Erasto: o valoroso guerreiro espiritual de Kardec
Américo Domingos Nunes Filho
amecgs@gmail.com
O destemido Espírito se constituiu em formoso arauto da Codificação
Os profitentes espíritas conhecem muito bem o Espírito Erasto e o trabalho fecundo que desenvolveu como um dos guias de Kardec, todos capitaneados pelo Espírito de Verdade, a quem ele citou, em algumas oportunidades, em suas epístolas e mensagens: “Não podeis crer quanto me sinto orgulhoso de vos distribuir, a todos e a cada um, os elogios e o encorajamento que O Espírito de Verdade, nosso bem-amado mestre, me ordenou conferir às vossas piedosas coortes.”[1] Aqui, notamos o respeito e a admiração que Erasto presta à Entidade que presidiu a obra da Codificação do Espiritismo, saudando-o como “nosso bem-amado mestre”.
Na segunda comunicação, o valoroso seareiro enuncia o seguinte: “Eu tive que vos fazer ouvir uma voz tanto mais severa quanto mais espera de vós O Espírito de Verdade, mestre de todos nós.”[2] Agora, Erasto, com muita propriedade, enfatiza que o sumo dirigente da novel doutrina é “o mestre de todos nós”, fazendo-nos entender ser essa sublime Entidade, incontestavelmente, “o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo”: Jesus.[3]
O magnânimo Allan Kardec proclama que “para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava”.[4] Realmente, “o mestre de todos nós” é uma declaração que somente pode ser atribuída ao Cristo e chancela os profitentes espíritas com a identidade cristã.
Além de nos brindar com a elevada revelação de Jesus como O Espírito de Verdade, que é o responsável por trazer à humanidade “O Consolador Prometido”,[5] que “vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar o que vos disse”,[6] Erasto se constituiu em formoso arauto da Codificação: eram “chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”.[7]
O destemido Espírito destacou-se no trabalho que foi outorgado a desempenhar, sempre ao lado de Kardec, ajudando-o, em todos os momentos, principalmente, no combate aos inimigos contumazes da Doutrina e alertando que estava em andamento uma atividade intensamente perniciosa, tentando abafar o clarão luminosos da Terceira Revelação Divina à Humanidade. Assim, em uma das oportunidades, enunciou aos espíritas da cidade de Bordéus: “Tereis que lutar não só contra os orgulhosos, os egoístas, os materialistas e todos esses infelizes que estão imbuídos do espírito do século, mas ainda, e sobretudo, contra a turba de Espíritos enganadores que, encontrando, em vosso meio, uma rara reunião de médiuns, pois a tal respeito sois os mais aquinhoados, em breve virão assaltar-vos, uns com dissertações sabiamente combinadas, nas quais, graças a tiradas piedosas, insinuarão a heresia ou algum princípio dissolvente; outros com comunicações abertamente hostis aos ensinos dados pelos verdadeiros missionários do Espírito de Verdade.”[8]
Erasto, como proclamador da Revelação Espírita, alerta a todos os profitentes espíritas, acreditamos, prioritariamente, aos dirigentes de grupos e aos editores de jornais e revistas, para poderem discernir as autênticas comunicações, dizendo: “Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”[9]
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, mostrando em que consiste a missão dos espíritas, de imediato, previne, com a seguinte assertiva: “Mas atenção! Entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.”[10]
Digno de realce, o parecer de Kardec em relação a Erasto, revelando ser ele um Espírito superior, que se despontou mediante mensagens de ordem elevadíssima.[11] O papel dele foi muito importante na Codificação Espírita, porquanto oferecia as elucidações concisas, pois Kardec necessitava de Espíritos bem abalizados para fornecer as devidas respostas de questões de grande magnitude.
