Agosto | 2023

Lei de reprodução

Marcus Flavius M. Magliano

marcus.magliano@gmail.com

A reprodução dos seres vivos é uma lei natural? — Isso é evidente; sem a reprodução o mundo corpóreo pereceria (“O Livro dos Espíritos”, questão 686)

 

Reprodução, em Biologia, refere-se à função através da qual os seres vivos produzem descendentes, dando continuidade à sua espécie. É o mesmo que multiplicação, repetição, renovação ou transformação.

Assim, reproduzir-se é o mesmo que multiplicar-se; especialmente, animais e vegetais multiplicam-se.

Portanto, o mecanismo reprodutivo é importante principalmente para dar continuidade às espécies e aumentar o número de indivíduos. Esse processo de replicação é vital e pode ocorrer de diversas maneiras, nas mais diferentes formas de vida. A capacidade de reproduzir-se é uma das características que permite distinguir os seres vivos dos não vivos, pois aqueles são capazes de gerar descendentes.

 

Conceituação espírita

Em O Livro dos Espíritos,[1] Allan Kardec recebe importantes orientações sobre o tema nas questões 686 a 701, que reproduzimos e discutimos a seguir:

  1. A reprodução dos seres vivos é uma lei natural? — Isso é evidente; sem a reprodução o mundo corpóreo pereceria.

Nas questões subsequentes da citada obra, o nosso honorável Mestre Lionês nos traz, ainda, mais esclarecimentos do plano espiritual superior:

  1. Se a população seguir sempre a progressão constante que vemos, chegará o momento em que ela se tornará excessiva na Terra? — Não. Deus a isso provê, mantendo sempre o equilíbrio. Ele nada faz de inútil. O homem que só vê um ângulo do quadro da Natureza, não pode julgar a harmonia do conjunto.

Sobre a população da Terra, ensinam os Espíritos — e é de conhecimento até dos materialistas — que a reprodução dos seres vivos é uma lei natural, mesmo assim, por estarmos diante de uma Lei de Deus (imutável), a população da Terra jamais se tornará excessiva, pois a própria Natureza se encarrega de manter o equilíbrio necessário.

Na obra As Leis Morais,[2] Rodolfo Calligaris cita o Prof. Herculano Pires: “Na proporção em que cresce a população, a Ciência e a técnica aumentam as possibilidades de produção e de aproveitamento de regiões inabitadas.” Enquanto o homem destrói de um lado, inúmeros outros estudam, pesquisam e trabalham na criação de processos para a manutenção do bem-estar e do progresso da humanidade.

Abordando o tema da “Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças”, o grande Mestre Kardec nos esclarece novamente em O Livro dos Espíritos:

  1. Há neste momento raças humanas que diminuem evidentemente; chegará o momento em que terão desaparecido da Terra? — Isso é verdade; mas outras lhe tomaram o lugar, como outras tomarão o vosso um dia.
  2. Os homens de hoje são uma nova criação ou descendentes aperfeiçoados dos seres primitivos? —- São os mesmos Espíritos que voltaram para se aperfeiçoarem em novos corpos, mas estão ainda longe da perfeição. Assim a raça humana atual que, por seu crescimento, tende a invadir toda a Terra e substituir as raças que se extinguem, terá também o seu período de decrescimento e extinção. Outras raças mais perfeitas a substituirão, descendendo da raça atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.
  3. Do ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual são uma criação especial ou procedem dos corpos primitivos, por via da reprodução? — A origem das raças se perde na noite dos tempos, mas como todos pertencem à grande família humana, qualquer que seja o tronco primitivo de cada uma, puderam mesclar-se e produzir novos tipos.
  4. Qual é, do ponto de vista físico, o caráter dominante e distintivo das raças primitivas? — Desenvolvimento da força bruta, em detrimento da intelectual. Atualmente dá-se o contrário: o homem faz mais pela inteligência do que pela força física, e, no entanto, faz cem vezes mais, porque colocou a seu serviço as forças da Natureza, o que não fazem os animais.

Em resumo, podemos afirmar que, do ponto de vista do Espiritismo, fundamentado na reencarnação, embora com a certeza de que as raças humanas, por um processo de sucessão, desaparecerão e darão lugar a outras raças, mais aperfeiçoadas, os Espíritos dos homens são os mesmos, em constante aperfeiçoamento de novos corpos. Ninguém tem dúvida de que os civilizados de hoje “são descendentes de seres brutos e selvagens dos tempos primitivos”.

Enfocamos nas questões abaixo o “Aperfeiçoamento das Raças Animais e Vegetais”:

  1. O aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela ciência é contrário à lei natural? Seria mais conforme a essa lei deixar as coisas seguirem o seu curso normal? Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins.

