Ensina-nos a orar
Marcus De Mario
marcusdemario@gmail.com
A finalidade é a elevação do pensamento, colocando-nos acima da matéria, sentindo a espiritualidade
Lucas nos traz significativa narrativa em seu Evangelho quando, no capítulo 11, versículo 1, conta que “aconteceu que, estando ele [Jesus] a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos”.
A referência feita pelo discípulo, não nomeado por Lucas, é com relação a João Batista, o precursor, aquele que abriu os caminhos para o Mestre Celeste. Tanto João Batista quanto Jesus tinham o hábito da comunhão com Deus através da oração, hábito mantido pelos cristãos e também por todas as doutrinas religiosas não cristãs.
O Espiritismo, sendo no seu aspecto religioso ou de consequências morais uma doutrina cristã, pois que tem em seus princípios os ensinos morais do Cristo, igualmente cultiva o hábito da oração ou prece entre seus adeptos, mas não de forma mística ou exaltada, e sim com simplicidade, humildade e sentimento.
Vejamos, pois, como o Espiritismo entende a oração.
Finalidade da oração
Devemos utilizar a oração com a finalidade de elevar nosso pensamento a Deus, nosso Pai e Criador, numa comunhão sincera entre o filho e o pai, assim colocando-nos acima da matéria, sentindo a espiritualidade no momento em que endereçamos o pensamento a Ele, que vibra no amor e quer que alcancemos a perfeição através do amor. Essa é a grandiosa e profunda finalidade da oração na visão espírita.
Da oração
Sobre a oração propriamente dita, o Espiritismo faz quatro recomendações para que ela seja eficaz:
- A oração é sempre agradável a Deus quando feita pelo coração, ou seja, quando feita com sentimento.
- A intenção é tudo para Deus.
- A oração deve ser feita com fé, fervor e sinceridade.
- Deve ser, quando o caso, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.
Assim, sentimento e pensamento são tudo o que importa. O local, a postura, as palavras utilizadas não têm importância para Deus. Já a intenção, a fé, a sinceridade é que vão mostrar se nossa oração realmente tem valor e se pode ser atendida e como esse atendimento poderá ser feito. Nem sempre recebemos o que queremos, mas com certeza sempre receberemos o que precisamos.
Caráter geral da oração
Na questão 659 de O Livro dos Espíritos, respondendo a Kardec, os Espíritos superiores informam que através da oração, nesse ato de fé e humildade, podemos realizar três coisas nesse contato espiritual com Deus: louvar, pedir e agradecer.
Louvar é dirigir elogios a outrem, é aprovar, exaltar, bendizer, com o esquecimento de si mesmo, em ato de verdadeira humildade. Louvar a Deus é agradecer-Lhe pela vida, pela Sua justiça, pela Sua misericórdia, pela Sua perfeição, pelo Seu amor.
Pedir é solicitar uma concessão, uma ajuda, um auxílio. Os pedidos que podemos fazer a Deus são de duas ordens: materiais e espirituais. Devemos tomar cuidado com os pedidos de ordem material, pois se, em princípio, tudo podemos pedir, nem tudo convém solicitar, pois precisamos aprender a desapegar-nos dos bens materiais. Os pedidos de ordem espiritual devem concentrar-se, preferencialmente, no auxílio à nossa fé, força de vontade e resignação.
Agradecer é demonstrar gratidão pelas bênçãos da vida, pelas oportunidades de aprendizados valiosos para nosso progresso intelectual e moral, pelo ensejo de, através do amor e do bem, repararmos faltas cometidas em outras existências.
Condições da oração
No capítulo 27, item 22, de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec apresenta as condições essenciais da verdadeira oração, aquela que, de fato, chega a Deus. São elas:
- Ao fazer a oração não se colocar em evidência, mantendo uma postura humilde.
- Utilizar poucas palavras, mas com sentimento, pois isso vale muito mais do que palavras escolhidas ou longas ladainhas.
- Se tiver alguma mágoa ou ressentimento, antes de orar a Deus, procurar os inimigos para dar ou pedir perdão, pois o que adianta elevar o pensamento ao Criador se estamos com o coração em brasa?
- Ser humilde, nada pedindo além de fé e auxílio para melhor enfrentar as questões existenciais, além de bênçãos sobre todos os nossos irmãos e irmãs em humanidade.
- Utilizar a oração para examinar os próprios defeitos antes que os defeitos dos outros, pois a maior força de transformação é o exemplo que podemos dar de nossa transformação moral.
É assim, seguindo essas orientações, que nossas orações serão agradáveis a Deus e poderemos receber o auxílio através dos bons Espíritos, que cumprem conosco a missão de nos amparar, orientar e fortalecer, em nome do Pai Celestial.
Através da oração nos colocamos em contato, através do pensamento, com o ser a quem nos dirigimos. Isso é possível porque o pensamento — que é energia impulsionada pela nossa força de vontade, pela nossa fé — é transmitido através do fluido cósmico universal, podendo atingir culminâncias espirituais. Toda oração é registrada no mundo espiritual e sempre atendida, de acordo com os parâmetros da lei divina.
Para nossa reflexão, encerramos este pequeno estudo sobre a oração com as palavras do espírito V. Monod, em mensagem publicada por Allan Kardec no item 22 do capítulo 27 de O Evangelho segundo o Espiritismo, texto belíssimo que a todos recomendamos:
“A prece pode ser de todos os instantes, sem interromper os vossos afazeres; e até, pelo contrário, assim feita, ela os santifica. E não duvideis de que um só desses pensamentos, partindo do coração, é mais ouvido por vosso Pai celestial do que as longas preces repetidas por hábito, quase sempre sem um motivo imediato, apenas porque a hora convencional maquinalmente vos chama.”
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo: FEESP, 2012.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 1985.
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