Julho | 2019

Elementos de duas gerações

Ailton Barcelos da Costa |

ailton.barcellos@gmail.com

A evolução é evidente e grande ainda é o número dos retardatários; mas, que podem eles contra a onda que surge, senão atirar-lhe algumas pedras?

 

Quando tentamos descrever o modo de vida da humanidade neste início de século, neste pequeno planeta, que do ponto de vista espiritual é o nosso lar momentâneo, vêm-nos à mente um turbilhão de pensamentos e sentimentos. Para muitos, aqui é um lugar terrível de se viver, cheio de violência e opressão de todos os tipos; um lugar extremamente negativo, cuja época atual é símbolo máximo da decadência do ser humano. Para tantos outros, a percepção é que habitamos um paraíso que começa a surgir, uma nova era de amor e prosperidade, verificando-se atos de bondade e caridade por todos os cantos.

Talvez esses dois olhares possam estar certos de alguma forma. Kardec em A Gênese nos diz que a época atual é de transição, em que se confundem os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e a chegada da outra, e cada uma se assinala pelos caracteres que lhes são peculiares (KARDEC, 2005).

A geração que desaparece levará consigo seus erros e prejuízos; a geração que surge, revigorada em fonte mais pura, imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido do progresso moral que assinalará a nova fase da evolução humana (KARDEC, 2005).

No mesmo sentido, na Revista Espírita de março de 1868, temos a citação do versículo 4 do capítulo 21 do Apocalipse: “Naquele tempo não haverá mais gritos, nem luto, nem trabalho, porque o que era antes terá passado.” Tal publicação nos diz que esta época predita chegou:

“Estais em meio a estes tempos como a espiga dourada está na colheita; viveis sob os olhares de Deus e sua radiação vos ilumina! De onde vem que vos inquietais com a marcha dos acontecimentos que foram previstos por Deus, quando apenas éreis as crianças da geração de que falava Jesus quando ele dizia: ‘Antes que esta geração passe acontecerão grandes coisas?’” (KARDEC, 2000, p. 20).

Na obra Há 2000 anos, Emmanuel nos traz a palavra de Jesus Cristo, em que Ele nos diz:

“Trabalharemos com amor, na oficina dos séculos porvindouros, reorganizaremos todos os elementos destruídos, examinaremos detidamente todas as ruínas buscando o material passível de novo aproveitamento e, quando as instituições terrestres reajustarem a sua vida na fraternidade e no bem, na paz e na justiça, depois da seleção natural dos Espíritos e dentro das convulsões renovadoras da vida planetária, organizaremos para o mundo um novo ciclo evolutivo, consolidando, com as divinas verdades do Consolador, os progressos definitivos do homem espiritual.” (XAVIER, 1996, p. 354)

Para Kardec (2005), grande ainda é o número dos retardatários; mas, que podem eles contra a onda que surge, senão atirar-lhe algumas pedras? Para o autor, essa onda é a geração que surge, ao passo que eles se somem com a geração que vai desaparecendo todos os dias a passos largos, porém, eles defenderão palmo a palmo o terreno. Haverá uma luta inevitável, mas luta desigual, porque é a do passado decrépito, a cair em frangalhos, contra o futuro juvenil, ou seja, a luta da estagnação contra o progresso, da criatura contra a vontade do Criador, uma vez que chegados são os tempos por ele determinados (KARDEC, 2005).

Para Manoel Philomeno de Miranda, neste momento de conturbação moral e de violência, de agressividade, de aberrações sexuais, de descontrole geral e de sofrimentos de todo porte, cumpre-nos, a todos, somar esforços em favor dos princípios da dignidade humana e da honradez, do equilíbrio no comportamento e da educação das gerações novas, único meio de oferecer ao futuro uma sociedade menos conturbada e deslindada dos terríveis cipoais da obsessão (FRANCO, 2006).

Kardec afirma em A Gênese que a atual geração desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem (KARDEC, 2005).

Na velha geração pode ser identificada em primeiro lugar a revolta contra Deus, por se negarem a reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos; a propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de ciúme; enfim, o apego a tudo o que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza (KARDEC, 2005).

No sentido oposto, a nova geração será composta de Espíritos que já caminharam antes de nós em suas trajetórias evolutivas, trazendo, em seus pensamentos e em suas ações, atitudes renovadoras para o bem, moral e intelectualmente (LEÓN, 2018).

A nova geração não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a auxiliar no movimento de regeneração da humanidade (KARDEC, 2005).

Santo Agostinho em O Evangelho Segundo o Espiritismo nos diz que mundos de regeneração são aqueles que servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes, em que a alma encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se. Para o nobre autor, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria, às sensações e desejos, mas liberto das paixões desordenadas que o escravizavam. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis (KARDEC, 1990).

