Dezembro | 2022

Jesus — a mensagem do coração

Sidney Fernandes

1948@uol.com.br

A confiança plena mobiliza nossas forças e aumenta nossos recursos de defesa contra os males que nos afligem

 

O recurso principal para a manutenção do equilíbrio humano e a recuperação de um paciente é o bom ânimo. A confiança em Deus, em Jesus, nos bons Espíritos, nos familiares, nos médicos e em nós mesmos, traz a convicção da saúde, do bem-estar e da autoconfiança. Pessoas negativas, com ideias sinistras na cabeça, atraem Espíritos doentes e tendem a comprometer suas atitudes, bem como as saúdes física, emocional e espiritual.

 

A última folha[1]

Joana estava com pneumonia. Mudara-se com a amiga Suzana recentemente para Nova York. Pretendiam passar o Natal na Flórida, pois a viagem faria bem a Joana. Ela, entretanto, estava acamada e desanimada e ficava olhando pela janela de seu quarto, enquanto Suzana fazia tudo para animá-la. Deitada sob cobertores, via de sua janela e contava, baixinho, as folhas de velha parreira que subia pela parede. A brisa fria de dezembro levara quase todas as folhas. Joana disse:

— Três dias atrás havia quase cem folhas. Agora há somente dezenove. Quando a última folha da parreira cair, eu também partirei.

No andar de baixo morava o velho senhor Bernardo, um pintor de oitenta anos, frustrado porque não havia conseguido ainda pintar a sua obra-prima. Era um homem bom e se considerava protetor das duas jovens que viviam no andar de cima.

Ele era portador de um tumor nos pulmões que o estava consumindo e, mesmo assim, recusava-se a internar-se para tratamento adequado. Suzana foi encontrá-lo em seu mal iluminado ateliê e lhe falou a respeito das folhas da parreira:

— Temo que Joana acabe por morrer quando cair a última folha, pois está convencida disso.

Bernardo quis subir para visitar a pobre doente, mas ela estava dormindo quando lá chegaram. Olhando pela janela viram, assustados, que restavam apenas oito folhas na parreira.

Pela manhã, Suzana acordou com Joana a sacudi-la, eufórica:

— Venha ver! — falou animada.

Suzana foi até o quarto de Joana e teve uma surpresa. Mesmo com a chuva e o vento da noite anterior, uma folha estava dependurada na parreira. A última folha!

É um sinal — disse Joana. — Deus está segurando a folha para eu não morrer. Vou viver, Suzana, Deus quer que eu viva!

Os dias foram passando e a folha permanecia firme nos ramos da videira. Quando o médico examinou Joana considerou ter havido um milagre, pois ela estava sem febre e sem tosse. Se tomassem os devidos cuidados, poderiam viajar.

Após quinze dias maravilhosos ao sol e no calor da Flórida, ambas voltaram a Nova York. Tiveram a triste notícia da morte de Bernardo. Joana estava forte e animada.

Será que ainda verei a folha da parreira? — perguntou Joana.

Tenho certeza de que sim, amiga. Mas, agora preciso lhe contar. Quando Bernardo soube que você havia colocado na sua cabeça a ideia de que morreria quando caísse a última folha da parreira, ele foi ao terreno baldio, de madrugada, enfrentou o frio e a chuva e pintou a folha na parede do prédio em frente à sua janela. Foi a obra da sua vida — contou Suzana.

Abraçaram-se emocionadas e agradecidas àquele velhinho, que apressara a própria morte para que ela não levasse Joana, com a certeza de que ele havia sido muito bem recebido na vida espiritual.

Quem se dedica e se sacrifica em favor do semelhante é objeto de atenção especial da parte da divindade.

***

Como explicar a cura de Joana? Filósofos, literatos, religiosos, cientistas e médicos tentarão explicar o que aconteceu nesse sentimental texto de O. Henry. Destacarão o poder da mente humana, a inteligência da consciência invisível ou a força externa que vem de uma pílula, injeção ou, simplesmente, que é oriunda de uma simples folha de uma parreira.

 

As camareiras[2]

Estudo realizado pelas psicólogas Alia Crum e Ellen Langer, de Harvard, envolveu 84 camareiras de hotel. As pesquisadoras observaram que o trabalho de rotina que elas realizavam era a quantidade de exercício diário recomendada pela saúde pública, para prevenção de doenças e obtenção de melhor qualidade de vida.

Nenhuma das camareiras sabia que a atividade que exerciam trazia os benefícios de uma existência longa e saudável. Algumas não se exercitavam regularmente e outras não faziam nenhum exercício. Foram divididas em dois grupos, em hotéis diferentes, que, portanto, não se comunicavam.

Foi explicado ao primeiro grupo que a atividade delas se relacionava à queima de calorias e que apenas fazendo o seu trabalho já se exercitavam mais do que o suficiente. Essas informações não foram fornecidas às componentes do segundo grupo, também chamado de controle.

Um mês depois, as pesquisadoras descobriram que o primeiro grupo havia perdido em média um quilo, reduzido a porcentagem de gordura corporal e baixado a pressão arterial sistólica em uma média de dez pontos, sem praticar nenhum exercício fora do trabalho ou mudar quaisquer hábitos alimentares. O outro grupo, fazendo o mesmo trabalho, permaneceu praticamente inalterado.

