Março | 2022

Somos Espíritos diferentes, embora pertencentes à mesma árvore familiar

Família: conversar é preciso

Sidney Fernandes

1948@uol.com.br

A comunicação facilita a superação de diferenças que trazemos no inconsciente, de vidas anteriores, de mágoas, felizmente amenizadas pelo esquecimento

 

Antigos laços de consanguinidade podem viabilizar a reunião de afeiçoados em moradias do plano espiritual. Familiares geralmente são Espíritos com quem tivemos afeições anteriores.

Assim como os Espíritos se agrupam em famílias, de acordo com seus pendores, a família terrestre, os povos e as cidades se formam pela reunião de criaturas simpáticas que se assemelham, constituindo o meio que lhes é próprio.

Afinidade, laços de simpatia e objetivos que almejam formam grupos e famílias. Os bons, pelo desejo de fazerem o bem, os maus, pelo desejo de fazerem o mal, ambos pela necessidade de se aproximarem dos que se lhes assemelham.

A comunicação entre o casal, irmãos, filhos e com amigos dos filhos é fundamental para que haja relação familiar saudável. Ela facilita a superação de diferenças que trazemos no inconsciente, de vidas anteriores, de mágoas, felizmente amenizadas pelo esquecimento, misericordiosa bênção de recomeço sem culpas.

O que é comunicação indireta? Ela acontece quando há uma entidade intermediária entre quem recebe e quem envia a mensagem. As causas da comunicação indireta não se restringem aos vivos. Desencarnados se imiscuem nas vidas dos familiares. No livro Sexo e Destino, de André Luiz, temos vários exemplos dessas interferências, que trouxeram muitos desajustes e desentendimentos entre familiares. A influência do intermediário pode chegar, infelizmente, a crimes e vícios.

 

Barreiras da comunicação

A comunicação entre nossos familiares e nós é de real importância, sendo fundamental para criar-se um ambiente de paz e felicidade no lar. Precisamos ser cuidadosos com o que falamos e como falamos com nossos pais, filhos, irmãos e irmãs, de modo a evitar mágoa, dor e frustração, tanto para eles como para nós.

Devemos atentar não somente para o conteúdo da mensagem que passamos, seja ela falada ou através de atitudes. A forma é fundamental. Muitas vezes, não é o que transmitimos que agride mas, sim, como transmitimos.

Como evitar que professores se tornem intermediários na comunicação com nossos filhos? Com a comunicação no lar e o acompanhamento. Crianças que são acompanhadas de perto pela família têm melhor rendimento em sala de aula ou em aulas remotas. Além disso, a presença dos pais no âmbito escolar — de forma presencial ou virtual — e o cuidado deles com a educação dos filhos no lar não se refletem apenas no boletim, mas também no comportamento das crianças dentro e fora da sala de aula.

Somos Espíritos diferentes, embora pertencentes à mesma árvore familiar. A comunicação deve levar em consideração o emissor e o receptor. Temos certeza de que nossas diferenças não estão impedindo uma comunicação adequada? Sabendo da eventual existência de “ruídos”, devemos envidar esforços para minimizar essas questões e favorecer uma comunicação mais saudável entre as pessoas à nossa volta, principalmente em se tratando de família.

Somos Espíritos diferentes, embora pertencentes à mesma árvore familiar

 

 

Sentimentos precisam ser administrados

Raiva, insatisfação, decepção, alegria, tristeza, entre outros sentimentos, oriundos da presente existência ou de vidas anteriores, precisam ser superados ou administrados. “Ruídos” das comunicações podem originar-se do passado, de questões não resolvidas em vidas anteriores. A vida atual, de convivência no mesmo lar, representa, muitas vezes, grande desafio aos antigos familiares, que se reencontram para resolver suas diferenças e ensaiar a fraternidade.

