Agosto | 2019

Família: oficina de reparação

Temi Mary Faccio Simionato |

temi_mary@yahoo.com.br

É no lar que encontraremos o adversário de ontem convertido em parente próximo.

 

Da montanha de luz, a alma contempla o vale escuro que lhe compete trabalhar na aquisição de valores imperecíveis para voos mais altos. Sob o prisma adequado à nossa justa ascensão, apreciaremos aspectos da luta, em que iremos trabalhar um rico e profundo material para a conquista dos princípios mais elevados, através de sofrimentos e conflitos naturais, que são as experiências as quais partilharemos na vida do lar. Nele, encontraremos a escola que edificará nossas almas e o amor que agirá com o sentimento nobre, convocando-nos à compreensão e à generosidade diante de todos que caminham conosco. Neste santuário em que a bondade de Deus nos situa, recebemos o nosso primeiro mandato de serviço cristão. É no lar que encontraremos o adversário de ontem convertido em parente próximo.

Podemos entender, então, que a família consanguínea é lavoura de luz da alma, dentro da qual vencem aqueles que se revestem de paciência e renúncia, aprendendo o respeito, a ternura de amar sem exigir reciprocidade, erguidos em estrutura sólida do exemplo de desvelo, compaixão, amor, cooperação e bondade. Assim, nos habilitaremos a servir com vitória as grandes experiências.

Os laços de família vão além da herança genética. Para a Doutrina Espírita, a família é oficina de reparação, onde esses laços serão fortalecidos nas diversas oportunidades reencarnatórias, através da função educativa e regenerativa da vivência sadia, pautada nos princípios morais e de justiça. Para isso, é preciso respeitar o lar como local sagrado, onde viveremos com nossos familiares, não permitindo que se transforme em lugar de vibrações negativas e posturas inadequadas.

No mundo atual, assistimos a disputas, sofrimentos e aversões familiares, quando nos deixamos levar pela ambição, ciúmes e egoísmo dentro do próprio recinto doméstico. Porém, seja qual for o tipo de família em que cada um de nós esteja situado, cumpre-nos o dever do amor filial e fraternal, mantendo a gentileza e a educação no trato com todos que vivem conosco. Esta postura ameniza as lutas que enfrentaremos lá fora, onde não existe o respeito e o aconchego do lar, cumprindo, assim, as tarefas que ficaram na escuridão dos equívocos passados. A família bem estruturada em bases cristãs terá melhores chances de minimizar os conflitos e desajustes do grupo ali estabelecido.

Asseveram os Espíritos superiores, na questão 775 de O Livro dos Espíritos, que a família é o alicerce da sociedade e nela se assenta a base da harmonia dos povos.

Toda problemática de existências anteriores ressurge, convidando-nos à abnegação e ao perdão àqueles que criam dificuldades no grupo familiar. Santo Agostinho, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 14, item 9, aclara: “Acolhei-os, portanto, como irmãos; auxiliai-os e depois, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo alguns náufragos que a seu turno, poderão salvar outros.”

No mesmo capítulo, Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, esclarece: “De todas as provas, as mais duras são as que afetam o coração. Aquele que suporta com coragem a miséria e as provações materiais, sucumbe ao peso das amarguras domésticas, esmagadas pela ingratidão dos seus.” Com esse comentário, ainda neste mesmo capítulo, Santo Agostinho analisa as dores sentidas pelos que sofrem no lar a desarmonia, as incompreensões e a ingratidão, mencionando que “somente encontrarão a coragem moral os que conseguirem entender as causas dos conflitos que dilaceram as almas mais sensíveis”.

Precisamos entender que é necessário fazer, a cada dia, um capítulo de serviço e bondade no livro de nossas relações ante a vida e de nossos semelhantes, permitindo que a alegria, a esperança, o otimismo e a fé nos iluminem a estrada, mesmo quando estivermos induzidos a libertar nossas aflições em forma de lágrimas.

Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e sintonia que conseguiremos tecer por intermédio do amor bem vivido, mas também as algemas do constrangimento e da aversão, nas quais recolheremos de volta as banalidades inquietantes que nós mesmos plasmamos de lembranças passadas, e que necessitamos desfazer à custa de trabalho, sacrifício e humildade; recursos com que faremos nova produção de reflexos espirituais passíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior conturbada e infeliz.

Segundo a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis, conforme encontramos no livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, capítulo “Amor Filial”: “O mandamento maior preconizado por Jesus recomenda que o amor deve ser incessante e inevitável, coroando-se de perdão pelas ofensas recebidas. No grupo familiar, esse amor deve ser mais expressivo conduzindo o perdão a um tão elevado grau que quaisquer ressentimentos de ocorrências infelizes se façam ultrapassadas pela compreensão das dificuldades emocionais em que os genitores viviam em razão da sua imaturidade moral, e mesmo de sutis causas que remanesciam de existências anteriores, gerando antipatia e mal-estar, que não raro se fazem recíprocos... Amar sempre é o impositivo existencial.”

Deste modo, através do exercício deste amor, somos conduzidos ao equilíbrio e à verdadeira felicidade. Compreendendo, assim, à luz da Doutrina Espírita, que o nosso lar é o primeiro estágio no aprendizado sublime; é a vida de relação proporcionando-nos meios de enfrentar as lutas e responsabilidades com o qual enriqueceremos nossos Espíritos nos momentos de testemunho, e na busca crescente do conhecimento e da paz que tanto almejamos.

 

– XAVIER, Francisco Cândido. Pronto-Socorro. Pelo Espírito Emmanuel. 1.ed. Capítulo 21. Brasília: FEB, 2015.

– XAVIER, Francisco Cândido. Família. Por Espíritos diversos. 1.ed. pags. 11, 16, 24, 73 e 79. Brasília: FEB, 2016.

– FRANCO, Divaldo Pereira. Amor imbatível amor. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 1.ed. Capítulo 61. Salvador: LEAL.

dezembro | 2017

MATÉRIA DE CAPA

RIE – dezembro/2017

O núcleo familiar é a nossa primeira escola, onde exercitaremos a resignação e a paciência, preparando-nos para o convívio social.

Lista completa de matérias

 Existem penas eternas?

 Família: oficina de reparação – CARTA AO LEITOR – Dezembro/2017

 Sentimento de Natal

 Sorriso de Esperança: há uma década levando música aos hospitais

 Regeneração da humanidade

 Pátria da educação

 Sócrates e sua influência no pensamento de Kardec

 O remédio da fé

 Família: oficina de reparação

 Por que adoecemos?

 Cordeiro de Deus

 Jesus – a luz do mundo

 Comunicações mediúnicas

 Força própria e alheia

 Energia sexual na terceira idade

 Educação moral

 A religião de cada um

 Entre vários vulcões

 Influências

 Preito de saudade ao Dr. Vítor Ronaldo Costa

 Não basta ler o Evangelho

 No basta leer el Evangelio

 NOTÍCIAS E EVENTOS – Dezembro 2017 – RIE

 Cesar Perri cumpre roteiro em Minas Gerais

 Dirigente colombiano visita São Paulo

 Grupo espírita de Caxambu comemora 100 anos

 Um menino nasceu!

 Sobre o Natal