Outubro | 2021

Nas ofertas de reuniões de estudos dos centros, torna-se indispensável a inclusão das Obras Básicas, orientando-se os estudos diretamente nelas

Kardec é o “começo”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

acperri@gmail.com

Com atividades múltiplas e muito intensas, o Codificador inspira métodos de estudo que priorizem a indispensável leitura das Obras Básicas

 

Pode parecer redundante, mas reavivar o papel de Allan Kardec e de suas obras é sempre oportuno e necessário, notadamente no mês em que nasceu: a 3 de outubro de 1804.

Após viver a experiência de professor, tradutor, interessado em temas emergentes na época como o magnetismo, entrou em contato com os fenômenos das chamadas “mesas girantes”.

Como intelectual, portador de uma dose de ceticismo, e visão de arguto observador, rapidamente superou a etapa inicial de envolvimento com os fenômenos e passou a centralizar sua atenção na análise do conteúdo das informações que emanavam dos chamativos fatos ou efeitos pois, necessariamente, “haveriam de ter uma causa”.

A partir da publicação de O Livro dos Espíritos, rapidamente se sucedem outras obras, naturalmente, um desdobramento aprofundado e com sentido prático, a partir das quatro grandes partes da obra pioneira. Do conjunto se destacam aquelas que são consideradas as obras básicas do Espiritismo: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

Simultaneamente, o lúcido Kardec dá início à Revista Espírita, funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e empreende viagens para intercâmbio com grupos espíritas nascentes pelo interior da França e da Bélgica.

Num prazo curto de tempo, com atividades múltiplas e muito intensas, Allan Kardec deu início à Doutrina, à imprensa, a uma instituição e a uma movimentação de intercâmbio e compartilhamento de ideias e de experiências. Todas essas ações fazendo jus à adjetivação “espírita”, no conceito por ele criado.

Kardec realmente foi o começo!

A propósito da palavra e do enunciado acima citados, lembramos que neste ano completam-se 50 anos da campanha “Comece pelo Começo”. Então, neste ano, temos um marco histórico!

A campanha foi idealizada por Merhy Seba, publicitário muito dedicado ao Espiritismo, e tem por foco a valorização das obras da Codificação Espírita, de Allan Kardec, com indicação ao estudo e conhecimento da Doutrina Espírita: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

Historicamente, a campanha “Comece pelo Começo” foi aprovada no final do ano de 1971 pelo Conselho Metropolitano Espírita da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (atual USE Regional de São Paulo). Este tinha como presidente Ignácio Giovinne, e vice-presidente Attílio Campanini. Da equipe da Divulgação do CME participaram: Merhy Seba, Agostinho Andreoletti, Apparecido Onofre Belvedere, José Meciano, José Domingos, José do Prado, Lionel Motta e Zulmiro dos Santos. No início de 1972 a campanha já havia sido implementada em nível da Capital. Naquela época, assistimos a exposição de Merhy Seba sobre o tema na II Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo (COMJESP), em Marília, em abril de 1972.

Naquela oportunidade, fomos a esse evento para acompanhar algumas atividades e também para buscar Divaldo Pereira Franco que, logo em seguida, teria palestras em Araçatuba.

A referida campanha nos interessou porque à época éramos presidente da União Municipal Espírita de Araçatuba (atual USE Intermunicipal de Araçatuba) e intensificaria nossos esforços de divulgação.

Depois de aprovada pelo Conselho Deliberativo Estadual da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, a marcante campanha foi lançada em nível estadual no ano de 1975. Foram publicados cartazes e fôlderes definindo seu objetivo e apresentando uma síntese das obras de Kardec.

Portanto, entusiasmamo-nos e colaboramos na disseminação dessa campanha em nossas atuações em nível de Araçatuba e depois em abrangência estadual, nos períodos em que integramos a direção da USE-SP.

Na década inicial deste século, colaborando com Nestor João Masotti, que veio a ser secretário-geral do Conselho Espírita Internacional, participamos da difusão dessa campanha em outros países, tendo ocorrido a tradução para o espanhol, francês e inglês com finalidade de apresentá-la em algumas publicações e em ilustrações de palestras.

Em nível nacional, a campanha “Comece pelo Começo” foi aprovada pelo Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira durante nossa gestão como presidente, em reunião de novembro de 2014.

À vista da proliferação de livros espíritas — e com a influência de vários modismos —, criando desfocagens sobre a literatura básica e nas ações a ela relacionadas, e também pelo fato de que muitos cursos se baseiam em material apostilado, torna-se muito importante que os centros e o Movimento Espírita deem prioridade para a divulgação e o estímulo à leitura e ao estudo das Obras Básicas do Espiritismo.

Os espíritas, incluindo os neófitos, devem ser orientados para o manuseio e a leitura diretamente nos livros. Nas palestras públicas dos centros, deve-se criar o hábito de orientar os expositores para que citem as obras de Allan Kardec. Nas ofertas de reuniões de estudos dos centros, torna-se indispensável a inclusão das Obras Básicas, orientando-se os estudos diretamente nelas.

No histórico encontro inicial de Chico Xavier com o Espírito Emmanuel, nos idos de 1931, esta entidade alertou-o sobre a disciplina e para que sempre permanecesse fiel a Jesus e a Kardec. Nas reuniões públicas do referido médium, em Pedro Leopoldo e em Uberaba, as leituras para nortear os estudos eram sempre O Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo.

Evidentemente não foi coincidência o fato de o Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, ter elaborado obras que especificamente homenagearam o Centenário das Obras Básicas: Religião dos Espíritos (sobre O Livro dos Espíritos), Seara dos Médiuns (sobre O Livro dos Médiuns), Livro da Esperança (sobre O Evangelho segundo o Espiritismo), Justiça Divina (sobre O Céu e o Inferno).

Como Espírito, Bezerra orienta para o estudo das obras do Codificador. Na histórica mensagem “Unificação”, psicografada por Francisco Cândido Xavier em 1963, ele cita Kardec em sete parágrafos, como o trecho:

“(...) estabeleçamos em cada lugar, onde o nome do Espiritismo apareça por legenda de luz, um grupo de estudo, ainda que reduzido, da Obra Kardequiana...”

No mês em que Allan Kardec é rememorado no movimento espírita, é oportuna a valorização ao estímulo pelo estudo de suas obras, ou seja, “comece pelo começo”!

 

  1. CARVALHO, Antonio Cesar Perri. Centro espírita. Prática espírita e cristã. Cap. 6.2. São Paulo: USE, 2016.
  2. Idem. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 2.16. Araçatuba: Cocriação, 2021.

outubro | 2021

MATÉRIA DE CAPA

RIE – outubro/2021

Todo espírita deve ter as Obras Básicas como ponto de partida

Lista completa de matérias

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 Carta ao Leitor – outubro/2021

 A didática de Deus

 O problema da obsessão e o tratamento na casa espírita (Parte 2) – Entrevista com Suely Caldas Schubert

 O banquete dos publicanos

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 Na proteção do Espiritismo

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