Agosto | 2019

Esperança é saúde

José Luiz Condotta |

jlcondotta@gmail.com

Ser esperançoso com a vida envolve a aquisição de outras virtudes, como a paciência, a perseverança, a confiança e a fé.

 

Esperança é definida no dicionário como expectativa, ato de esperar aquilo o que se deseja, ou ainda fé em conseguir algo desejado. Trata-se de uma emoção, uma crença emocional que traz consigo a possibilidade de alcançar um resultado positivo relacionado com as mais diversas circunstâncias da vida pessoal, mesmo que tudo indique o contrário.

De acordo com a Bíblia, esperança, fé e caridade (amor) são as três virtudes teologais. Nota-se que, no contexto religioso, fé e esperança são virtudes distintas. Podemos clarear esta afirmação levando em conta que a esperança exteriorizada por alguém sempre se relaciona com alguma coisa de cunho pessoal, geralmente envolvendo a matéria; a fé configura-se como um sentimento de crença total em algo, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a sua veracidade. Como exemplos: ter esperança de curar-se de uma doença, de ficar rico, de galgar um posto superior no trabalho; ter fé na existência de Deus e nos seus valores absolutos, ter fé nos ensinamentos de Jesus. Porém a fé e a esperança se confundem ao admitirem em suas concepções o sentimento da confiança, da crença e da credibilidade. Portanto, relacionam-se entre si e podemos verificar isto em milhares de passagens da Bíblia como: “A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hebreus 11:1).

Na Doutrina Espírita encontramos inúmeras referências que nos fazem entender que entre a fé e a esperança existem diferenças, como: “Nem todos conseguem, por enquanto, o voo sublime da fé, mas a força da esperança é tesouro comum”… “Nem todos podem oferecer a lição espiritual, mas ninguém na Terra está impedido de espalhar os benefícios da esperança”[1].

A esperança muitas vezes é confundida com o otimismo, mas esses sentimentos também são diferentes. A esperança é um sentimento complexo e profundo que anseia alcançar resultados positivos naquilo que se deseja. Otimismo é encarar as coisas pelo lado positivo, achar que tudo vai dar certo, que tudo terá um desfecho favorável, mas sabemos que na prática não é bem assim que ocorre. Precisamos de cautela e não exagerar no otimismo sem a razão, pois essa atitude pode acarretar sérias frustrações e perturbações. Em tudo deve existir o equilíbrio. Esperança é ter uma meta e saber que mesmo ocorrendo dificuldades é possível encontrar uma solução para a sua concretização. Envolve outras virtudes como a paciência, a perseverança, a confiança e a fé. O otimismo é limitado no tempo e a esperança é eterna, é divina. Podemos até dizer que o otimismo é uma parte da esperança que nela pode transformar-se, enquanto o pessimismo pode tornar-se desesperança.

Relacionando a esperança com a saúde, informamos que desde a década de 1950 pesquisadores, médicos e psicólogos têm demonstrado grande interesse no estudo da esperança e acreditam no imenso potencial de cura que esse sentimento proporciona.

O psicólogo Snyder[2], na década de 1990, intensificou as pesquisas sobre a esperança. Ele esclarece que a esperança é uma ideia motivacional que possibilita ao indivíduo vislumbrar resultados positivos nos diversos contextos da vida, elaborar metas, desenvolver estratégias de adaptação e motivar-se para conseguir alcançar seus objetivos. O psicólogo elaborou uma escala da esperança, em que os indivíduos com “alta esperança” (com muita esperança) traçam objetivos com caminhos alternativos caso encontrem obstáculos para chegarem ao objetivo almejado. São portadores de mais autoestima, cuidam melhor da saúde física, são estimulados ao sentimento de fraternidade e procuram amar sempre mais. Nos idosos mais esperançosos ele observou que se mostravam agradáveis, simpáticos, mais alegres e enfrentavam melhor as suas limitações.

Na virada do século, o psicólogo Anthony Scioli[3], pesquisador do Keene State College de New Hampshire, Estados Unidos, e estudioso da esperança, fez várias observações importantes. Afirmou que a esperança é uma habilidade que pode ser adquirida. Ela tem suas raízes no eu mais profundo e reconhece a essência espiritual que existe por trás dela. Enxerga na esperança uma forte dimensão espiritual que está associada a outras virtudes como: gratidão, humildade, paciência, perseverança, fé e caridade. A esperança reflete a conexão entre mente e corpo e, assim, interfere no sistema imunológico e na saúde em geral.