Quando se inicia o estudo, em O Livro dos Médiuns, do “fenômeno dos transportes e das manifestações físicas”, o Codificador profere que o tema foi resumido, de maneira notável, na dissertação de um Espírito, cujas comunicações todas trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica. Continuando o seu pronunciamento, o Mestre de Lião afirma que muitas informações desse ser poderão ser deparadas pelo leitor no curso da obra. Então, Kardec relata que a Entidade se dá a conhecer pelo nome de Erasto, discípulo de Paulo, e como protetor do médium que lhe serviu de instrumento.[12] Outras referências, relacionando esse Espírito superior como colaborador pessoal do “Apóstolo dos Gentios”, são encontradas, no fim do comentário de Erasto a respeito de Santo Agostinho, assinando a mensagem como discípulo de São Paulo (Paris, 1863)[13] e, igualmente, a respeito dos escolhos da mediunidade, ele aparece como um afortunado mestre, assinando a laboriosa comunicação, referendando mais uma vez ser discípulo de Paulo.[14]
Que notícia sublime! Erasto, encarnado, acompanhou o “Apóstolo de Gentios”, na magnânima missão de implantação do Cristianismo primitivo e, a seguir, com o mesmo brilhantismo, tornou-se um baluarte na edificação da Doutrina Espírita, assessorando Kardec e outorgado com a grandiosa missão de, como autêntico líder espiritual, ser porta-voz de O Espírito de Verdade.
Kardec, quando recepcionado pelos profitentes espíritas, em Lião, leu aos presentes a Epístola de Erasto, na qual constava a revelação de ter sido o autor um fiel seguidor de Paulo, como está a seguir: “Ah! Esses ágapes despertam em meu coração a lembrança daqueles em que todos nos reuníamos, há mil e oitocentos anos, quando combatíamos os costumes dissolutos do paganismo romano e quando já comentávamos os ensinos e as parábolas do Filho do Homem.”[15]
Digno de nota afirmar que era hábito entre os judeus reingressos no Cristianismo se reunirem, participando de uma refeição comum, denominada de ágape. Nessa oportunidade, mais uma vez, Erasto revelou sua vivência transata com o “Apóstolo dos Gentios”, dizendo: “Hoje, caros discípulos, aquele que foi sagrado por São Paulo vem dizer-vos que vossa missão é sempre a mesma, porque o paganismo romano, sempre de pé, sempre vivaz, ainda enlaça o mundo, como a hera enlaça o carvalho.”[16]
Paulo, em sua terceira excursão pelo Oriente, estava acompanhado de Erasto: “E, enviando à Macedônia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia.”[17] Há menção do Apóstolo dos Gentios de que “Erasto ficou em Corinto”.[18] Em verdade, Erasto e Timóteo eram importantes pregoeiros do grande missionário Paulo, acompanhando-o em várias jornadas, em importantes momentos. Para gaudio de todos os espiritistas, em O Livro dos Médiuns esses dois baluartes do Cristianismo primitivo novamente aparecem, desencarnados, ligados em longa mensagem assinada por ambos, a respeito do papel do médium nas comunicações.[19]
Realmente é digno de louvor esse ser que se apresentou, com denodo, encarnado, no Cristianismo nascente. Sua missão foi espinhosa, desempenhando um trabalho memorável, apesar de defrontar-se com um meio excessivamente agressivo e, também, livre da matéria, na ação de mestre espiritual, auxiliando na instituição do Espiritismo no mundo.
Devido à sua importância na edificação do Cristianismo nascente, o valoroso Erasto foi canonizado pela Igreja e é reverenciado no dia 26 de julho.
Que Deus ilumine sempre e cada vez mais os seus passos diante do Infinito!
- KARDEC, Allan. Revista Espírita. Outubro de 1861. Epístola aos lioneses.
- Idem. Novembro de 1861. Epístola aos espíritas de Bordéus.
- Idem. O Livro dos Espíritos. q. 625.
- Ibidem.
- João, XIV:15–17.
- João, XIV:25–26.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Prefácio.
- Idem. Revista Espírita. Novembro de 1861. Epístola aos espíritas de Bordéus.
- Idem. O Livro dos Médiuns. 2ª Parte, Cap. XX, n. 230.
- Ibidem. n. 4;
- Ibidem. Cap. XIX, item 225.
- Ibidem. Cap. V, n. 98.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. l, item 11.
- Idem. O Livro dos Médiuns. 2ª Parte, Cap. XXXI, n. XXVII.
- Idem. Revista Espírita. Outubro de 1861. Epístola aos espíritas de Lião.
- Ibidem.
- Lucas, Atos, XIX:22.
- Paulo, 2ª Epístola a Timóteo, IV:20.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2ª Parte, Cap. XIX, item 225.
O autor é presidente da Ass. Médico-Espírita do Estado do RJ (AME-RIO), escritor de treze livros, sendo três editados pela Editora O Clarim, de Matão, SP: “O Consolador entre nós”, “Razão e dogma” e “Atualidade espírita”, em parceria.
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