692a. Mas o homem é geralmente movido, nos seus esforços para melhoramento das raças, apenas por interesse pessoal, que não tem outro objetivo senão o aumento de seu bem estar; isso não diminui seu mérito? — Que importa que o seu mérito seja nulo, contanto que se faça o progresso? Compete a ele tornar meritório o seu trabalho, através da intenção. Ademais por meio deste trabalho ele exercita e desenvolve sua inteligência, e é sobre este aspecto que tira maior proveito.

O desenvolvimento da engenharia genética, criando plantas e animais transgênicos, encontra apoio na Doutrina Espírita, já antecipada na questão 692: “Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins.”

Ainda que se trate de assunto controverso, devido às imperfeições da tecnologia atual, a manipulação em análise pode trazer benefícios à humanidade, aumentando as fontes de alimento e medicamentos, com a melhoria consequente das condições humanas, no que se refere à nutrição e à saúde, possibilitando uma redução gradativa dos problemas atuais.

 

Obstáculos à reprodução

  1. Que pensar dos usos que têm por fim deter a reprodução, com vistas à satisfação da sensualidade? — Isto prova a predominância do corpo sobre a alma, e quanto o homem está imerso na matéria.

Sobre esta questão, comenta Rodolfo Calligaris: “No que tange ao controle da natalidade humana, objeto, hoje, de complexas pesquisas nos campos da Biologia, da Genética, da Farmacologia, da Sociologia etc., e de acalorados debates entre teólogos e moralistas de várias tendências, a Doutrina Espírita nos autoriza a afirmar que, em havendo razões, realmente justas para isso, pode o homem limitar sua prole, evitando a concepção. (...) É preciso se reconheça que o lar não é um estabelecimento destinado a reproduzir seres humanos em série, mas sim um santuário-escola, onde os pais devem pontificar como plasmadores de nobres caracteres, incutindo nos filhos, a par do amor a Deus, uma vivência sadia, pautada nos princípios da Moral e da Justiça, de modo que se tornem elementos úteis a si mesmos, à família e à sociedade. (...) O homem se distingue dos animais — disseram ainda os mentores da Codificação — por obrar com conhecimento de causa. Portanto, o que dele se espera não é apenas que procrie por força do instinto sexual, qual mero reprodutor, mas que, convém repeti-lo, dignifique o nome de pai ou de mãe com que Deus lhe honra a existência. (...) Assim, aos olhos de Deus, que julga segundo as intenções de cada um, é preferível ter poucos filhos e fazer deles homens de bem, a tê-los numerosos, mas abandoná-los à própria sorte, como acontece amiúde. (...) Quanto aos casais que evitam ou limitam os filhos, atendendo tão só ao comodismo e coisas que tais, obviamente se tornam tanto mais repreensíveis quanto maiores sejam as suas possibilidades de concebê-los, criá-los e educá-los.”[2]

Conclusões

Para concluir este complexo tema, uma vez que a discussão aqui trazida nos levou a refletir sobre a constituição de uma família e filhos, bem como as consequências sociais, morais e espirituais da Lei de Reprodução, buscamos o auxílio do grande mentor espiritual Emmanuel[3] quando nos esclarece: “De todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida. É pela conjunção sexual entre o homem e a mulher que a Humanidade se perpetua no Planeta; em virtude disso, entre pais e filhos residem os mecanismos da sobrevivência humana, quanto à forma física, na face do orbe. Fácil entender que é assim justamente que nós, os Espíritos eternos, atendendo aos impositivos do progresso, nos revezamos na arena do mundo, ora envergando a posição de pais, ora desempenhando o papel de filhos, aprendendo, gradativamente, na carteira do corpo carnal, as lições profundas do amor — do amor que nos soerguerá, um dia, em definitivo, da Terra para os Céus.”

Enfim, caro leitor, esperamos que as reflexões, discussões e os ensinamentos aqui trazidos nos auxiliem a compreender melhor esta importante lei moral, e este dom tão precioso da capacidade de reproduzir-se, que nos foi concedido pela Suprema Sabedoria.

 

  1. KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 1.ed. Trad. Maria Lúcia A. Machado. CELD, 2014. 3ª Parte, Cap. IV — Lei de Reprodução.
  2. CALLIGARIS, R. As Leis Morais. 8.ed. Brasília: FEB, 1998. A Lei de Reprodução.
  3. XAVIER, F.C. Vida e Sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 16.ed. Brasília: FEB, 1996. Cap. 17.

 

agosto | 2023

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