A Doutrina Espírita só tem que concordar com tais pesquisas, pois é evidente a consideração da parte espiritual do homem, considerando-o como um ser global. A Doutrina também considera a esperança como um fator fundamental à saúde global e à evolução espiritual. Quando Scioli se refere à esperança como um fator que reflete a conexão mente e corpo e interfere na saúde em geral, entendemos, pelos conhecimentos espíritas, que a mente – atributo do espírito – comanda toda a fisiologia do organismo físico. Desta forma, não só a esperança, mas todas as virtudes e os bons sentimentos quando bem aplicados proporcionam estados felizes da alma e, consequentemente, mais saúde global.

Como a esperança é um sentimento individual, cada um a tem do seu modo. Não existe nenhuma receita para se adquiri-la, contudo sabe-se que todos são portadores em potencial dessa virtude, basta cultivá-la. Podemos, no entanto, oferecer algumas regras para este desenvolvimento. Primeiramente, de acordo com a razão, selecione os seus desejos e as suas prioridades. Estabeleça os objetivos para eles. Crie mentalmente os caminhos para cada objetivo, lembrando sempre das dificuldades e obstáculos que podem ocorrer. Se ocorrerem, procure novos atalhos. Não se culpe e veja isso como desafio. Crie imagens mentais positivas e tenha consciência da própria força e que a luta é força propulsora para se chegar ao alvo. Caso encontre muita adversidade no caminho, alivie-se redefinindo o objetivo. Tudo isso fortalece o modo de pensar, revigora as forças, melhora a autoestima, sente prazer em lutar por aquilo que deseja, torna-se mais otimista, mais esperançoso, mais paciente, mais amoroso, e porque não, com mais fé.

Aqueles que possuem esperança têm maior probabilidade de se darem bem na vida, convivem melhor com os semelhantes e se adaptam com mais facilidade a qualquer situação.

Segundo as conclusões da pesquisa referida anteriormente, a esperança, no nível fisiológico, pode ajudar a equilibrar o sistema nervoso, os hormônios, o sistema imunológico, assegurar níveis apropriados de neurotransmissores, enfim, possibilita viver com mais saúde física. Acrescentamos: assegura o equilíbrio energético entre corpo e espírito, promovendo bons pensamentos e sentimentos, trazendo a alegria e a paz.

A esperança é um dom do espírito. Juntamente com a fé, agem como dois calmantes que a natureza divina concedeu aos seus filhos da Terra.

 

  1. XAVIER, F. C.. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 1ª ed., Brasília: FEB, 2013, p. 163.
  2. SNYDER, C. S. The Psychology of hope (Free press – sem tradução para o português).
  3. SCIOLI, A.; BILLER, H. Hope in the Age of Anxiety. USA: Oxford University Press,2009, sem tradução para o português.

fevereiro | 2016

MATÉRIA DE CAPA

RIE – fevereiro/2016

A aquisição de esperança impulsiona a conquista de outras virtudes, como a paciência, portanto, é fundamental para o equilíbrio espiritual.

Lista completa de matérias

 Momento de crise moral

 Esperança é saúde – CARTA AO LEITOR – Fevereiro 2016

 Aquele passo maior que a perna

 A Doutrina Espírita é aberta a avanços e transformações sociais

 O que é a microcefalia?

 Epístola aos Gálatas: a abrangência das “marcas do Cristo”

 Cruzada contra o Espiritismo

 O terror, a lei e o Espiritismo

 Fanatismo religioso: quando a fé causa mortes

 Um grito de alerta aos homens de bom coração

 Parábola do joio

 A Lei de Amor

 Pátria Educadora

 Identificação da moral e liberdade de consciência

 Esperança é saúde

 A importância da Terapia Comunitária com idosos

 A revanche

 Ação mental de encarnado sobre encarnado

 O aspecto filosófico do bem e do mal

 O conceito evangélico de escândalo

 Nossa vida não é nossa

 Nuestra vida no es nuestra

 NOTÍCIAS E EVENTOS – FEVEREIRO 2016 – RIE

 III Fórum CEECAL

 Matão realiza com sucesso a 34ª Feira do Livro Espírita

 Segurança na casa espírita

 Os vendilhões do templo