

 Acerca dos instintos

 Poesias refletindo estados de consciência – Entrevista com Luís Rogério Cosme

 O estudo das obras espíritas básicas

 A Filosofia do Inconsciente de von Hartmann e a contestação de Alexandre Aksakof

 Religião assistemática

 A ciência e o coração

 Provar e expiar: eis as questões

 Coerências de Deus

 Simão Barjonas, missionário de Jesus

 A ação dos bons Espíritos diante do mal

 Allan Kardec era racista?

 A pluralidade dos mundos habitados: utopia ou realidade?

 Vida em Saturno: nosso futuro?

 Cinquentenários de título e de disco marcantes de Chico Xavier

 Exemplo da inteligência dos animais

 Deus

 A caridade ao alcance do dedão… do pé

 Parece um ou parece o outro?

 Diante do conformismo

 Os cânones da reforma íntima iluminando a vida

 Laços de amizade na infância