 

Energia vitalizadora

Atitudes, percepções e crenças atuam sobre os nossos corpos. Se a nossa consciência pode ter efeito físico em nosso corpo e saúde, imaginemos se o Espírito for alimentado por noções de espiritualidade, que, atraindo Espíritos afins, potencializarão esses efeitos e poderão prevenir doenças e viabilizar uma vida melhor... Nossas baterias precisam estar ligadas ao Gerador Maior, para que se mantenham com a carga necessária ao equilíbrio. Males e lesões do passado determinam distúrbios em nosso organismo. Daí a necessidade da força mental e do indispensável respaldo da Espiritualidade Maior.

 

Uma questão de fé?

Vale lembrar a passagem da mulher hemorroíssa, registrada pelo evangelista Lucas,[3] que há doze anos sofria de permanente menstruação. Depois de gastar muito dinheiro com tratamentos inócuos, procurou Jesus em uma de suas pregações. Por estar menstruada e, segundo o judaísmo, impura, não tinha coragem de dirigir-se a ele e expor seu mal. A solução por ela encontrada foi aproximar-se por trás de Jesus e tocar de leve em suas vestes. Imediatamente sentiu a interrupção do fluxo de sangue: estava curada. Jesus imediatamente percebeu o ocorrido e perguntou quem o tocara. Nesse momento, a mulher apresentou-se diante dele e contou o ocorrido.

— Tem bom ânimo, filha. Vai em paz. A tua fé te salvou.

Certamente, não foram as roupas de Jesus que a curaram, mas elas se tornaram instrumentos para que a mulher assimilasse a sua energia em favor da cura. A confiança plena mobiliza nossas forças e aumenta nossos recursos de defesa contra os males que nos afligem. No entanto, é fundamental que estabeleçamos a sintonia com o Sagrado.

 

Simeão e o menino

A Simeão havia sido relevado por Espíritos superiores que não morreria antes de ver o Cristo.[4] Quando Jesus completou quarenta dias de vida, foi levado por seus pais ao templo para cumprir os deveres do culto judaico. Ao ver Jesus nos braços de Maria, Simeão reconheceu o Cristo do Senhor imediatamente, emocionou-se e pediu licença, respeitoso, para tomar a criança em seus braços. Então proclamou:

— Agora, Senhor, segundo a tua palavra, despede em paz a teu servo, pois meus olhos já viram o salvador, que fizeste surgir à vista de todos os povos, como a luz para ser mostrada às nações, e para a glória de Israel.

Aquelas palavras soaram estranhas aos pais de Jesus. Não, porém, para aquele ancião de Jerusalém. Para ele, uma longa espera havia chegado ao fim, pois havia conhecido o Messias, o mensageiro divino tão ansiosamente aguardado pelo povo judeu. Simeão pediu licença e permaneceu mais algum tempo com Jesus. Com o grande missionário nos braços, uma dúvida assaltou sua alma:[5]

— Por que o enviado celeste nascera filho de um carpinteiro, num país tão pobre, distante dos poderes do mundo?

Tomado de angústia, depois de longo intervalo, Simeão indagou em lágrimas:

— Dize-me, ó Divina Criança, onde representarás os interesses de nosso Supremo Pai?

O tenro menino ergueu, então, a pequenina destra e bateu, muitas vezes, naquele peito envelhecido que já se inclinava para o sepulcro. Naquele momento, Maria aproximou-se e tomou Jesus em seus braços maternos. Somente após a morte do corpo, Simeão veio a saber que Jesus não o deixara sem resposta. O Infante Sublime, no gesto silencioso, quisera dizer que não vinha representar os interesses do Céu nas organizações da Terra. Vinha da Casa do Pai justamente para representá-lo no coração dos homens.[5]

 

A mensagem do coração

Se atribuir um novo significado a um placebo pode até salvar uma vida, o que diríamos se colocássemos toda a nossa energia, de forma consciente e intencional em Jesus, o maior poder magnético e espiritual que esteve na Terra? Jesus é o divino médico e o bálsamo das almas, que se reveste de suave magnetismo para representar o toque de Deus em nossas vidas.

Na noite tormentosa do sofrimento, nos dias de dificuldade, de incompreensão, de ambição e de intolerância, Jesus sempre fala ao nosso coração. Se nele confiarmos, seguirmos seus passos e suas recomendações, tudo será possível e sempre será Natal, porque nos aproximaremos dele, tanto quanto ele, por intermédio de seus generosos mensageiros, sempre continuará perto de nós. Quando amamos, é Natal!

 

  1. HENRY, O. Pseudônimo de William Sidney Porter. Conto The last leaf (A última folha). Editora Hedra, 2010.
  2. DISPENZA, Dr. Joe. Você é o placebo. Citação do texto de A.J. Crum e E.J. Langer, “Mind-Set Matters: Exercise and the Placebo Effect”. 4.ed. CITADEL Grupo Editorial, 2022. p. 76.
  3. Lucas, 8:43–48.
  4. Lucas, 2:26.
  5. XAVIER, Pontos e Contos. Pelo Espírito Irmão X. FEB, 1950. “Simeão e o menino”. Edição virtual. Cap. 25. p. 73.

dezembro | 2022

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