Novembro | 2021

Momentos de ternura: o Dia de Finados

Jaime Facioli

jaimefacioli.adv@uol.com.br

É válido refletir sobre as jornadas experimentadas

 

Com rapidez inimaginável chegamos novamente ao chamado Dia de Finados. Trata-se do período que vai oferecer a bênção da renovação, para prestar as homenagens que a humanidade anela com sofreguidão, para saciar a sede de sentir mais de perto os amigos, parentes e familiares que partiram na grande viagem, após terem cumprido a programação adrede estabelecida, no pretérito, na pátria espiritual.

É nessa ocasião, o dia dos “mortos” — que não morreram, mas viajaram para a pátria espiritual —, que a data aproxima mais os entes queridos com os laços de ternura e os momentos que comovem e sensibilizam as almas, refletindo e meditando os acontecimentos d’antanho. É como o vento, que ninguém sabe de onde vem e para onde vai, sem que isso nos iniba de sentir a sua presença.

Desse modo, agora é hora nova de sentir mais profundamente a presença dos que partiram, levando metade da saudade e deixando a outra metade em lembrança pelo suave perfume de sua visita.

No Evangelho do Mestre Jesus, entre todas as luzes rutilantes que lá se encontram, há um tema em particular que toca o mais profundo sentimento das criaturas, facultando uma avaliação mais serena sobre os projetos de vida, através da sabedoria haurida na herança do passado, para se projetar no castelo do futuro, tornando-os viajores mais receptíveis a cada dia que passa, nas experiências vividas, a valoração da vida, que é sempre bela, colorida e consentida.

Sob o pálio desses sentimentos, é válido refletir sobre as jornadas experimentadas, como lições de vida inscritas no evangelho redivivo do Divino Rabi da Galileia, para se cumprir retamente com os deveres filiais de honrar pai e mãe, máxime enquanto se tem a presença deles fisicamente ao lado daqueles a quem Deus confiou a sua guarda, a fim de que, quando a saudade tomar conta dos corações entibiados, se esteja pronto para reviver o amor que eles dedicaram aos corações dos que ficaram e se alegrarem pelos momentos vividos em sua intimidade.

Trata-se em verdade da efeméride da celebração da vida eterna, homenagem àqueles que já fizeram a grande viagem. É o dia dedicado ao amor, porque amar é sentir que aqueles a quem devotamos nossa estima jamais morrerão. Por isso, morrer é renascer para alcançar a vida além da vida; é como se morresse a semente pelo nascimento da flor, pois o homem, na viagem comemorativa do dia dos mortos, renasce para Deus, como se a anunciar que em toda morte há vida nova e em abundância.

Sem contradita, concebe-se que é triste o momento da partida dos entes queridos que voltam à pátria celestial. Contudo, tristeza maior é ver irmãos de caminhada morrendo por antecipação, de desgosto e de solidão, matando-se no fumo, na bebida. Trata-se de maus procedimentos, que acabam com o corpo, a veste concedida por Deus para a grande travessia do mar bravio da existência. Devagar e lentamente o ser se suicida, pois se morre um pouco a cada dia que passa, sem aproveitar a bendita oportunidade da reencarnação.

Nesse sentido, assevera-se que a efeméride desperta naqueles que ficam o desejo de abraçar os que partiram, e outra vez, rasgar o infinito para descobri-los, na imensa vontade de retroceder no tempo, assegurando a jornada da reencarnação, de maneira a tocar nos que partiram, em especial porque o Espírito é composto de matéria na quintessência, mas a sua presença se pode sentir ao se comunicar na intimidade das almas, sob o auspicio da questão 459 de O Livro dos Espíritos.