É preciso considerar, ainda, a possibilidade de interferência de antigos desafetos espirituais, que podem dificultar a comunicação no núcleo familiar de agora e do pretérito. Quando baixamos o nível do nosso relacionamento, por palavras, gestos e atitudes, atraímos Espíritos infelizes, doentes ou até mesmo obsessores, que vêm “minar” a vida em família.

Comunicação malfeita dispara sentimentos ruins, que, por sua vez, atraem Espíritos inferiores. Estes podem “envenenar” de vez o relacionamento. Trata-se de autêntico exemplo de comunicação indireta provocada por desencarnados, com sérios comprometimentos para o grupo familiar.

A pandemia desnudou sérias falhas na comunicação. Muitas famílias foram obrigadas a rever suas relações, sentimentos e espaços no ambiente compartilhado de suas casas. A proximidade intensa pode ter provocado a manifestação de emoções que anteriormente seriam evitadas. Nessa situação extraordinária, agiganta-se em importância o aglutinamento da família em torno de uma religião. O evangelho no lar é o fórum ideal para que os familiares encontrem o denominador comum, a fim de que as diferenças sejam minimizadas e respeitadas.

 

Felicidade conjugal

O Espiritismo é a doutrina da consciência livre e da responsabilidade. Cada um de nós tem liberdade de tomar as decisões que achar melhor, arcando, naturalmente, com as consequências. A sabedoria divina — ensina Emmanuel — não institui o princípio da violência, dispondo cada Espírito da liberdade de interromper, modificar, discutir ou adiar compromissos assumidos perante a lei humana.

Ser feliz no casamento depende das nossas escolhas. Há pessoas que escolhem cair na rotina e preferem esquecer-se de demonstrar afetividade. Essa escolha determina a morte da relação conjugal.

Os que não se separam é porque não têm coragem, ou levam às últimas consequências eventuais compromissos espirituais, ou se acomodam, ou ainda têm motivos mais relevantes — filhos, por exemplo — para manter uma união infeliz.

Sugiro, caros amigos, que não deixem as coisas chegarem a esse ponto. Mesmo que você sinta que não está ao lado daquela que poderia considerar sua alma gêmea, faça como Benjamin Disraeli, político conservador britânico. Durante trinta anos, Mary Anne viveu para Disraeli, e ele a defendia com uma lealdade feroz. Um casal motivado pelo amor e pela paixão, que se uniu e viveu uma vida maravilhosa? Apenas uma parte da verdade.

— Eu posso cometer muitas loucuras na vida, mas não pretendo nunca me casar por amor — dizia Disraeli.

Ficou solteiro até os trinta e cinco anos, quando propôs casamento a uma viúva rica, Mary Anne, quinze anos mais velha do que ele. Ela sabia que Disraeli não a amava e que a desposaria pelo seu dinheiro. No entanto, ficaram casados durante 30 anos e...

— Nunca me senti fatigado dela — dizia Disraeli. — Ela soube tornar-se a coisa mais importante de minha vida.

E Mary Anne costumava dizer a suas amigas:

— Graças à sua bondade, minha vida tem sido uma longa cena de felicidade.

O lar era o lugar onde ele passava as horas mais felizes da sua vida. A idosa esposa era a sua animadora, a sua confidente, a sua conselheira. Disraeli passara a sair apressado da Câmara dos Comuns para voltar à casa, a fim de contar-lhe as novidades do dia. Ela tornou-se a sua heroína.

— Você sabe que eu apenas me casei com você pelo seu dinheiro e nada mais? — falava Disraeli, em tom de pilhéria.

— Sim, mas se você tivesse de fazer isso outra vez, casar-se-ia comigo por amor, não é?

E ele confessava que sim.

***

Benjamin e Mary Anne não eram perfeitos. Mas ambos se fizeram perfeitos um para o outro. Descobriram suas mútuas qualidades e se amaram por toda a vida. Provaram ao mundo que amar, acima de tudo, é compreender e doar-se, incondicionalmente. Eles são o exemplo de que duas criaturas, quando querem, podem encontrar motivos recíprocos para uma boa convivência. E daí, sim, podem despertar o autêntico amor.

