Agosto | 2019

Espíritas professos

Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante |

walkiria.wlac@yahoo.com.br

Não basta dizer-se espírita, é preciso sê-lo.

 

“Essa qualificação [espíritas professos], repousando sobre uma base precisa e definida, não dá lugar a nenhum equívoco, permite aos adeptos que professem os mesmos princípios e caminhem no mesmo caminho, se reconhecerem sem outra formalidade senão a declaração de sua qualidade, e, havendo necessidade, a produção de seu título. Uma reunião composta de espíritas professos, será necessariamente tão homogenia quanto o comporta a Humanidade.”[1]

Parafraseando O Evangelho Segundo o Espiritismo: Não basta dizer-se espírita, é preciso sê-lo. O nobre Codificador trazia esta preocupação desde o princípio, pois sabia que entre os adeptos do Espiritismo se encontrariam também aqueles que desejariam conspurcar seus princípios e aqueles que, mesmo adeptos da informação espírita, não estariam dispostos à compreensão da mensagem.

Um dia, o ser humano já cansado de trilhar por caminhos já conhecidos, mas que não levam a lugar nenhum, aporta nas fileiras evangélicas do movimento espírita, tendo a porta consciencial batida pelo desejo de um porvir melhor e por saber que o que está vivenciando não corresponde mais às expectativas. Assim, resolve por aprofundar o interesse nesse ou naquele aspecto do movimento.

Com o passar do tempo verifica o sorriso de prazer não material no semblante de quantos estão trabalhando como divulgadores do movimento, sem importar o que fazem. Querem também fazer parte. Querem de alguma forma ter esse prazer e esse sorriso no rosto.

Mas a vida apresenta-se com várias nuanças que cobram um proceder adequado. Família, amigos e sociedade pedem e são aquiescidos em seus desejos, nem sempre de acordo com a mensagem espírita. Por isso, o ser humano embaraça os passos e acaba por prejudicar o próprio avanço evolutivo. Mudando de sintonia, de forma quase imperceptível a princípio, passa a fazer um movimento inverso, sem empregar o esforço necessário para subir e por não conseguir avançar, tenta trazer para baixo os que estão insistindo na boa caminhada.

A reflexão que fazemos não é pela ignorância completa das solicitações, mas para analisarmos o melhor e o mais correto para nós. A evolução é individual e indelegável. As escolhas são pessoais. A relação de afeto não obrigatoriamente nos convida ao melhor, mas àquilo a que estamos sintonizando naquele momento, no que emanamos e absorvemos do que nos circunda.

A medida da nossa crença em algo não é o quanto nos dizemos adeptos, mas como nos comportamos perante esse algo. A titulação de “espíritas professos” nos traz um tratado, mesmo que psicológico, que estamos comprometidos com o bom encaminhamento da Doutrina Espírita. Que o nosso comportamento não irá desabonar aquilo que estamos professando. Que existirá uma homogeneidade de princípios que serão a base que nos conduzirá a todos que estamos vinculados com o mesmo intuito.

Temos em O Livro dos Médiuns um capítulo inteiro dedicado em incutir nos novos adeptos da Doutrina Espírita o desejo pelo estudo e pela compreensão da boa prática espírita. O livro traz um encadeamento lógico, pois primeiro prova a Existência dos Espíritos (capítulo I), depois fala-nos do Maravilhoso e do Sobrenatural (capítulo II) até chegar ao referido item que destrincha os mais variados tipos de criaturas. Começando pelos materialistas, passando pelos mais variados tipos de incrédulos e espíritas.

Gostaríamos de destacar o trecho que fala dos espíritas exaltados (item 28): “O exagero é nocivo em tudo; em Espiritismo, dá uma confiança muito cega e, frequentemente, pueril nas coisas do mundo invisível, e leva a aceitar, muito facilmente e sem controle, o que a reflexão e o exame demonstrariam a absurdidade ou a impossibilidade; mas o entusiasmo não reflete, deslumbra”.

Ser espírita equivale à participação numa maratona, não numa corrida de “tiro curto”. Precisamos trabalhar o fôlego moral para resistirmos às intempéries: o competidor desleal, companheiros de jornada espírita que aqui e acolá acabam por tentar entravar nossos passos; a chuva, as lágrimas que nos lavam a alma e nos coroam os passos, quando compreendemos bem a lição; a pedra no tênis, as dificuldades que nos acompanham por vezes a encarnação inteira e com as quais aprendemos bastante; para que possamos um dia ultrapassar a linha de chegada, momento em que desencarnamos e olhamos para trás, vislumbramos tudo o que fizemos e ganhamos novo fôlego para a próxima etapa.

Reafirmamos que não é um título nem tão pouco a assinatura de aceitação de um estatuto que faz alguém espírita ou não. Mas a partir do momento que nos dizemos espíritas, sendo este o pensamento que gostaríamos de disseminar, honremos esta titulação. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”[2].

Ser espírita não é fazer parte de um clube (mais um), mas procurar absorver ao máximo as informações trazidas pelos Guias da Humanidade e fazer uma mudança, uma verdadeira revolução no próprio comportamento. Reclamamos, em geral, que o mundo não está como gostaríamos que estivesse, mas somos mundos individuais dentro do grande mundo, chamado Terra. Cada um modificando-se conseguirá contribuir de forma positiva para a transformação do Planeta Terra.

 

  1. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Segunda Parte, VIII – Do Programa das Crenças.
  2. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XVII, item 4.

 

março | 2016

MATÉRIA DE CAPA

RIE – março/2016

Conhece-se o espírita pela sua forma legítima de agir em acordo com os princípios que defende. Não basta dizer-se, é…

Lista completa de matérias

 Instinto e inteligência

 Espíritas professos – CARTA AO LEITOR – Março 2016

 Cura e religiosidade

 Kardec é modelo de simplicidade e profundidade

 Reuniões mediúnicas sérias

 A Guerra de Troia e o movimento espírita

 Infidelidade: é do corpo ou é da alma?

 Efésios e os “filhos da luz”

 Cultivando a ineficiência

 A verdadeira videira

 Aberrações físicas e alterações cromossômicas

 Sonambulismo magnético

 O Espiritismo e a vida em Marte

 Zika vírus e o aborto

 Não construa um muro para o seu coração

 Espíritas professos

 Jesus, a Lei e nós

 A mediunidade de Pedro, Simão Barjonas

 O tempo e as eras

 El tiempo y las eras

 NOTÍCIAS E EVENTOS – Março 2016 – RIE

 34ª CONRESPI fala sobre o Homem de Bem

 Web Rádio Fraternidade completa 7 anos e promove o 1º CEU

 Educação com o Cristo foi tema de congresso em Goiás

 O luto infantil

 Eloí, Eloí, Lamá Sabactâni?