Julho | 2022

O esclarecedor e os recursos energéticos a seu dispor

Waldehir Bezerra de Almeida

waldehir.almeida@gmail.com

A palavra do esclarecedor deve enobrecer o diálogo, ser carregada de vibrações fraternas combinadas com a energia da fé

 

No capítulo 24 do livro Desobsessão, o autor espiritual André Luiz ressalta a importância que tem o esclarecedor na reunião de desobsessão. Ditou ele ao inesquecível médium Francisco Cândido Xavier: “Na equipe em serviço, os médiuns esclarecedores, mantidos sob a condução e inspiração dos Benfeitores Espirituais, são os orientadores da enfermagem ou da assistência aos sofredores desencarnados. (...) Naturalmente que a esses companheiros compete um dos setores mais importantes da reunião.” (Grifamos.)

Os recursos essenciais e determinantes nas reuniões de desobsessão para o esclarecedor obter os melhores resultados na ajuda aos desencarnados são: a , o pensamento, a fala, a prece e o passe. Faremos, a seguir, alguns comentários sobre cada um desses fulcros energéticos.

 

A fé

O apóstolo Paulo de Tarso em sua carta aos Hebreus (11:1) assim definiu a fé: “A fé é a posse antecipada daquilo que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se veem.”

Numa reunião de desobsessão, normalmente o esclarecedor, ou dialogador, nada vê do que se passa no plano espiritual. Condição ideal para que tenha condições de manter-se sintonizado com a entidade que atua sobre sua mente, inspirando-o a servir evangelicamente ao desencarnado que se manifesta expondo sua condição de sofredor, desconhecendo, muitas vezes, o que se passa com ele. Nesse momento é imperativo ter fé naquilo que não vê, a certeza de que não está sozinho e que os Espíritos Superiores, que programaram e administram a reunião, estão presentes cooperando com seu esforço. São eles que o inspiram a dialogar com a entidade enferma, buscando o melhor resultado para o socorrido. São os mentores que atraem os recursos que o Mestre Jesus não nos nega jamais. Sem essa certeza o esclarecedor, ou dialogador, nada fará de concreto e duradouro.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 19, item 12, aprendemos de um Espírito Protetor conceitos muito significativos a respeito da fé humana e da fé divina. Extraímos da mensagem alguns excertos: “No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade. (...) o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe [Cristo] o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?”

 

O pensamento

“Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e pela vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites da nossa esfera corpórea.”[1]

O pensamento é o principal produto da mente, assim definida pelo Espírito Emmanuel: “Estudando-a de nossa posição espiritual, confinados que nos achamos entre a animalidade e a angelitude, somos impelidos a interpretá-la como sendo o campo de nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar.”[2]

A mente administra as funções superiores do cérebro humano, tais como a razão, a memória, a inteligência, a emoção e, por fim, o pensamento. Ela tem múltiplas funções, estando entre elas: aceitar, aprender, compreender, escolher, guardar, perceber, recolher, repelir, verificar etc. Porém, a sua função mais importante é pensar.

O atento esclarecedor, em conversação com o Espírito socorrido, lembrará que o seu pensamento se expressa em ondas eletromagnéticas, conduzindo a energia socorrista de que necessita o Espírito amparado. Ao mesmo tempo estará envolvido pela onda de pensamentos que o mentor responsável por aquele momento lhe emite, intuindo a que diga e faça o melhor. É o momento de exercitar a fé humana, acreditando que é capaz de ajudar em nome de Jesus, socorrendo-se, ao mesmo tempo, da fé divina.

 

A fala

“Os elementos psíquicos que exteriorizamos pela boca são potências atuantes em nosso nome, fatores ativos que agem sob nossa responsabilidade, em plano próximo ou remoto, de acordo com nossas intenções mais secretas.”[3]

Essa é uma das razões para que o esclarecedor busque aprimorar sua fala em todas suas nuances, para mais eficientemente esclarecer os desencarnados conturbados, equivocados e vazios de esperanças. Não devemos esquecer que a palavra é o meio pelo qual oferecemos amparo àquele com quem dialogamos, exortando-o a dar os primeiros passos na senda do recomeço. Não tenhamos dúvidas de que os nossos interlocutores desencarnados comparecem sedentos de uma fala de esclarecimento sobre a dinâmica da vida no plano no espiritual, desejando compreender o que se passa com eles e aliviar suas dores. O verbo, em todos os momentos de nossas vidas, tem a missão de edificar, esclarecer e consolar. A palavra é um excitante condicional tão real quanto a ideia que representa. Emitida com veemência, convicção e amor conduz energia e modelos felizes, com a força suficiente para expulsar quadros sombrios que mourejam no campo mental de quem a ouve, facilitando o afloramento da esperança e da felicidade na criatura angustiada.