Kardec nos diz que, havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso (KARDEC, 2005).

Muitos elementos desta geração nova já se encontram entre nós; como crianças, que frequentam as mesmas escolas que nossos filhos, brincam, correm, choram, como qualquer outra criança, mas o diferencial na grande maioria das vezes está na maneira como se comportam e como reagem a diferentes situações. Quando na juventude, muitos deles se destacam pelas aquisições intelectuais precoces conjugadas aos sentimentos emocionais mais elevados. É possível observá-los no cotidiano, desde que tenhamos os olhos alinhados com o coração, com a razão e com os ensinamentos de Jesus. São estes os requisitos necessários para recebê-los bem (LEÓN, 2018).

No aspecto material, as crianças que estão encarnando neste início de século XXI têm como característica a rapidez de pensamento e a incapacidade para a linearidade, o que pode ser muito útil em determinas áreas, mas em outras, que exigem mais seriedade e concentração, podem aparecer dificuldades (PATERRA, 2018).

No entanto cabe a tais crianças que estão chegando, ou que já estão entre nós, fundar a era do progresso moral, trazendo sim a inteligência e a razão geralmente precoces, mas que também devem apresentar o sentimento inato do bem e as crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior (KARDEC, 2005).

Dessa forma, o reinado do ouro, da matéria, cederá lugar a um reinado mais puro; o pensamento será dentro em pouco soberano e os Espíritos de escol, que hão vindo desde remotas eras iluminar os séculos em que viveram e servir de balizas aos séculos vindouros, encarnarão entre vós (KARDEC, 2009).

Sim, os pais do progresso do espírito humano deixaram, uns, as suas moradas radiosas; outros, grandes trabalhos, em que a felicidade se junta ao prazer de instruir-se, para retomarem o bastão de peregrinos, que apenas haviam deposto no limiar do templo da Ciência, e daqui a pouco, dos quatro cantos do globo, os sábios oficiais ouvirão, apavorados, jovens imberbes a lhes retorquir, numa linguagem profunda, aos argumentos que eles julgavam irrefutáveis (KARDEC, 2009).

 

- FRANCO, D. Sexo e obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 6.ed. Salvador: LEAL, 2006.

- KARDEC, A. A Gênese. Trad. Victor Tollental Pacheco. 22.ed. São Paulo: LAKE, 2005.

- KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. 116.ed. Araras: Instituto de Difusão Espírita, 1990.

- KARDEC, A. Revista Espírita. Ano 11, n. 3, mar. 1868, Instrução dos Espíritos – Regeneração. Trad. Salvador Gentille. 1.ed. Brasília: FEB, 2000.

- KARDEC, A. Obras Póstumas. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

- LEÓN, M. A gênese e a geração nova do século XXI: Estamos prontos para recebê-la? In: Reformador, ano 135, n. 2.272, jun. 2018, p. 372-374.

- PATERRA, M. Geração Alpha: o mundo de nossas crianças. In: Revista Internacional de Espiritismo, ano 93, n. 1, jan. 2018, p. 654-656.

- XAVIER, F. C. Há 2000 anos. Pelo Espírito Emmanuel. 29.ed. Brasília: FEB, 1996.

outubro | 2018

MATÉRIA DE CAPA

RIE – outubro/2018

A transformação do planeta é irremediável e terá contribuição decisiva da nova geração, composta por Espíritos predispostos ao bem.

Lista completa de matérias

 Manifestações e crença

 Elementos de duas gerações – CARTA AO LEITOR – Outubro/2018

 Por fé ou por ciência?

 A arte compartilha o Espiritismo através da sensibilidade

 Elementos de duas gerações

 Mediunidade e obsessão

 Uma justa apreciação de tudo e todos que nos rodeiam

 Os tempos são chegados

 Estranho e incoerente “ato de amor”

 Dentro de sua própria alma

 As curas de Jesus

 Prevenção contra o suicídio

 Energia sexual nas modalidades de relações íntimas

 A abnegação e o sacrifício dos primeiros cristãos

 A respeito do idoso

 Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus

 Eles também são importantes

 O “tropeço” dos bens institucionais

 Kardec e a prática da desobsessão

 Inimigos da Doutrina

 Enemigos de la Doctrina

 NOTÍCIAS E EVENTOS – Outubro 2018 – RIE

 Semana Espírita de Vitória da Conquista homenageia “A Gênese”

 Ensinar, aprender e amar na casa espírita

 Primeiro Encontro Internacional do Jovem Espirita

 Salvador Gentile, o tradutor da codificação espírita

 O Som da Nova Era

 Histórias são essenciais