Mas mesmo que a união não seja com a imaginada alma gêmea, o casamento pode harmonizar-se com o exercício da boa vontade, da generosidade, da compreensão e da cumplicidade. Esses ingredientes, indispensáveis ao florescimento do verdadeiro amor, fazem parte não apenas do amor conjugal mas, sim, da proposta da família universal trazida por Jesus.

 

Vou dar uma de Chico

Minha esposa se levantara muito cedo. Cuidara do café da manhã, da casa, do almoço, dos filhos e precisara sair, às pressas, para dar assistência à mãe viúva. Com muito bom humor, ainda teve tempo de gritar:

— Tenha um bom-dia, querido. Quando voltar cuidarei da cozinha...

Não pude deixar de admirar, com respeito, aquela energia e aquele dinamismo. Ao preparar-me para ir trabalhar, vi que estava deixando para trás uma montanha de panelas e pratos sujos na pia da cozinha, que serviriam de boas-vindas à prestimosa dona da casa em seu retorno. O dia estava tranquilo e eu estava com tempo.

Dei uma boa olhada naquela bagunça, respirei fundo, criei coragem e disse para mim mesmo:

— Vou dar uma de Chico!

Arregacei as mangas e num instante a cozinha estava limpa. A caminho do meu escritório, ia pensando na bela surpresa que minha esposa iria ter ao deparar-se com a casa limpa.

Não tive o privilégio de conviver com Chico Xavier, mas as várias biografias e histórias publicadas a seu respeito nos dão conta de um personagem que enfrentou uma vida repleta de lutas e dificuldades. Nem por isso deixaria a indolência aproximar-se, aproveitando todos os momentos possíveis para ser útil.

Certa vez, chegando em casa de madrugada, depois de uma jornada intensa de trabalhos com os Espíritos, Chico deparou-se com uma cozinha repleta de pratos sujos e uma generalizada bagunça provocada pelos cães da casa. Pensou:

— Imagino o desânimo que minha irmã vai ter ao levantar-se de manhã, ao deparar-se com toda essa sujeira.

Não teve dúvidas. Não obstante o cansaço, deixou o ambiente brilhando.

***

Trouxemos vários exemplos, experiências e aconselhamentos psicológicos e sociais para nossa reflexão. Mais do que tudo, porém, precisaremos ter consciência de que a família é o ambiente que Deus nos concedeu generosamente, tanto para que exercitemos a empatia e a solidariedade, como para que possamos superar diferenças do passado.

Valorizemos o ambiente que Deus nos proporcionou nesta existência, acima de tudo treinando fraternidade e benevolência.

Sabe-se lá se na próxima vida teremos as mesmas facilidades.

 

- Fonte: IDE — Instituto de Desenvolvimento da Educação. A comunicação familiar.  Texto publicado no Portal da Família, em 25/11/11; Ser feliz é uma decisão, Sidney Fernandes.

março | 2022

MATÉRIA DE CAPA

RIE – março/2022

A família é nosso primeiro e mais íntimo microuniverso

Lista completa de matérias

 Pela harmonia universal

 Carta ao Leitor – março/2022

 Sou incorrigível?

 A vida tem remédio – Entrevista com Teodoro Uberreich

 Os desafios do discipulado — Jesus e a decisão

 O sucesso psicográfico de uma obra inacabada

 Espiritismo e Ciência

 Esperança raciocinada

 Família: conversar é preciso

 Pais dificultosos

 Despertamento espiritual: algumas considerações

 “A Gênese”: método e ordem das matérias no Programa da Doutrina (Parte III)

 Vida no planeta Vênus

 Crianças depois da morte

 Quero ter uma vida nova. Isso me é possível?

 Diversidade

 Inveja

 Bendita obra pioneira, 90 anos depois

 Intercâmbio mediúnico e animismo

 A missão do Codificador

 A volumosa correspondência de Allan Kardec

 À procura de Deus

 Educação sob os holofotes