Não é sem fundamento que o médico André Luiz, ao estudar a gênese da palavra, no livro Evolução em dois mundos, chegou à conclusão que com ela nasce a nossa responsabilidade perante a vida:[4]

“Conforme estudamos na noite de hoje, a palavra, qualquer que ela seja, surge invariavelmente dotada de energias elétricas específicas, libertando raios de natureza dinâmica. A mente, como não ignoramos, é o incessante gerador de força, através dos fios positivos e negativos do sentimento e do pensamento, produzindo o verbo que é sempre uma descarga eletromagnética, regulada pela voz. Por isso mesmo, em todos os nossos campos de atividade, a voz nos tonaliza a exteriorização, reclamando apuro de vida interior, de vez que a palavra, depois do impulso mental, vive na base da criação; é por ela que os homens se aproximam e se ajustam para o serviço que lhes compete e, pela voz, o trabalho pode ser favorecido ou retardado, no espaço e no tempo.”[5]

Logo, a palavra do esclarecedor deve enobrecer o diálogo, ser carregada de vibrações fraternas combinadas com a energia da fé. Exalada com a energia do amor fraterno, disciplinará o comportamento de quem se encontra em desespero e desobediente aos padrões da boa conduta.

No livro Nos Domínios da Mediunidade, capítulo 7, Raul Silva, sob a influência do Espírito Clementino, ao chamar Libório, Espírito desencarnado em sofrimento, de irmão, comove-o profundamente, pois as “(...) palavras foram pronunciadas com tamanha inflexão de generosidade fraternal que o hóspede não pode sopitar o pranto que lhe subia do âmago. Durante todo o atendimento, percebeu-se que (...) não eram as palavras a força que o convencia, mas sim o sentimento irradiante com que eram estruturadas”.

Podemos concluir dizendo que a mente constrói o diálogo e o coração dá o colorido e a temperatura à palavra a ser proferida. “(...) Porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lucas, 6:45).

 

A prece

A prece intercessora é um recurso que o esclarecedor adotará no momento certo para complementar o socorro que esteja prestando ao desencarnado. Assim sendo, entrará mais intensamente em contato com as forças superiores, carreando fluidos balsamizantes para seu assistido que se encontra em desespero. Sua vontade sincera aciona a força do seu pensamento, e rogará objetivamente que o Alto atenda ao irmão, socorrendo-o nas suas necessidades primordiais naquele instante. Em se tratando de um Espírito rebelde, recalcitrante, que não demonstre nenhum interesse em receber a ajuda que lhe é ofertada, pense-se em recursos de contenção e exaustão de suas energias para que adormeça e seja conduzido pelos enfermeiros do espaço.

“A súplica da intercessão é dos mais belos atos de fraternidade e constitui a emissão de forças benéficas e iluminativas que, partindo do Espírito sincero, vão ao objetivo visado por abençoada contribuição de conforto e energia.”[6]

A prece intercessora é um recurso que o esclarecedor adotará no momento certo para complementar o socorro que esteja prestando ao desencarnado

 

O passe

Neste item limito-me a invocar o sábio Espírito Manoel Philomeno de Miranda: “Os passes, durante a doutrinação dos Espíritos, devem ser usados com moderação e cautela, somente quando sua aplicação seja indicada. (...). Devemos ter sempre em mente que, quando o Espírito incorpora no médium dá-se uma imantação e através do choque anímico começa a fluir energia num circuito de ida e de volta, do médium para o Espírito e desse para aquele, (...). Ora, se o nível de energia estiver bom, isto é, a comunicação do médium se expressando equilibrada e controladamente, não há necessidade alguma de passes, não sendo de estranhar que estes possam ser mais prejudiciais que úteis, por constituírem uma energia externa nem sempre bem dosada e corretamente aplicada. Imaginemo-la em excesso: poderá causar irritação; imaginemo-la aplicada com uma técnica dispersiva: agirá no sentido de desimantar, podendo arrefecer a energia da comunicação, afrouxar os contatos mediúnicos e até fazer cessar a transmissão da mensagem.”[7]

 

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4.ed. 1.imp. Brasília: FEB, 2013. Questão 662 — Comentários de Allan Kardec.
  2. XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, Cap. 1.
  3. Idem. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, cap. 97.
  4. Idem. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. Brasília: FEB, cap. 10.
  5. Idem. Entre a terra e o céu. Pelo Espírito André Luiz. Brasília: FEB, cap. 22.
  6. Idem. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, cap. 17.
  7. PROJETO MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA. Qualidade na prática mediúnica. Salvador: LEAL, Terceira parte (Passes).

julho | 2022

MATÉRIA DE CAPA

RIE – julho/2022

De que recursos dispõe o esclarecedor na reunião de desobsessão?

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 Juventude — alertas sobre contextos sociais e espirituais

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