A propósito, quiçá, não seja por outra causa, o ideário do Padre Juca onde se dessedentam esses pensamentos, quando declama em prosa e verso, em linhas gerais: “Essa lágrima cristalizada, distante e intocável, essa saudade machucando o coração, esse infinito rolando sobre a nossa pequenez, e esse céu azul e misterioso simboliza àqueles que já partiram e que viveram entre nós. Que encheram de sorrisos e de paz a nossa vida. Foram para o além deixando este vazio inconsolável que a gente às vezes disfarça para esquecer. Deles guardamos até os mais simples gestos. Sentimos, quando mergulhados em oração o ruído de seus passos e o som de suas vozes. A lembrança dos dias alegres daquela mão nos amparando, daquela lágrima que vimos correr, da vontade de ficar quando era hora de partir. Essa vontade de rever novamente aquele rosto. Esse arrependimento de não ter dado maiores alegrias. Essa prece diz tudo. Esse soluço que morre na garganta, e há tanta gente morrendo a cada dia sem partir. Esta saudade do tamanho do infinito caindo sobre nós. Essa lembrança dos que foram para a eternidade. Oh! Meu Deus. Que ausência tão cheia de presença. Que morte tão cheia de esperança.”

Nesse arrimo, considerando que na vida nada acontece por acaso, mas por uma causa, o certo é que a efeméride em análise é a celebração da vida eterna, porque o Senhor da Vida concede às suas criaturas tudo de que necessitam e não tudo aquilo que se deseja.

Assim, vale sonhar que se um dia, ao acordar, encontrássemos ao lado da cama um lindo pacote embrulhado com fitas coloridas, provavelmente o presenteado o abriria antes mesmo da higiene matinal, para saciar a curiosidade. É possível também que na caixa não se encontrasse nada do agrado do destinatário e se imaginaria o que fazer com o presente aparentemente inútil. No dia seguinte, nova cena e nova caixa, com nova vontade de abri-la com sofreguidão, resultasse encontrar um objeto de agrado. Certamente seria uma lembrança de alguém distante, uma roupa que nos encantamos na vitrine no dia que nos antecedeu ou a chave de um carro novo, um ramo de flores demonstrando o afeto de alguém que nos tem apreço.

A vida é isso mesmo. Todos os dias recebemos um pacote embrulhado com alegrias e tristezas. Não sabemos o que vai nos acontecer nas horas que se seguirão, no nosso dia a dia e hora a hora, mas a Providência Divina nos convida à oração matinal, com confiança nos seus desígnios para celebrarmos a vida, bela, colorida e consentida.

Os filhos da Providência Divina são eternos e quando acordados encontram a caixa de presente pronta para as provas e as expiações. É, na verdade, uma caixa de presente surpresa enviada por Deus, contendo um dia novo, inteirinho, para ser utilizado da forma que o livre-arbítrio escolher. Não se pode esquecer que às vezes os dias vêm cheios de problemas a resolver, uma doença a enfrentar, uma partida a experimentar, uma dor pungente de uma separação material, coisas que estiolem os sentimentos d’alma com tristeza. Outras vezes, o dia vem repleto de boas surpresas, alegrias, vitórias, notícias alvissareiras, conquistas que ofertam o doce perfume da vida. Bem por isso, na alegria ou na dor, o importante é que, todos os dias, Deus prepara aos seus filhos, enquanto “dormem”, o presente do dia seguinte, com fitas multicoloridas para que suas criaturas despertem com um presente.

O presente do verbo presentear no nosso tempo presente, não será o que mais se deseja para melhor atender a vaidade ou o egoísmo que ainda grassam os viandantes, mas será o presente que seus filhos mais necessitam para atender a lei de progresso. Assim será o mimo que enriquecerá os viajores do tempo, na linha da generosidade, da caridade, da solidariedade, servindo de arrimo para o crescimento, moral, ético e espiritual em direção aos esplendores celestes.

Sob esses cânones, as oportunidades ensejam examinar com cuidado o presente da Divindade, recebendo-o com amor, resignação e alegria, porque Deus não comete enganos na remessa de seus presentes. Se hoje não veio o presente que se esperava, certamente o exercício da paciência dará a oportunidade de aguardar o novo alvorecer, trazendo aquilo que acalentará os corações em busca da felicidade.

novembro | 2021

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