Janeiro | 2021

Na convivência com o semelhante não pode haver espaço para mágoas, rancores, melindres ou qualquer sentimento que nos atrase

Enquanto estás a caminho

Octávio Caúmo Serrano

ocaumo@gmail.com

Será o tempo que passa ou somos nós que passamos?

 

Quando aqui chegamos, viemos trazendo uma certeza: um dia morreremos. Com muitos anos ou poucos, não importa, o final já é conhecido. Voltaremos ao mundo de onde viemos antes de nascer na Terra, que para nós é ainda um mistério. Não conseguimos descrevê-lo — se é que já existíamos antes de nos tornarmos seres humanos, como ensina o Espiritismo. Ao período nesse mundo desconhecido os espíritas denominam erraticidade, lugar onde aguardamos a programação para uma nova oportunidade de vida nos mundos de matéria densa.

Mas a pergunta realmente importante é o que fazer nesse período que vai do nascimento à morte. Ou, como preferem os espíritas, até o desencarne. Como comportar-nos e conviver com os parceiros de jornada?

Podemos ser aquele que é zeloso com sua própria vida ou o tipo que só presta atenção nos outros e para o qual ninguém tem valor. Este relaciona-se com uma dúzia de pessoas, apenas, mas vê defeitos em cada uma. Não respeita, mas quer ser respeitado; não ama, mas quer ser amado; não desculpa, mas quer ser desculpado; não dá atenção a ninguém, mas quer ser cercado de carinho e cuidados; só deprecia, mas quer ser elogiado! É extremamente exigente, cobra muito e nada dá. Transforma os amigos de seus inimigos em inimigos, sem analisar possíveis qualidades, porque os julga com incontrolável instinto de rancor. Ofende com facilidade e não percebe que o ódio que destila se volta contra ele mesmo, gerando depressão, insônia, ansiedade, fibromialgia e que tais que provocam dores generalizadas, exigindo o uso de analgésicos, ansiolíticos e antidepressivos. A cada dia, em doses maiores.

Essa pessoa, exigente quanto ao comportamento dos outros, acaba negligenciando seu autoaprimoramento porque está sempre preocupada em consertar o mundo, sem perceber que isso é impossível se não começar por ela mesma. Não desculpa, não releva faltas alheias, não dá ao outro o direito de ter as imperfeições que nela são comuns; aliás, nem percebe que as tem. Agredindo, pensa que consegue camuflar suas falhas e não percebe que é ainda pior do que aqueles que ataca.

Ouvi certa vez que a inveja é a homenagem ao valor. Ninguém atira pedras em árvores mortas ou sem frutos. Se o outro provoca tanta atenção é porque tem algum valor, mas o invejoso o macula com a intenção de fazê-lo menor. Quem estaciona na inveja vê o outro distanciar-se tanto que torna-se impossível alcançá-lo.

É preciso ter em mente que só podemos viver uma vida: a nossa! E mais, aqui e agora! (Este agora tem uma duração tão curta que já se acabou enquanto escrevíamos esta frase.)

Na convivência com o semelhante não pode haver espaço para mágoas, rancores, melindres ou qualquer sentimento que nos atrase. São pedras no caminho. Procuremos conviver com quem possa nos ensinar algo ou aprender conosco alguma coisa. O resto é tempo perdido e o tempo não é algo a ser desperdiçado.

Jesus já ensinou que deveríamos reconciliar-nos com os adversários enquanto estamos a caminho. Perdoa e segue, porque isso purifica o coração e liberta do atraso. Não devemos ser cúmplices ou estimular o erro. Mas se a culpa não é nossa, não nos diz respeito. Atrasar-nos na caminhada por atrelamento a falhas alheias não é inteligente. Quem mergulha no charco acaba se sujando.

Atitude sábia é tirar da nossa vida as pessoas negativas e embromadoras, aquelas que falam horas sem parar e do discurso não se aproveita um minuto. Vivem depreciando os outros, queixando-se de suas doenças e fracassos e não percebem que apenas colhem do próprio plantio.

O primeiro ano da terceira década do século 21 está começando. É tempo de elaborar a programação para um futuro de no mínimo vinte anos. Claro que falo dos jovens que ainda têm estrada pela frente. No meu caso, se o planejamento for para cinco anos já valeu a pena.

Lembro-me de uma história. Certo dia alguém perguntou a Galileu:

— Quantos anos tens?

— Oito ou dez — respondeu em evidente contraste com sua barba branca.

E logo explicou:

— Tenho, na verdade, os anos que me restam, porque os já vividos não os tenho mais.

É como saudar o aniversariante por mais um ano de vida; na verdade, trata-se de menos um!

A vida corre célere e quando menos nos damos conta estamos barrigudos, flácidos, enrugados, banguelas, carecas, cardíacos e trôpegos pelas lesões da coluna e do ciático. E o pior: esquecidos, caducos e ranzinzas.

O tempo de preparar a alma para viver dias melhores se chama presente. Quem perde a oportunidade não recupera. Temos de valorizar cada gesto e cada minuto vivido para que nos sirva de aprimoramento espiritual. Se deixarmos passar, a fita da vida não voltará.

Os tempos chegaram e estão se escoando. 2021 é o primeiro passo para o nosso novo projeto de crescimento. Temos de planejá-lo bem para que tenhamos um feliz Ano Novo, com sucesso nos próximos 365 dias e 6 horas! Como todos os outros, também vai passar voando... E se dormirmos, como as virgens da parábola, perderemos o trem da história!

janeiro | 2021

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RIE – janeiro/2021

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 Relação conjugal e evolução psíquica

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